tag:blogger.com,1999:blog-81092335338197498102024-02-19T02:37:53.549-08:00CRISE - GeMarxProdução vinculada ao Grupo de Estudos Crise - GeMarx da Universidade do Estado da Bahia - Campus Caetité. O Blog CRISE - GeMarx tem objetivo de aproximar estudantes, professores e comunidade em geral no debate sobre o conflito capital-trabalho. Tendo como foco principal a crise estrutural da sociedade capitalista e seus desdobramentos em greves, ocupações, confrontos sociais, guerras, luta pela terra...Marcelo Torreãohttp://www.blogger.com/profile/06539600201579583277noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-72427465987466010202023-02-24T14:56:00.000-08:002023-02-24T14:56:03.329-08:00Sobre pares dialéticos e ouro de tolo: “e se a pedra filosofal tivessem, ainda o filósofo faltava à pedra”<blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0 0 0 40px; padding: 0px;"><p style="text-align: left;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: right;">Prof. Dr. Wagnervalter
Dutra Júnior</span></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">UNEB/GPECT/PPGELS<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O mito romano do deus
Jano mostrava um deus com duas faces que olham em sentido oposto. As duas faces
sinalizam equilíbrio, dualidade, oposição. Sol e Lua, feminino e masculino,
juventude e velhice; e, contemporaneamente, poderíamos lembrar de um
determinado par dialético, de um oposto em que a potência/força de um está no
outro, e, também, a sua negação; são capital e trabalho. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O filósofo grego,
Heráclito de Éfeso, entendia que a realidade estava em constante devir
(transformação), e a sua dinâmica, como tudo mais que existe, não pode escapar
a esse movimento, o que quer dizer que, desde o pré-socráticos (um determinado grupo
de filósofos gregos que antecederam Sócrates, que por suas preocupações com o estabelecimento
de uma cosmovisão mais ampla, ficaram conhecidos como pensadores originários),
podemos inferir que as <i>forças</i> que estão por trás de tudo que observamos,
que fazem mover o nosso cotidiano, nunca dormem; por essa razão Heráclito nos
deixou a seguinte pergunta: “Como alguém escaparia, diante do que nunca se põe?”.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No mundo contemporâneo
esse algo que nunca se põe, insidiosamente, parece que não está por aqui; temos
a impressão de que nossas vidas se atrelam ora a forças estranhas que não
controlamos, ora a uma força de vontade que pode chegar a ser capaz de moldar
os nossos destinos. O tempo, sendo rei, é esse interregno entre o estranho que
governa – um governo do estranho – e a força de vontade que molda o destino e,
por vezes, recebe algumas doses de um estimulante denominado meritocracia, como
uma pílula mágica para a dor – ou a individualização de todas as doses do que
faz uma vida; essa foi a narrativa que implodiu os EUA numa crise de vício em
oxicodona (vide série Dopesick, disponível no streaming Star + / Star Plus). Entre
o interregno e o limbo, é possível parar o tempo e o que não se põe?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nada pode parar o tempo,
tampouco o que não descansa; todavia, a maneira como a sociedade canaliza a
força criadora da humanidade é fundamental para sabermos efetivamente que tipo
de sociedade queremos ser (?). Exemplifico: aproveitando-se das tragédias
provocadas pelas recentes chuvas no período do carnaval na cidade de São
Sebastião em São Paulo, comerciantes estavam vendendo fardos de 12 garrafas de
água de 500 ml por R$ 93,00 (noventa e três reais) (https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/02/agua-por-r-93-procon-pede-que-moradores-denunciem-precos-abusivos-em-cidades-atingidas-pelas-chuvas-em-sp.ghtml). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Que sociedade somos? Por
que nos pregam essas ideias: das forças estranhas que nos controlam – quem são
essas forças-pessoas? – ou da força de vontade individual como definidora do
destino? –, e querem nos fazer acreditar nelas? Aos que produzem a nossa
percepção de tempo – ou ao menos nossa relação cultural com ele – importa que
estas ideias sejam apreendidas como algo tão banal quanto o ar que se respira,
ou “tão natural quanto a luz do dia”. E para que? Para que não saibamos que as
forças-pessoas ocultas, que, verdadeiramente não são tão ocultas assim, e que a
força de vontade que molda o destino –
por vezes também camuflada de empreendedorismo – na verdade visa retirar da
lógica econômica maior – dos grandes poderes econômicos dessa sociedade – a
responsabilidade por qualquer tragédia humanitária, ou mesmo pela fome que em
2022 ainda assolou 33 milhões de brasileiros e brasileiras, somando ainda 125,2
milhões de brasileiros e brasileiras em situação de insegurança alimentar,
conforme relatório de Rede PENSSAM (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e
Segurança Alimentar e Nutricional) publicado pela Oxfam. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A relação capital <i>versus</i>
trabalho materializa-se nessas diferentes questões, formas e relações acima
aludidas; e o fundamento central de sua lógica é dobrar todas as coisas, pessoas
e relações à força do dinheiro (que abriga parte da condição e do caminho para
que o lucro produzido pelo conjunto da sociedade – que fica em pouquíssimas
mãos, a dos burgueses – possa ser realizado e garantido). Entretanto esse mesmo
dinheiro que, sob a forma de lucro, juros ou renda; flui para as mesmas mãos,
só existe na exploração diária do trabalhador e na revitalização da
precariedade e flexibilização do trabalho ao ponto de sintonizá-lo, à lá
uberização, à forma e lógica mais perversa de funcionar do capital no âmbito de
sua crise estrutural e permanente, sua forma/fração financeira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O capital financeiro,
pela via do poder social representado no dinheiro, chantageia todo o globo para
funcionar orquestrado às suas vontades, desejos, necessidades e imposições; e
estando seus representantes nos governos e no comando do Estado, esses capitalistas
financeiros (Paulo Guedes é banqueiro, assim como os dois últimos ministros da
fazenda anteriores a ele representam os bancos e o mercado financeiro – a exceção
é Fernando Haddad, atual ministro) – ao lado do capital produtivo que não mais
pode se dissociar das finanças –, dominam ampla e perversamente o controle do
trabalho e de sua reprodução, escravizando, terceirizando, quarterizando,
impondo formas precárias de trabalho parcial (part-time), jornadas de trabalho
vendidas parceladamente, conforme a necessidade imediata do patrão no chão da
fábrica, da escola, do comércio, do banco, da seguradora, da indústria
farmacêutica ou do complexo industrial-militar; tudo para que as bolsas de
valores sigam com as ações remunerando os parasitas e os mercados futuros
estejam garantidos na mais perversa das novas formas (re)inventadas de explorar
trabalho. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Além das formas diretas
da extração e exploração do trabalho, o capital financeiro nos explora fora da
nossa jornada de trabalho. E de que maneira? Um exemplo disso é a tributação, a
forma como os impostos são cobrados diferentemente dos super-ricos em relação
aos pobres (aqui incluídos pequeno e médio empresários). No relatório <i>A
sobrevivência do mais rico: porque é preciso tributar os super-ricos agora para
combater as desigualdades</i>, publicado pela Oxfam, é possível constatar que
Elon Musk, um dos homens mais ricos do mundo, tendo uma fortuna de mais de 200
bilhões de dólares, paga impostos de pouco mais de 3%; enquanto Aber Christine,
uma comerciante de Kampala, que comercializa arroz, farinha e soja, lucra 80
dólares por mês e paga 40% em impostos. Outros dados, do mesmo relatório, corroboram
ainda mais o nosso argumento:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“• Desde 2020, o 1% mais rico amealhou quase dois
terços de toda a nova riqueza – seis vezes mais do que os 7 bilhões de pessoas
que compõem os 90% mais pobres da humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">• As fortunas bilionárias estão aumentando em 2,7
bilhões de dólares por dia, mesmo com a inflação superando os salários de, pelo
menos, 1,7 bilhão de trabalhadores – mais do que a população da Índia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">• As empresas de alimentos e energia mais do que
dobraram seus lucros em 2022, pagando 257 bilhões de dólares a acionistas
ricos, enquanto mais de 800 milhões de pessoas foram dormir com fome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">• Apenas 4 centavos de cada dólar de receita
tributária vêm de impostos sobre o patrimônio, e metade dos bilionários do
mundo vive em países sem imposto sobre herança, aplicado ao dinheiro que dão
aos filhos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">• Um imposto de até 5% sobre os super-ricos do mundo
poderia arrecadar 1,7 trilhão de dólares por ano, o suficiente para tirar 2
bilhões de pessoas da pobreza e financiar um plano global para acabar com a
fome” (OXFAM, 2023).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Precisamos acreditar no
que acreditamos para nos convencermos de que esta forma de arranjar o mundo é a
única forma possível, surgida seja da vontade de Deus ou dos caminhos do
destino. Todavia o mundo é o mundo dos seres humanos, construídos pelas suas próprias
mãos. E não há justiça na forma como as coisas estão arranjadas nessa
sociedade. A fome não poderia sequer existir nesse século XXI, é por si só um
escândalo humanitário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O capital financeiro é
uma espécie de alquimia moderna, produzindo ouro artificial com a sua <i>pedra
filosofal</i>. A pedra filosofal, como afirma Binswanger em seu livro <i>Dinheiro
e magia: uma crítica da economia moderna à luz do Fausto de Goethe</i>, não é, <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“portanto, a substância da qual o ouro é feito, mas o
aditivo essencial, o fermento ou catalisador que <i>efetua</i> a transmutação
(ou transformação) do metal comum em precioso. O metal comum preferido para
isso era o chumbo, associado ao planeta (e portanto ao deus) Saturno. O nome
grego para Saturno é Cronos, que, por associação com a palavra <i>Chronos</i> (‘tempo’),
sugere transitoriedade. Assim, Saturno é representado em ilustrações alquímicas
por um velho com uma ampulheta e uma
foice. Relacionado a essa alquimia, o processo envolve a conversão de chumbo,
metal inferior e símbolo do transitório, em ouro, metal precioso e símbolo do
eterno [...] A alquimia é, portanto, uma tentativa do homem para escapar do
tempo enquanto ainda está nele – seu esforço para se libertar da
transitoriedade enquanto está nesta vida” (2011, p. 55).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Transmutação do tempo em um tempo onde o eterno e o
transitório estão, aparentemente, separados. Assim o capital financeiro quer
nos fazer crer, que um tempo, materializado em dinheiro, não precisa prestar
contas a nenhum tipo de existência. Volto a exemplificar: o pesquisador Marc
Chesney em seu livro <i>A crise permanente: o poder crescente da oligarquia
financeira e o fracasso da democracia</i>, expõe o poder dos grandes bancos,
algo completamente assustador. Numa série de dados referentes ao ano de 2017
ele esclarece que o banco HSBC teve resultados comparados ao PIB inglês. Os
quatro maiores bancos da França (BNP Paribas, Société Générale, o grupo BPCE e
o Crédit Agrícole) representavam 281% do PIB nacional. Nesse mesmo ano o banco
Credit Suisse, movimentou em produtos financeiros 28,8 trilhões de francos, e
correspondiam assim a 36 vezes o total do seu balanço e a 687 vezes o total dos
capitais próprios do banco de 41,9 bilhões de francos [...] A quantia era 43 vezes
maior que o PIB suíço, ou seja, 668,2 bilhões de francos em 2017,
correspondendo a 37,3% do PIB mundial (2020, p. 85). O que acontecerá quando
todo esse dinheiro “inexistente” em sua grande parte for cobrado? Quem usufrui
desse dinheiro “irreal-real”? Quais mãos são os verdadeiros ou verdadeiras
donos e donas do dinheiro no sentido de quem realmente o produz? Quantas mãos fazem-se
seus verdadeiros donos ou podem reclamá-lo?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A pedra filosofal é a mágica, o disfarce, o
convencimento. A pedra filosofal precisava, para ser “mágica”, fazer esquecer
ou obnubilar o seguinte ponto: o trabalho que tira o chumbo da terra, é o mesmo
trabalho que acha o ouro real. O que sobe à superfície? O detalhe, o parcial, o
brilho do chumbo transmutado, ou o ouro e tudo mais que parece também aportar fantasmagoricamente
à terra, por que a aparência – ideologicamente – é mais importante do que a
mão, e é justamente a mão que não é invisível que insiste em ser completamente
escondida, ignorada e negada em sua existência, que perfaz esse par dialético
que cria um mundo para o mal; todavia poderia fazê-lo pelo exato oposto. A verdadeira
<i>pedra filosofal</i> de tudo é a nossa mão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Referências<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">BINSWANGER, H. C. <b>Dinheiro e magia</b>:
uma crítica da economia moderna à luz do Fausto de Goethe. Rio de Janeiro:
Zahar, 2011.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;">CHESNEY, M. </span><b style="font-size: 12pt;">A
crise permanente</b><span style="font-size: 12pt;">: o poder crescente da oligarquia financeira e o fracasso
da democracia. São Paulo: Editora Unesp, 2020.</span></div></span>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-3219915313087189922022-07-14T16:16:00.004-07:002022-07-14T16:18:58.439-07:00“Conflitos por terra e produção artificial de sua renda no contexto da luta camponesa contra o capital: ponderações críticas”<p style="text-align: justify;"> <span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-align: right;">Wagnervalter Dutra</span></p><p style="text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-align: right;"> UNEB/GPECT</span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Nosso
ponto de partida para buscar esse concreto-pensado em movimento é: não existiria
capital sem a conversão da terra em propriedade privada (seu controle em poucas
mãos). Ao olhar para os lados nos deparamos com aquele ainda imenso acúmulo de
mercadorias, que Marx (2013), ao abrir as páginas do capital sugeriu como uma
cena que esboça a aparência da riqueza, ancorada nessa coleção de mercadorias
acumuladas. O controle da terra se impõe como marca de nascença de todas as
mercadorias, ora como a distância entre as mãos e a terra a ser cultivada, seja
a distância física ou da mediação dos meios necessários para produzir; ora como
a descoberta por Marx da fenda metabólica – levando em conta, inclusive,
elementos da química – que Foster (2012) sinalizou quando discutiu em um artigo
a ecologia da economia política de Marx.<o:p></o:p></span></p>
<span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">Em um dos tópicos do texto supramencionado,
</span><i style="font-size: 12pt;">Marx e o Raubbau capitalista</i><span style="font-size: 12pt;">, Foster (2012) relembra que em seu primeiro
ensaio político-econômico Marx discutiu o furto de madeira e as modificações
que criminalizavam um costume antigo por parte dos camponeses. A maioria dos
que estavam presos na Prússia daquele período eram camponeses presos por
recolher madeira morta nas florestas. A edificação da propriedade privada
obstaculizou um costume antigo e habitual dos camponeses, o que estava em tela
era a proteção, recorda Marx, dos direitos de propriedade dos donos da terra (e
o direito habitual dos camponeses foi completamente ignorado). </span><span style="font-size: 12pt;">O capitalismo inicia-se, recorda Foster (2012), “[...] como
um sistema de usurpação da natureza e da riqueza pública” (p. 88). Ainda no
debate sobre o furto de madeira, Marx (2017) detalha essa inversão ao domínio
da propriedade e até ao que organicamente se afasta dela em decorrência do
processo,</span></div></span>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">Para apropriar-se de madeira verde é preciso
separá-la com violência de sua ligação orgânica. Assim como isso representa um
atentado evidente contra a árvore, representa um atentado evidente contra o
proprietário da árvore [...] Ademais, se a madeira cortada for furtada de um
terceiro, ela é produto do proprietário. Madeira cortada já é madeira formada.
A ligação natural com a propriedade foi substituída pela ligação artificial.
Portanto, quem furta madeira cortada furta propriedade (MARX, 2017, p. 80 - 81).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A regulação estatal-legal da propriedade privada,
sob o comando da influência econômico-política da burguesia, já amplamente
difundida em meados do século XIX, começou modificando os hábitos em relação à
posse ou acesso aos bens da natureza, que se efetivavam de maneira comunal, no
exemplo da agora metamorfoseada coleta da madeira – que estava no chão – em
“furto de madeira”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Limitado o
acesso, a <i>máquina </i>estatal foi redefinindo a maneira como a terra tomba
sob a mediação da propriedade privada, que a inscreveu na mercantilização e,
por conseguinte, no ato em que se mediu por um quantum <i>determinado </i>de
dinheiro, passando assim a equivalente de um tempo de trabalho socialmente
necessário, mesmo sem ser mercadoria, pois não é fruto do trabalho humano. E as
mercadorias, convém recordar, carregam o duplo aspecto do uso e da troca. E
como destaca Foster (2012) a partir de Marx: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">Valor de uso era associado aos
requisitos da produção em geral e com as relações básicas dos</span> <span face=""Arial",sans-serif">homens com a natureza, ou seja, as
necessidades humanas fundamentais. O valor de troca, por outro lado, era
orientado para a busca do lucro. Isso estabeleceu uma contradição entre a
produção capitalista e a produção em geral (as condições naturais da produção)
(p. 88).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Foster
(2012) então faz menção ao Paradoxo de Lauderdale, mais evidente nos tempos de
Marx, e que se destina a demarcar essa contradição entre a produção capitalista
e as condições naturais da produção. Lauderdale era um dos primeiros
economistas políticos clássicos, e explicava que a riqueza pública consistia em
valores de uso que sempre existiram em abundância, a exemplo do ar, da água; já
as riquezas privadas baseavam-se em valores de troca e demandavam escassez. No
âmbito dessas condições, sustentava ele contra o sistema, a expansão da riqueza
privada só podia significar e andar de mãos dadas com a destruição da riqueza
pública; ao exemplificar assevera: “se as fontes de água, que anteriormente
eram livremente disponíveis, fossem monopolizadas e houvesse uma taxa nos
poços, a medida de riqueza da nação seria aumentada graças ao gasto de riqueza
pública” (LAUDERDALE <i>apud</i> FOSTER, 2012, p. 88).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sob a
inversão das duas formas do valor (uso e troca) Marx enxergou o Paradoxo de
Lauderdale como uma entre as principais contradições da produção capitalista,
cujo inteiro padrão de desenvolvimento caracteriza-se pela destruição e
desperdício da riqueza natural da sociedade (FOSTER, 2012). Por isso,
sustentando-se no químico Liebig, Marx compreendeu que quando o capital transportava
fibras, alimentos e mercadorias por longos quilômetros, significava que
nutrientes como fósforo ou potássio estavam sendo retirados do solo para virar
poluição nas cidades, não retornando à terra – os frutos da terra já foram
capturados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Cabe voltar a outro alerta de
Marx (2013), quando ele analisa a acumulação primitiva do capital – e essa perversão
da relação na forma jurídica mercantilizada que é parte dessa totalidade do
processo –, ele remete ao Direito como fonte de expropriação junto ao trabalho
já expropriado, como únicos meios de enriquecimento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">No processo real Marx (2013) é
assertivo ao expor a violência como sua base, na economia política, mais
branda, reinava o idílico. O trabalho pariu-se dessa violência, o (esse) idílico
e sua forma de criar o cândido e otimista melhor dos mundos possíveis tem a
economia política como pai e o Direito como progenitora. Transpondo o idílico
para normatizar a vida, supostamente harmoniosa nas fantasias liberais, o
Direito vela a contradição e torna-se parte da ideologia, um dos braços que a
habilita com efeitos práticos, e a torna em parte interpretada como a maneira
com que se balizam as soluções ou mediações de conflitos na sociedade; porém o
Direito, por sua natureza espelhada na forma valor, abandonou a contradição e
deitou-se com o consenso, sua ‘neutralidade’ habilita a desigualdade resignada
estampada nas relações de classe.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Alienar a terra e diretamente os
frutos da terra como propriedade foi o coroamento dessa chave aberta pela
acumulação primitiva e geral do capital, de prender para além da propriedade o
trabalho que dela já se apartou. O que a terra hoje significa ou representa
capturada pela esfera financeira? E a renda se torna fictícia assim como o
capital? – (este último já há certo tempo).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Parece que as coisas se
desprendem do todo, da totalidade, e só existem como partes, por essa razão a
financeirização nos fez acreditar que o trabalho era dispensável (a fantasia de
automatização/automação do D – D’). Cabe ao capital financeiro a pergunta: é
possível especular com commodities de mercados futuros, como a soja, ferro,
petróleo, sem a garantia do avalista disso tudo? (A mão que semeia a terra, que
minera os metais, que cava poços e extrai petróleo)?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Mas na sanha desse trabalho
aparente dispensável, que potencializa a produtividade e amplia sua capacidade
de produzir valor controlando as melhores condições, da produção à distribuição
chegando ao consumo, e auferindo uma vantagem, traduzida em renda, por parte do
portador daquele lugar privilegiado no processo, que é a terra (fonte de valor
de uso). E hoje com a financeirização – especulativa – da terra e dos frutos da
terra, como se desenham essas vantagens que a renda traduz (absoluta,
diferencial I e II) em benefício daquele controlador imediato, se ele não mais existe
diretamente, senão como personificação do capital no ramo das holdings,
corporações e demais formas de conglomerar<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>e centralizar o capital, ou seja, nos paraísos fiscais que as fusões
finanças-produção – impossíveis de dissociar como processo – não mais conseguem
disfarçar? Como negociar terras indiretamente na bolsa de valores? Garantindo,
virtual ou efetivamente, ainda que sob pressão especulativa, mais trabalho e
mais terra, para garantir o mais-valor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Se os latifúndios do Brasil
formassem um país, por exemplo, ele seria o 12º maior território do planeta,
com 2,3 milhões de km², área maior que a Arábia Saudita, é o que informa o <i>Atlas
do Agronegócio: fatos e números sobre as corporações que controlam o que
comemos</i>, publicado pela Fundação Heinrich Böll, no ano de 2018.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Baseado em dados da Oxfam, o <i>Atlas</i>,
ao discutir quem são os donos da terra no Brasil, relaciona com o contexto da
América Latina, cuja conjuntura histórica e geopolítica legou à região a pior
distribuição de terras em todo o Mundo: 51,19% das terras agrícolas estão
concentradas nas mãos de apenas 1% dos proprietários rurais. No caso
brasileiro, ocupamos o 5º lugar no ranking de desigualdade no acesso à terra, o
Brasil possui 45% de sua área produtiva concentrada em propriedades superiores
a mil hectares – o que soma míseros 0,91% do total de imóveis rurais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Tal nível de concentração
fundiária leva a um comportamento flutuante e especulativo aos próprios preços
de alimentos (queijo / leite / arroz / feijão / café, dentre outros), na medida
em que o valor de troca orienta-se pela escassez, é possível articular nesse
nível de concentração o que a maior parte da superfície de um país vai produzir
– soberania alimentar precisa ser discutida nessa fusão entre os proprietários
fundiários locais e o capital especulativo mundializado. Não apenas o que
comemos, mas o preço e a qualidade são agora controlados por essa fusão
corporativa, que laçou a terra ao braço produtivo-financeirizado das grandes
corporações que a controla direta ou indiretamente (produção agrícola para
exportar, como a soja; produção de alimentos, mineração e controle da água. O
agri-hidro-negócio é cada vez mais financeirizado). A terra e o trabalho
continuam a garantir o ‘moinho satânico’ do capital.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O processo de grilagem, fruto
das decorrências históricas da lei de Terras de 1850, que criou uma espécie de
fundo/estoque de terras públicas, permitiu aos proprietários fundiários
(coronéis), pelas suas conexões com o braço do Estado, se apropriar dessas
terras. Ainda hoje, esse estoque de terras públicas, chama a atenção o <i>Atlas</i>,
soma 10,9% da superfície agrícola do país, mas como gosta de recordar alguns
geógrafos e geógrafas, porém, não existe terra sem cercas nesse país. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A farra da grilagem e
falsificação de titulação de propriedade e apropriações irregulares foi de tal
intensidade que chegamos ao seguinte dado, conforme o Atlas da terra Brasil
2015: o país tem registrados 38 milhões de hectares de terra a mais do que a
superfície total comporta, fenômeno conhecido como beliches ‘fundiários’. O
Brasil possui 453 milhões de hectares privados, correspondendo a 53% de todo o
território nacional, 28% das terras privadas tem tamanhos que extrapolam 15
módulos fiscais e os 66 mil imóveis declarados como ‘grande propriedade
improdutiva’ perfazem estrondosos 175,9 milhões de hectares (apud <i>Atlas do
AgronegócioI, </i>2018). Quem determina o que será da terra nessa configuração
de forças econômico-políticas?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Dos 26 estados brasileiros
mais o DF, 16 contam com mais de 80% de suas terras em propriedades privadas.
Mato Grosso, vice campeão, tem 92,1% de sua área sob títulos privados e o maior
índice de latifúndios (83%). A Bahia tem 91,7% de seu território sob titulação
privada em 55% de grandes propriedades, acima de 15 Módulos Fiscais (ATLAS,
2018).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O <i>Atlas do Agronegócio</i>
ainda chama atenção sob um aspecto que merece ser considerado. Grande parte da
produção brasileira de <i>commodities</i> agrícolas está vinculada a
conglomerados de estrutura verticalizada, que controlam do plantio à
comercialização (a totalidade da produção direta e a produção indireta fora do
seu círculo acaba tendencialmente controlada quando orbita ao redor dessa
lógica). SLC agrícola (404 mil hectares), Grupo Colin/Tibra Agro (300 mil
hectares), Amaggi (252 mil), Brasil Agro (177 mil), Adecoagro (164 mil), Terra
Santa (156 mil), Grupo Bom Futuro (102 mil) e Odebrecht Agroindustrial (48 mil)
são algumas das empresas que exploram o mercado de terras, tanto para a
produção de commodities quanto para a especulação financeira. O cerrado segue
ameaçado, tendo perdido área superior à Amazônia (236 ante 208 mil hec no ano
de 2018). (ATLAS, 2018).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Tudo isso desenhado pela
pressão do capital agro-financeirizado no campo e nas redefinições das relações
de produção e trabalho – que contraditoriamente não dispensa aquela parcela que
se reproduz pela forma não tipicamente capitalista, o campesinato. A
agropecuária em escala industrial – financeira – é apontada como principal
fator de mudança do uso da terra. Entre 2000 e 2016</span><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;">, <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">[...] de acordo dados da plataforma
MapBiomas, o cultivo perene de grãos (como soja, milho e sorgo) passou de 7,4
milhões para 20,5 milhões de hectares, uma área duas vezes maior que Portugal;
a cana de açúcar saltou de 926 mil para 2,7 milhões de hectares. Já a pecuária
manteve seu reinado inconteste sobre o Cerrado, avançando de 76 milhões para 90
milhões de hectares: um território equivalente à Venezuela só de postagens”
(ATLAS, p. 15) (o gado que anda em motociatas deve gostar é dessa Venezuela).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 13pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Convém observar que o período
dessa expansão equivale ao período em que a desregulamentação neoliberal era um
projeto no país, mesmo que sob a tinta do neodesenvolvimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A expansão é em grande parte
sobre o território do Matopiba (Maranhão, tocantis, Piauí e Bahia –
agronegócio), área de 400 mil km² e que engloba a última fronteira agrícola
brasileira com 57% dos imóveis rurais nas mãos de grandes proprietários. Na
Caatinga, 93,2% das terras são propriedades privadas (ATLAS, 2018).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Postas tais questões convém
refletir sobre a renda fictícia nos termos de outro questionamento: os 38
milhões de hectares fictícios (beliches fundiários), são garantias do que senão
do processo de ampliação de commodities e de especulação sobre a terra e todos
os seus frutos? Na terra que não existe o trabalho deixa de ser encontrado,
então a lógica D – D’ nutre e retroalimenta a terra fictícia, o que muitas
vezes leva países inteiros de volta ao mapa da fome como no Brasil de
Bolsonaro. A terra pode ser fictícia, porém a fome é cada vez mais real, na
medida em que o processo do trabalho produtor de usos continua relegado na
esfera do valor que se valoriza. Por essa razão controlam até o que comemos e
como comemos, fora a produção industrial que retira componentes nutritivos do
alimento para induzir ao vício e não saciar a fome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A 3G capital, grupo controlado
por brasileiros que fundaram a Ambev, hoje AbInbev, foi crescendo o seu poder
de controlar a água, a terra e os frutos da terra. No início produzia cerveja e
passou a comprar outras corporações/indústrias do ramo alimentício, como a Burguer
King, a Heinz (que controla o grupo Kraft Foods – formou a Kraft Heiz) em
parceira com o conhecido investidor Warren Buffet; controlam hoje absurdos, a
partir da AbInbev, 25% (¼) das vendas mundiais de cerveja, 1 a cada 4 cervejas
abertas no mundo são deles. Imagine a extensão do poder de um conglomerado
dessa natureza no controle da terra e da água, basta lembrar que a fabricação
de cerveja consome imenso volume de água. Ao mesmo tempo que tomamos uma
cerveja estamos contribuindo com o processo da formação da fome ideal e real, é
a dura face da totalidade contraditória do capital (ATLAS, 2018).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Toda a atual arquitetura
institucional-estatal que pesou para capturar a terra foi traçada pelo Banco
Mundial desde o começo da década de 1990, cuja política objetivava fazer-se
pelos seguintes passos/programas: cadastro e georreferenciamento de imóveis
rurais, privatização de terras públicas e comunitárias, titulação de posses;
mercantilização da reforma agrária; o mercado de terras (Crédito Fundiário,
Banco da Terra, Nossa Primeira Terra); e a integração dos camponeses ao
agronegócio. Como apontam Resende e Mendonça (2004), esse foi o receituário do
BM para a terra ecoando o Consenso de Washington. O que essas exigências
guardavam?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Observa-se que a titulação e a
formalização jurídica da propriedade estão completamente voltadas para
inseri-las, como terra prometida, como valor de uso sob controle, num mercador
desregulado e nas mãos das finanças especulativas. O papel que os ‘beliches
fundiários’ tem a cumprir agora fazem mais sentido, todavia apenas na
irracionalidade substantiva subjacente à lógica do capital. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">‘Terras fictícias’ passeiam
por e pressionam as terras reais de quem são os reais produtores do alimento,
que também se reproduzem no âmbito contraditório de como as relações
capitalista no campo brasileiro utilizaram-se das formas não diretamente
capitalistas para sua garantia reprodutiva. O trabalho escravo ocupa que papel
na regulação da composição orgânica do capital? Já refletimos sobre isso? Ou
sua existência prova as contradições das tendências e contratendências ao
decrescimento da taxa de lucro? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Tal pressão exercida sobre o
campo aprofundou-se após o golpe jurídico-parlamentar-midiático de 2016, que ao
retirar Dilma Rousseff do poder abriu caminho para ampliar o domínio do
rentismo e das finanças sobre a terra e toda a sociedade brasileira (quantas
indústrias fechadas em decorrência dessa irracionalidade?). Por essa razão os
conflitos por terra e água explodiram no último governo, representante prático
da instalação real-concreta da ponte para o futuro de Temer (aquele era o
programa dos burgueses e latifundiários desse país). Algo que é comum e curioso
merece destaque, a saber, a usual fusão, ou melhor, personificação, dos
políticos do legislativo/executivo como latifundiários. Como exemplo; só um dos
integrantes da bancada do Boi (ruralista), o deputado Newton Cardoso (MDB de
Minas) possui 185 mil hectares em 145 fazendas – (CASTILHO, 2012).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Dados apontam o aumento de 75%
dos assassinatos no campo de 2020 para 2021 (Brasil de Fato). Em decorrência da
ação de garimpeiros e outras violências como o trabalho escravo, o Jornal
Correio Braziliense com base nos estudos da CPT, identificaram aumento de
1.100% das mortes em consequências desses combates.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A mineradores seguem apropriando-se
das terras comuns (fundo e fecho de pasto) e das nascentes no Alto Sertão
baiano, como já é conhecida a ação da Bamin, no caso do Projeto Pedra de Ferro
que engloba as regiões de Caetité, Pindaí, Guanambi e adjacências. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Associado à mineração o grande
capital Chinês se apropriou do controle da ferrovia oeste-leste (FIOL),
construída com recursos do PAC do período Lula-Dilma, e cedida aos chineses
pelo governo do Estado da Bahia pelos próximos 35 anos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O caderno Conflitos do Campo
2021, publicados pela Comissão Pastoral da Terra, registram conflitos por terra
em decorrência da pressão do capital na ocupação de terras/territórios – FIOL
serve a isso também – pelos grandes empreendimentos mineradores e pela
especulação do capital. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em Caetité, por exemplo, em
Curral Velho e Serragem, por conta da FIOL, 200 famílias estiveram envolvidas
em conflitos. Todavia a atividade de mineração responde fundamentalmente pelos
conflitos por água na região. Em Caetité registram-se nove conflitos por água
(demarcados pela categoria Barragens e Açudes), e o Projeto Pedra de Ferro da
Bamin (produção de minério de ferro) está presente em 7 registros do total de
conflitos; uma comunidade sem o registro direto da atividade geradora do
conflito e outra comunidade a tensão gerada se deu em decorrência da FIOL. O
total de famílias envolvidas em conflitos por água, para que o dinheiro
estranho de Luxemburgo (BAMIM) possam seguir lucrando, perfazem o total de 466
famílias (CPT, 2021).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O Caderno Conflitos do Campo
ainda resgata conflitos rurais em duas séries de períodos históricos
considerados, 2011/2015 e 2016/2021. Comparando os dois períodos registraram-se:
incremento de 76,34% de conflitos por terra; queda de 29,63% de conflitos
trabalhistas (que a reforma explica em parte, já que praticamente legaliza a
escravidão, ao desregular ainda mais para o capital o âmbito formal-contratual da
relação jurídica patrão-empregado); aumento de 240,40% de conflitos por água.
No total de todos os conflitos houve aumento médio de 54,13%. Os assassinatos
comparados entre a série histórica aludida cresceram 34,04%, com aumento de
55,08% de pessoas envolvidas e perfez um aumento de 376,97% na área (hectares)
em que se registraram os conflitos (CPT, 2021). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Uma série histórica sempre
crescente, acentuada pós-2016, e que em paralelo demonstra o contínuo avanço do
capital no controle da terra e da água no campo brasileiro, não sem conflitos e
resistências necessárias, ainda que limitadas pela atual conjuntura política e
de correlação de forças. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O norte e nordeste (a
periferia brasileira) seguem recordistas na concentração das ocorrências
especializadas de conflitos registrados – novas fronteiras agrícolas virão, é
possível presumir? –, com 47% no Norte e 31% no Nordeste. Da totalidade dos
conflitos as populações e categorias mais atingidas são os indígenas,
quilombolas, posseiros e sem terras com percentuais de 26%, 17%, 17% e 14%,
respectivamente. Fazendeiros e empresários são os maiores geradores de ações
que levam aos conflitos com 21,40% delas sob responsabilidade dos fazendeiros e
20,00% levada a cabo pelos empresários. Outro registro fundamental da extensão
do controle da terra pelas forças hegemônicas do capital diz respeito aos
números dos projetos de assentamentos de reforma agrária que caíram assustadoramente
de um pico de 858 projetos no ano de 2005, para apenas 2 projetos em 2019. (CPT,
2021). O projeto é do controle privatista total da terra e da água, direta e
indiretamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">É preciso redesenhar e
redefinir muitos rumos da luta camponesa, sobremodo depois da ativação do <i>necro</i>capitalismo,
que conforme Miranda é uma noção mais precisa do que necropolítica, pois essa
última soa como externalidade. A luta é pela radical subversão do
sociometabolismo do capital para que os frutos da terra se libertem da dupla
alienação a que foram submetidos: como extensão da propriedade e como distância
das mãos que o produzem. Essa é a subversão que queremos, a que destine os
seres humanos a dominarem a totalidade da produção, e não o contrário, que é
exatamente o que acontece cada vez mais hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Referências<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">Atlas do agronegócio</span></b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">: fatos e números sobre
as corporações que controlam o que comemos. Maureen Santos, Verena Glass,
organizadoras. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll, 2018.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;">CASTILHO, A. L. </span><b style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Partido da terra</b><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;">: como
políticos conquistam o território brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">Conflitos no campo</span></b><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;">: Brasil 2021 / Centro
de documentação Dom Tomás Balduíno. Goiânia: CPT Nacional, 2022.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;">MARX, K. </span><b style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Os despossuídos</b><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;">: debates sobre
a lei referente ao furto de madeira. São Paulo: Boitempo, 2017.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;">MIRANDA, G. <b>Necrocapitalismo</b>: ensaio
sobre como nos matam. São Paulo: Lavrapalavra, 2021</span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 13pt;">.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 13pt;">RESENDE, M. & MENDONÇA, M. L. Apresentação.
In: MARTINS, M. D. (org.). </span><b style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13pt;">O Banco Mundial e a terra</b><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 13pt;">: ofensiva e
resistência na América Latina, África e Ásia. São Paulo: Viramundo, 2004.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 13pt;">P.S: o presente texto foi elaborado para participação da mesa com tema: conflitos por terra e produção artificial de sua renda no contexto da luta camponesa contra o capital no âmbito da VI JURA - Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, promovida pela UESB e UESC.</span></p>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-5226246279765744032022-04-11T20:11:00.015-07:002022-07-28T14:55:39.005-07:00O espetaculoso-dinheiro metafísico: notas sobre “o” mendigo e a escravização ao fim em-si regadas a Elon Musk como acionista do Twitter<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><p class="MsoNormal" style="text-align: left;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-align: right;">Wagnervalter Dutra</span></p>
<span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> UNEB DCH
VI/PPGELS/GPECT<br /></span></blockquote><div>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A cada dia que passa tem-se a
impressão que ficamos cada vez mais distantes de duas coisas essenciais a nós:
humanidade e materialidade enquanto processo. Acredito que ambas sejam
imanentes à constituição do ser social, logo um par dialético, a materialidade
que nasce do metabolismo com a natureza abraça, a princípio, um trabalho
produtor de sentidos e materialidades além de si – sem o qual não se habilita o
para si –, passo fundante para a sociabilidade e humanização (também da
natureza, como da nossa naturalização).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Olhamos ao redor e parece que
estranhezas e estranhamentos são os dois ingredientes de um mal estar
assustador a reger a aparente normalidade cotidiana da vida, que vai dos
regados à mais aberta exploração de imagens mercantilizadas, cujos portadores
da promoção desse tosco espetáculo somos nós; à impulsão de efemeridades que
turvam os ares dessa “atmosfera” do “estar de pé para fazer a história”, em
ambos os contextos já sabemos quem são as maiores vítimas desse moinho
satânico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O alerta de Polanyi a respeito
do moinho satânico guarda, sobremodo, sua atualidade, na medida em que as relações
mercantis que se fazem concretas, são portadoras de um lado, da produção dos
“átomos dispensáveis” e da destruição do componente de socialidade das relações
sociais; e, do outro, vê-se dispensada de prestar contas com o peso da
materialidade inerente às formas de metabolismo social, pois o trabalho,
componente fundante dessa interação, capaz de produzir novas materialidades e
ressignificar as existentes, é, a cada passo, uma <i>persona-coisa</i> non
grata na composição da medida do valor como tempo de trabalho socialmente
necessário. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O valor é hoje um tempo
destituído da substância do trabalho, um tempo sem trabalho ou a pura oferta da
carcaça do tempo? (já que o trabalho representado no emprego/ocupação se esvai
quase na mesma velocidade da proporção em que a cada dia, ainda que numa
pandemia, cuja argumentação foi de uma economia destruída – mas para quem, Elon
Musk, Jeff Bezos ou os irmãos Leman? –, mais e mais bilionários são gestados em
meio ao avassalador rolo compressor da taxa decrescente do valor de uso, muito
bem representado pelo aumento da velocidade cíclica requerida pelo capital
financeiro).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Em que medida que esse
intangível capital financeiro é capaz de nos desumanizar concretamente? Qual o
tipo e a extensão do poder que o capital financeiro tem? É possível mensurá-lo?
Antes de retornar às questões aludidas cabe entender que as contradições da
própria acumulação capitalista, conforme apontadas por Marx (2013), impelem os
capitalistas a busca por contornar os entraves no tempo de giro do capital, na
ampliação do seu ciclo e nas flutuações que o capital variável poderia
oferecer, atravancando assim a produção segundo a medida ancorada no ethos da
lucratividade do capital. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Tocando em miúdos, a dimensão
do espaço-tempo e a força de trabalho precisam se ajustar constantemente às
pressões históricas intrínsecas à da
reprodução capitalista, porém, cabe lembrar, que, ao expulsar (equivalendo até
mesmo precarização e desvalorização da força de trabalho) o trabalhador do
processo produtivo, como o entrave ao caminho que leva do dinheiro ao consumo –
e aqui notamos que o dinheiro representa o cruzamento de equivalências vazias
que dispensa a face, o olho e a mão, talvez para resgatar aquela invisibilidade
que certa leitura da economia encontrou na mão do mercado – irá se apresentar?
O dinheiro faz, na prática, a equivalência dos valores de troca que, almejando
dispensar da composição do mercado os valores de uso, acaba por significar
equivaler trabalhos concretos e distintos com os frutos de um trabalho sem
distinção, abstrato. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O poder social do dinheiro é,
nessa proporção, o poder social que abdicou da sua própria materialidade, não
podendo ser mais do que o puro vazio em si, pois ideologicamente arquitetado
como a máxima representação das coisas humanizadas, entretanto só é capaz de
fazê-lo a partir daquela mesma proporção da crescente desvalorização do mundo
humano ante a valorização do mundo das coisas, que um certo nativo de Trier já
anteviu em 1844.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Num tópico intitulado O
dinheiro e Cristo, dos <i>Cadernos de Paris</i>, também de 1844, Marx capturava
o sentido que o dinheiro já guardava antes da metade do século XIX:</span><span style="font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">“O que antes de tudo caracteriza o
dinheiro não é o fato de a propriedade alienar-se nele: a <i>atividade
mediadora </i>é que se aliena nele, é o movimento mediador, o ato humano,
social, através do qual os produtos do homem se complementam uns aos outros,
esse ato mediador torna-se função de uma <i>coisa material</i>, externa ao
homem – uma função do dinheiro [...] Através deste mediador externo, o homem,
em lugar de ser ele mesmo mediador para o homem, experimenta a sua vontade, a
sua atividade, a sua relação com os outros como uma potência independente de si
mesmo e dos outros. Chega aqui ao cúmulo da servidão. Não é surpreendente que
esse mediador se converta em um verdadeiro deus, porque reina onipotentemente
sobre as coisas para os quais ele me serve como intermediário. Seu culto
torna-se um fim em-si. Separados deste mediador os objetos perdem o seu valor.
Se, primitivamente, o dinheiro só tinha valor na medida em que representava os
objetos, estes, agora, só possuem valor na medida em que <b>o</b> representam”
(2015, p. 200 – 201).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O que Marx (2015) descreve,
retrata o papel central que a <i>representação</i> equivalente do valor
(dinheiro), no lugar do próprio valor em-si, passa a jogar no âmbito do
sociometabolismo capitalista e das suas relações cotidianamente mercantilizadas.
Nos manuscritos econômico-filosóficos aparecia de maneira central o problema da
alienação e da desumanização abrigada no processo, suas conexões se davam pela
desvalorização desse <i>ser-humano mercadoria</i> proporcionalmente ao seu
poder de criar mais mercadorias (coisas), seu poder criador era
contraditoriamente destruidor também de si, potência autodestrutiva, como a
alienação pode agora ser pensada, já que esse poder de criar mercadorias
esvai-se cada vez mais de nossas mãos? A nossa destruição pode ser um prelúdio
da nossa salvação ou estamos condenados infinitamente à partilhar vidas culpadas
nesse “culto não expiatório” (Walter Benjamin) chamado capitalismo? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O caminho que nos leva de Marx
a Debord pode ser instrutivo para entender a contemporaneidade desses
deslocamentos e, em que medida, são capazes de gerar/controlar relações e objetivações
sociais. Em Marx (2013) a riqueza apareceu, no século XIX, como um imenso
acúmulo de mercadorias; em Debord, toda a vida se apresenta como um imenso
acúmulo de <i>espetáculos</i>, onde quer que possa reinar as modernas condições
de produção. O que a imagem representa na formulação de Debord?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">As imagens que se destacaram de cada
aspecto da vida fundem-se num fluxo comum, no qual a unidade dessa mesma vida
já não pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente, apresenta
a sua própria unidade geral como um pseudomundo à parte, objeto de mera
contemplação. A especialização das imagens do mundo se realiza no mundo da
imagem autonomizada, no qual o mentiroso mentiu para si mesmo. O espetáculo em
geral, como invenção concreta da vida, é o movimento autônomo do não vivo
(DEBORD, 1997, p. 13).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Já dizia o
ditado que o diabo vence quando convence que não existe, e o que é mais
sintomático da expressão do não vivo, senão aquilo que nega justamente a vida e
bloqueia nossa ominilateralidade? O que é capaz de representar esse poder
desagregador? A potência do espetáculo consiste em fazer com que o mentiroso
minta para si mesmo e para os demais com a convicção da verdade, não mais
importando a aproximação entre a processualidade do fato e sua materialidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Num mundo carregado dessas “virtualidades”
materiais negadas como explicar que em um só banco, o Crédit Suisse, circulou
no ano de 2017, como volume de atividades em serviços financeiros, um valor 43
vezes maior que o PIB suíço (668,2 bilhões de francos), valor que perfaz 37,3%
do PIB mundial (CHESNEY, 2021). Como pensar no supramencionado poder das
finanças que faz circular em <b>um só banco</b> um valor em finanças que
representa mais de um terço de tudo que mundo produziu; todavia, essa massa de
dinheiro circulando, não poderá jamais realizar-se material ou produtivamente como
algo útil-concreto, necessário, um valor de uso; justamente pelo fato de que
seu poder consiste em não existir concretamente, mas controlando tudo que
existe concretamente, seja pela política, pela abstração do Estado, pela
corrupção, lavagem de dinheiro, espetacularização a vida, racismo, machismo,
cultura do estupro, fake news, sexismo, misoginia, assalto ao fundo/riqueza
pública, precarização do trabalho ou pela desmaterialização da realidade que
leva ao grau máximo da alienação: uma objetivação aparentemente desobjetivada
de toda a vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Puro espetáculo é a desfaçatez
desse vazio do fim em-si, é sua caricatura, que agora é apresentada como algo
palatável, como aquilo que é; como o beijo forçado do mendigo em paralelo às
ações que, vendida na bolsa de valores, continua convertendo o corpo no templo
da propriedade privada, logo todo comércio do corpo é tão válido quanto a
diferença entre o trabalho do mestre-escola, que, ao trabalhar a cabeça das
crianças, apenas extenua a si mesmo para enriquecer o empresário, e do operário
da fábrica de salsichas, cujo sentido do seu fazer é o mesmo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span> </span><span> E</span> o que
faz a união do Elon Musk como “estrela” do espetaculoso-metafísico mercado
financeiro, recordista de ganho diário nesse mesmo mercado, que conforme índice
bloomberg billionaires chegou a somar mais 25 bilhões de dólares à sua fortuna
em apenas um dia no ano de 2021, e o seu interesse em uma das redes sociais de
Zuckerberg, o Twitter (onde recentemente se tornou o maior acionista
individual). A fantasia de um mundo administrado pela fantasia e pelo
espetáculo já não é mais uma novidade, até pelo fato do coração desse mundo de
hoje ser regido pela especulação. O que conecta essa soma e esse resto?<o:p></o:p></span></p>
<span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span> <span> </span></span>Testam seus
algoritmos nesse imenso banquete de barbárie e vazios fiduciários que, no buraco
de minhoca da nossa podridão que chafurda na lama dos corpos
fáceis-descartáveis das refugiadas ucranianas, ou da mulher em surto psicótico,
cujos desdobramentos desse dantesco geraram o efeito colateral da
subcelebridade efêmera do momento – regada a músicas de gosto duvidoso, imagens
e mensagens que o próprio algoritmo se encarrega de dar uma roupagem vendável. Aceitamos
de bom grado nos colocar também à venda no momento em que compartilhamos “uma
mão no volante” e outra, nem um pouco (in)visível, em tudo, menos no carinho,
pois a mão é de ferro, e que representa o que liga as extremidades pela
garganta do buraco de minhoca: a propriedade privada da nossa humanidade nas
mãos da destrutividade do processo produtivo que continua a nos esmagar. Não
pode haver graça no que celebra nossa derrota enquanto sociedade escravizada
pelo fim em-si do vil metal, medido e mediado no vazio daquele espelho de
sempre que nunca pode representar o que de fato eu sou, porque somos!</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal"><b>Referências<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">BENJAMIN, W. </span><b style="font-size: 12pt;">O capitalismo como religião</b><span style="font-size: 12pt;">. São Paulo:
Boitempo, 2013.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">CHESNEY, M. </span><b style="font-size: 12pt;">A crise permanente</b><span style="font-size: 12pt;">: o poder crescente da
oligarquia financeira e o fracasso da democracia. São Paulo: Editora Unesp,
2021.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">DEBORD, G. </span><b style="font-size: 12pt;">Sociedade do espetáculo</b><span style="font-size: 12pt;">: comentários
sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">MARX, K. </span><b style="font-size: 12pt;">O capital</b><span style="font-size: 12pt;">: crítica da economia política. Livro
I e III. São Paulo: Boitempo, 2013.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt;">MARX, K. </span><b style="font-size: 12pt;">Cadernos
de Paris & Manuscritos Econômico-Filosóficos</b><span style="font-size: 12pt;">. São Paulo: Expressão
Popular, 2015.</span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">POLANYI, K. <b>A grande transformação</b>: as origens políticas e
econômicas da nossa época. São Paulo: Contraponto, 2021.</span></p></div></span></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-80775045609980888692021-08-12T09:29:00.006-07:002021-08-12T09:30:53.340-07:00Das armas da crítica a crítica das armas: a barbárie bate à nossa porta como o abismo que te decifra e te devora1.<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><p style="text-align: left;"><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-align: right;">Wagnervalter
Dutra Júnior</span></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote>
<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">UNEB/PPGELS/GPECT</span></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><b style="text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Introdução:
apontamentos iniciais</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na <i>Introdução da Crítica à Filosofia do
Direito de Hegel</i>, Marx estrutura um conjunto de reflexões que objetivava
combater as vertentes idealistas e metafísicas de matriz hegeliana, que compunham
expressiva parte do sentido filosófico de naturalização da ordem do capital, ou
a sua mais completa fetichização expressa na inexorabilidade da marcha do
oriente ao ocidente, construída pela leitura da filosofia da história de Hegel;
não à toa inicia com o seguinte argumento: “a crítica da religião é o
pressuposto de toda crítica”. O que estaria por trás de uma afirmação dessa
envergadura? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Quando observamos o mundo de hoje, o mundo da
dessubstancialização do humano, dos seres humanos não rentáveis – como alerta
Robert Kurz –; percebemos uma profusão de concepções irracionalistas e atitudes
que convertem os problemas estruturais da lógica acumulativa, em problemas
passíveis de resolução apenas na esfera do indivíduo, invertem o pólo de onde a
realidade emerge concretamente, e, assim, a compreensão da gênese e condição
histórica da humanidade lhe é roubada, a realidade passa a ser algo sempre <i>apriorístico</i>,
sempre dado, nesse jogo de cartas marcadas o palco do acontecer salvífico (BENJAMIN,
2013) é o máximo que podemos atingir; os joelhos dobram ante a ilusão de um
mundo sempre adiado e ante o bezerro de ouro (o Deus Mamon). Tais concepções
não passam a limpo, não refletem sobre o crivo do que nos produz enquanto
humanos, enquanto famintos, pobres, miseráveis, descartáveis e supérfluos ao
funcionamento de uma sociedade. Também não esclarece como se produz os ricos
(burgueses). Quais as implicações dessa forma de produzir uma determinada
concepção de mundo invertida (às avessas)?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Um mundo que perde a sua própria essência (sua
humanidade) e onde se assiste a tudo isso impassível, quase que num estágio de
coma semi-profundo? Um outro sono dogmático? Outra revolução copernicana nos
rumos da filosofia? Que misérias enfrentamos, ou nunca enfrentamos, ou temos
medo de enfrentar? Por quê o medo de se olhar no espelho e conseguir um lapso
reflexo de humanidade, se assustar com isso, aumentar o medo; por nunca
experimentar a efetividade da partilha de um mundo que se olha e se vê, completo,
por inteiro, demasiado e emancipadamente humano? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Após 500 anos de exploração
(neo)colonial/imperialista, um grupo de indígenas do alto da Sierra Maestra se
insurgiu, e perguntou ao mundo quem deveria pedir perdão após cinco séculos em
que os indígenas foram expropriados de tudo. “De que temos que pedir perdão?
Quem vai nos perdoar? De não morrermos de fome? De não nos calar em nossa
miséria? De ter nos levantado em arma, quando encontramos todos os outros
caminhos fechados? De que temos que pedir perdão? De não nos render? De não nos
vender? De não nos trair? Quem tem de pedir perdão? E quem pode outorga-lo?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O que mais esse mundo nos tira, além da
substância viva (nossa vitalidade) na gangorra vampiresca que suga trabalho
vivo, completamente escravizada por um mundo em que poucos, muito poucos,
desfrutam da riqueza socialmente produzida e goza desse mundo, ao passo que os
demais vivem uma imensa correria tentando alcançar o dia seguinte, e ter pelo
menos uma casa antes de morrer. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Acrescente à conta do ultraliberal – <i>old
chicago boy</i> – Paulo Guedes a fome que retorna, a pobreza que aumenta, a
miséria, o desemprego e a nossa insistência em viver demais e atrapalhar o
assalto ao fundo público via previdência social (“deficitária”). Qual a razão
de nos deixar levar por palavras aparentemente bonitas (como reforma,
austeridade, Estado mínimo, sanear contas públicas, enxugar a máquina – e por
que metáforas tão “de casa”?), expressas no som da grave voz de William Bonner
no jornal das oito?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O que nos tornou/a escravos (a propriedade
privada dos meios de produção e o subsequente óbvio controle do trabalho/terra
– do metabolismo societal), foi o que nos afastou historicamente de qualquer
possibilidade de existir fora das mãos dos mercadores da ganância, do dinheiro,
do intercâmbio do trabalho alheio que saltou da esfera do controle imediato e
viu seu patrão pulverizado em holdings, spreads bancários e a mais pura
especulação na Bolsa de Valores (seja de Tokyo ou Nova York – ao capital muito
pouco importa); todavia, sem o trabalho e o trabalhador tudo se transforma num
grande 1929 a lá Caverna do Dragão: sem saída.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">Armas
da crítica e crítica das armas: considerações sobre o humano às avessas<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Refletindo sobre essa dimensão da materialidade
das armas e da crítica, das armas da crítica e da crítica das armas (não é,
jamais, uma questão do puro pensar, da crítica especulativa, do criticismo
kantiano – o problema da razão ou da cognoscibilidade do conhecimento –, da
crítica apenas como denúncia); a crítica<sup>2</sup> é a suprassunção do mundo
(da realidade concreta) que se enfrenta, que é o seu objeto; suprassumir a sua
materialidade e as decorrentes relações institucionais e imateriais
(autonomizadas em aparência, como o treino de um coletivo que não percebeu que “a
religião é um suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a
alma de situações sem alma” MARX, 2005), não só a revolução é um ato histórico,
o pensar também é um ato histórico antes de ser um ato mental.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A nossa imaginação é material, e a matéria é
nossa imaginação, há um tecido/tessitura do mundo ancorada no que decorre dos
nossos pôres teleológicos primários – necessidade de viver até o outro dia –,
para isso comemos, construímos casas, bebemos, nos educamos, aprendemos, tudo
isso quando ao interagir com a natureza através do trabalho produzimos comida
real que enche nossa barriga de matéria que alimenta, para que depois caiba um
pouco de fantasia, mas para continua sendo preciso o dia seguinte. Tudo que nos
“educa” – no sentido de treinar e adestrar – para não percebemos que o ser
humano não “é um ser abstrato, acocorado fora do mundo” (MARX, 2005), depõe
contra a compreensão do profundo caráter histórico de tudo que existe,
inclusive da natureza que se historiciza no processo de nossa constituição
sociometabólica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O fetichismo da mercadoria, a alienação, a
ideologia cimentam-se num profundo escamoteamento das nossas misérias reais – um
mundo refém do movimento autovalorativo do valor, do lucro –, nos tornando
cúmplices, e até talvez parceiros, da própria barbárie que nos assola. Barbárie
se tivermos sorte? Nem sei se cabe mais a palavra sorte em algum lugar desse
mundo, que virou um grande campo de concentração, como um zoológico humano, à
vista de um grande cassino (como parte do pacote turístico inclui assistir de
camarote-cassino esse espetáculo chamado
trabalhador-pobre-miserável-lumpesinato) de onde os burgueses reais – aqueles
que podem bancar uma volta de foguete na atmosfera terrestre no mesmo momento
em que mais de 60% dos lares brasileiros são atingidos por algum tipo de
insegurança alimentar – apreciam a bela vista, garantia de que seus lucros
continuem destruindo o mesmo metabolismo que possibilita nossa autocriação, em
sentido ontologicamente amplo; contudo faz-se, pelas mãos da ideologia, algo
distante, ilusório, mágico; uma força estranha que a tudo governa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Essa força estranha, fonte “mágica” da riqueza,
que, por exemplo, o papel-moeda representa e procura esconder no seu
desvelamento transcendental é a perversa inversão que no plano aparente nos faz
crer que é a Moeda que faz o ser humano (riqueza), e não o ser humano (riqueza)
que faz a Moeda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A naturalização poderia encontrar somente esse
caminho suposto mediante o "natural" presumido da história no bojo da
ideologia capitalista: ela esconde a perversão da igualdade jurídica
substanciada na desigualdade econômica da divinizada/mágica/transcendental
propriedade privada dos meios de produção, que condenou milhões à venda da sua
força de trabalho como única forma de sobreviver, quando os poucos escondidos
por trás da Moeda n° 1 dizem ser natural essa condenação (DUTRA JR, 2015)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> A busca incessante da Moeda n° 1
pelos personagens do desenho de Walt Disney, Tio Patinhas, aborda a
centralidade que a equivalência universal representada pelo dinheiro e o
fetiche da riqueza abstrata dada pela posse da primeira Moeda exercem no
conjunto da sociabilidade fundada no valor de troca e no mercado. A metáfora
desenvolvida por Martins em seu texto: <i>Tio Patinhas no centro do universo</i>;
exemplifica como as relações sociais estão fundadas na forma alienada de
conceber o dinheiro em si com a posse da riqueza, eliminando o trabalho da
constituição da produção e riqueza social, e condenando os seres humanos na
busca sem sentido do fim em si da lógica autovalorativa do capital. Ver: MARTINS,
J. S. Tio Patinhas no centro do universo. In: MARTINS, J. S. Uma sociologia da
vida cotidiana: ensaios na perspectiva de Florestan Fernandes, Wright Mills e
Henri Lefebvre. São Paulo: Contexto, 2014; p. 93 – 103” (DUTRA JR., 2015).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Nesse contexto o campo da barbárie é
o campo da velocidade (dos muitos tempos de vida sobrepostos e dominados pelos
tempos de giro dos capitais individuais que se escondem enquanto capital social
total), que Milan Kundera vê como a forma de êxtase que a revolução técnica deu
de presente ao homem, o ser humano dá velozes passos para a barbárie, assim
expresso em algumas linhas do próprio Kundera: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">“Ao contrário do motociclista, quem
corre a pé está sempre presente em seu corpo, forçado a pensar sempre me suas
bolhas, em seu fôlego; quando corre, sente seu peso, sua idade, consciente mais
do que nunca de si mesmo e do tempo de sua vida. Tudo muda quando o homem
delega a uma máquina a faculdade de ser veloz: a partir de então, seu próprio
corpo fica fora do jogo e ele se entrega a uma velocidade que é incorpórea,
imaterial, velocidade pura, velocidade em si mesma, velocidade êxtase” (2011,
p. 7 – 8).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Enquanto isso, em Patópolis, o
segredo da ordem não é ter, permanece sendo esperar ter, quantas coisas
esperamos ter? (e quanto concentramos nessa esfera irrealizável?). Os mesmos
dramas imensos que nos cercam no cotidiano das outras Patópolis (independentes
de serem médias / pequenas); somos seres mutilados, porque materialmente ter
nos priva de humanamente ser (MARTINS, 2014); essa é a marca de toda uma época,
de uma forma histórica específica de experiência do espaço-tempo e de sua
produção; uma experiência partida, negada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Walter Benjamin (2012), em seu texto
experiência e pobreza aborda o significado da experiência num mundo em crise,
no contexto da Primeira Grande Guerra. A princípio fala da parábola de um velho
que no seu leito de morte revela aos filhos a existência de um tesouro oculto
em seus vinhedos. Ao cavar nas proximidades os filhos não encontram o menor
vestígio desse tesouro. Chegado o outono, todavia, as vinhas produziram mais do
que qualquer outra da região; depois os filhos compreenderam que o pai
transmitira a eles uma certa experiência: “a felicidade não está no ouro, mas
no trabalho duro” (p. 123). A experiência equivalia à comunicação pelos mais
velhos aos mais jovens sobre inúmeras questões da vida e da existência. Mas se
questiona sobre o alcance dessa mesma experiência nos dias de 1933, quando
escreveu o texto: “Que foi feito de tudo isso? Quem encontra ainda pessoas que
saibam narrar algo direito? Que moribundos dizem hoje palavras tão duráveis que
possam ser transmitidas como um anel, de geração em geração?” (p. 123), dentre
outras questões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A geração de 1914 – 1918 viveu uma das mais
terríveis experiências da história universal, com isso, ressalta Benjamin
(2012), a forma clara com que é possível perceber que as experiências estão em
baixa; na época da guerra era notável que os combatentes retornavam silenciosos
dos campos de batalha, mais pobres em experiências comunicáveis, e não mais
ricos; inclusive os póstumos livros de guerra da década seguinte não
conseguiram trazer à tona experiências transmissíveis de boca em boca. Complementa
com a ressalva de que nunca houvera existido “experiências mais radicalmente
desmentidas que a experiência estratégica pela guerra de trincheiras, a
experiência econômica pela inflação, a experiência do corpo pela fome, a
experiência moral pelos governantes [...]” e isso tudo envolto num “[...]
centro, num campo de forças de correntes e explosões destruidoras [...]” e lá
“[...] estava o frágil e minúsculo corpo humano” (124). Que enfrenta filas para
receberem ossos doados por açougueiros em Cuiabá, conforme amplamente noticiado
em rede nacional, ou mesmo comprar arroz e feijão quebrados (sobra); a inflação
é dessas experiências que a hegemonia e o ethos ideológico dominante
conseguiram domar como experiência não comunicada, por que natural no âmbito da
economia que parece sempre ter vontade própria ou mesmo vida própria, saltando
aos olhos nas falas dos âncoras do jornalismo econômico de forma geral – o
mercado sempre é muito mais bem tratado que qualquer dos convidados na Globo
News.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O desenvolvimento do capital, impulsionado pela
guerra, atou indelevelmente a técnica, sob o controle das “<i>forças estranhas</i>”
do tempo de trabalho socialmente necessário ao destino da humanidade. Por essa
razão é conveniente expressar mais algumas ideias de Benjamin a esse respeito:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 4cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">“Uma forma completamente nova de miséria
recaiu sobre os homens com esse monstruoso desenvolvimento da técnica. A
angustiante riqueza de ideias que se difundiu entre – ou melhor, sobre – as
pessoas, com a renovação da astrologia e da ioga, da Christian Science e da
quiromancia, do vegetarianismo e da gnose, da escolástica e do espiritismo, é o
reverso dessa miséria. Pois não é uma renovação autêntica que está em jogo, e
sim uma galvanização [...] Aqui porém revela-se com toda clareza que nossa
pobreza de experiência é apenas uma parte da grande pobreza que recebeu
novamente um rosto, nítido e preciso como o do mendigo medieval. Pois qual o
valor de todo nosso patrimônio cultural, se a experiência não mais o vincula a
nós? A horrível mixórdia de estilos e visões de mundo do século passado
mostrou-nos com tanta clareza aonde esses valores culturais podem nos conduzir
quando a experiência nos é subtraída, hipócrita ou sorrateiramente, que é hoje
em dia uma prova de honradez confessar nossa pobreza. Sim, confessemos: essa
pobreza não é apenas pobreza em experiências privadas, mas em experiência da
humanidade em geral. Surge assim uma nova barbárie [...] Ela [essa nova
barbárie] o impele a partir para a frente, a começar de novo, a contentar-se
com pouco, a construir com pouco, sem olhar nem para a direita e nem para a esquerda”
(BENJAMIN, 2012, p. 124 – 125)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Esse contexto nos torna tão
resignados na nossa própria miséria, na nossa própria barbárie, que fica
difícil compreender, ou mesmo expressar, as bases materiais que as produzem,
pois ao final, a narrativa desse mundo é sempre o <i>fim da história</i>, o
horizonte inegociável que se fecha; contudo o fardo do nosso tempo histórico
permanece intocado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">As potências nascentes de um mundo fundado sob
a capital exigiram desde cedo sacrifícios aos que, historicamente, não
participariam do <i>Banquete</i> prometido
pelo progresso à frente, apesar da impossibilidade de realização do mesmo sem
os “não participantes”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Uma passagem do livro <i>Os Miseráveis</i>, de Victor Hugo, traz um diálogo entre o bispo D.
Bienvenu e o convencionalista G. sobre acontecimentos e contextos históricos
referentes aos desdobramentos da Revolução Francesa, onde G. recorda a tragédia
de uma mãe no século XVII. Enquanto amamentava o filho é amarrada ao
pelourinho, nua até a cintura, com o seio cheio de leite e o coração cheio de
angústia; a criança mantida à distância, com fome empalidece, vendo cair o
leite sem alimentá-la, agonizava; o carrasco diz à mulher, ao tempo mãe e
lactante: - Abjura! -, oferecendo-lhe escolha entre a morte da criança e a
morte da sua consciência. G. retorna o olhar para o bispo e questiona: “Que diz
o senhor desse suplício de Tântalo aplicado a uma mãe?” (HUGO, 2017, p. 90 –
91).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Tântalo foi um lendário rei da Líbia, condenado
por Zeus a ficar eternamente atado a uma árvore carregada de frutos, no meio de
um lago limpídissimo, sem poder matar a própria fome e sede (HUGO, 2017).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O dilema enfrentado pela mãe e a analogia com a
condenação de Tântalo oferece pouca escolha, em ambas as situações a morte de
algo se faz sempre certa; pela fome, pela sede, pelo envenenamento, pela
austeridade, pelo desemprego, pela perda sistemática de direitos e proteção
social, pelo Estado mínimo ou pela consciência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A vista do horizonte é uma casa, um enclave, no
caminho do progresso; o prenuncio de uma realização que não oferece nada além
da escravidão sísifica – referência ao mito grego de Sísifo, condenado a
empurrar por toda a existência uma pedra ao topo da montanha que ao atingir o
cume rolava abaixo recomeçando o trabalho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A “escravidão sísifica” – valorização do valor –
prendeu os homens de um determinado tempo histórico – o tempo do
sociometabolismo do capital – ao poder estranho de produzir algo cuja utilidade
não se fazia presente de imediato. Esse poder, inaugurado como riqueza para os
novos tempos, pôs abaixo aquela casa na linha do horizonte, e o casal que a
habitava – Filemon e Baucis, personagens de <i>Fausto</i>
de Goethe – sucumbe ao que estranhamente convenciona-se entender por progresso,
elimina-se entraves, que são, também, seres humanos; com eles a criança, o
leite, a consciência e a utilidade do humano agora convertida na inutilidade da
forma valor, a riqueza que não mais alimenta sem a mediação de uma equivalência
geral do trabalho humano abstrato, que, todavia, não se encontra no trabalho do
outro como concreto da necessidade e da vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Refletindo a história do pensamento econômico,
Heilbroner (1996) reconhece que o mercado funda a nova organização da sociedade
sob o capital, na medida em que o universaliza. A aposta do capital é alta: “O
velho brado repercuta: Rende obediência à força bruta! E se lhe obstares a
investida, Arrisca o teto, os bens e a vida” (GOETHE, 2011, p. 575).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Essa aposta representa uma condição a se
reproduzir historicamente, condição sem a qual o capital não pode existir. A
separação entre os trabalhadores, agora <i>livres</i>
na medida das necessidades móveis do capital no contexto dos <i>cercamentos</i> – acumulação primitiva –, e
os meios de produção. Condição que relega aos mesmos a satisfação das suas
necessidades em mãos estranhas, agora dependentes do acesso aos meios de
produção controlados pelos capitalistas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A expressão ideal da relação material de base
para o capital foi traduzida por Heilbroner (1996) na forma sob a qual a
economia encontra-se com sua parteira, balbuciada na filosofia moral de Adam
Smith, cuja mensagem pôs-se límpida: “A nova filosofia nasceu com um novo
problema: como manter os pobres, pobres” (p. 41).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Derradeiras
palavras (in)conclusivas<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Soma de nossas desumanidades que não se
comunicam, pois perderam a capacidade de enxergar o outro como humano, pois
isso também lhe foi negado, a barbárie do capital funda-se nessa desumanidade
completamente naturalizada, e as profundas decorrências desse processo (um
mundo em que como diriam Cristhian Dunker e Vladimir Safatle o sofrimento
psíquico é o próprio neoliberalismo). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Mas nessa barbárie cabe tanto os desfiles
militares e espetáculos esdrúxulos quanto possíveis forem para garantir, por
trimestre, uma das maiores séries históricas de lucratividade dos 4 maiores
bancos brasileiros que negociam ações na Bolsa de Valores – Banco do Brasil,
Bradesco, Itaú e Santander –, o crescimento da lucratividade atingiu 46,4% em
relação ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 21,8 bilhões de reais<sup>3</sup>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A crítica radical será sempre necessária num
mundo como esse, para dirimir todas as fantasmagorias e externalidades
metafísicas, e começar a enfrentar o estado de coisas atual com duas concepções
que Marx desenvolve no texto citado de início: “a raiz do ser humano é o
próprio ser humano” e que “a teoria se converta em força material ao se
apoderar das massas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Notas<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">1. Texto elaborado para mediação
na programação de abertura do semestre letivo 2021.2 vinculado à semana de
integração do Departamento de Ciências Humanas – DCH VI da UNEB <i>campus</i>
Caetité/BA. O tema geral proposto foi: Das armas da crítica a crítica das
armas: a importância do pensamento crítico na luta contra a barbárie, tendo como
palestrante a Profa. Dra. Alexandrina Luz Conceição UFS/PPGEO/GPECT.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">2. Em 1843, Marx escreve
algumas cartas ao seu editor nos Anais Alemães, Arnold Ruge, com quem ele
planeja a edição de uma revista franco-alemã demonstrara como Marx entendia o
que era a crítica, já nos primeiros anos de sua profícua produção
bibliográfica: “a vantagem da nova tendência é justamente a de que não queremos
antecipar dogmaticamente o mundo, mas encontrar o novo mundo a partir da
crítica do antigo [...] A filosofia se tornou mundana e a prova cabal disso é
que a própria consciência filosófica foi arrastada para dentro da agonia da
batalha, e isso não só exteriormente, mas também interiormente. Embora a
construção do futuro e sua consolidação definitiva não seja assunto nosso,
tanto mais líquido e certo é o que atualmente temos de realizar; refiro-me à <b><i>crítica
inescrupulosa da realidade dada</i></b>; inescrupulosa tanto no sentido de que
a crítica não pode temer os seus próprios resultados quanto no sentido de que
não pode temer os conflitos com os poderes estabelecidos [...]” (MARX <i>apud </i>BENSÄID,
2010, p. 10). O prenúncio do que seria a medida da efetiva crítica marxiana
delineia-se – crítica compromissada com a radicalidade de todos os fatos
concretos e com a superação de um mundo que é a imensa prisão para a maioria
dos que o habitam, a crítica teórico-prática, a crítica centrada na totalidade,
a crítica que não cruza os braços diante do mundo, tampouco o produz pela
palavra – como os Crítico críticos; a crítica que só é crítica por se
posicionar e lutar pela superação da ordem, da filosofia, da agonia da batalha
e desse mundo que precisa de ilusões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif">3. https://www.poder360.com.br/economia/maiores-bancos-lucram-r-218-bilhoes-no-1o-trimestre/.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Referências<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">BENJAMIN,
W. <b>Magia e técnica, arte e política</b>: ensaios sobre literatura e história
da cultura. 8º Ed. revista. São Paulo: Brasiliense, 2012 – (Obras Escolhidas v.
1).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">DUTRA JR,
W. <b>O (des)conceito de Homem na leitura do espaço-tempo postulado na Geografia Humana</b>: Os enigmas
de uma Geografia Humana sem Homens. 2015. 274 f. Tese (Doutorado em Geografia)
- Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, 2015.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">GOETHE,
J. W. <b>Fausto</b>: uma tragédia – segunda parte. São Paulo: Editora 34, 2011.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">HEILBRONER,
R. <b>História do pensamento econômico</b>. São Paulo, 1996 (Col. Os
Economistas).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">HUGO, V. <b>Os
miseráveis</b>. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2017.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">KUNDERA,
M. <b>A lentidão</b>. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">MARTINS,
J. S. Tio Patinhas no centro do universo. In: MARTINS, J. S. <b>Uma sociologia
da vida cotidiana</b>: ensaios na perspectiva de Florestan Fernandes, de Wright
Mills e de Henri Lefebvre. São Paulo: Contexto, 2014.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">MARX, K. Introdução
à crítica da filosofia do direito de Hegel. In: MARX, K. <b>Crítica da
filosofia do direito de Hegel</b>. São Paulo: Boitempo, 2005 (p. 145 – 156).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">MARX, K. <b>Manuscritos
econômico-filosóficos</b>. São Paulo: Boitempo, 2006.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;">MARX, K. <b>Sobre
a questão judaica</b>. São Paulo: Boitempo, 2010.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<span face=""Arial",sans-serif" style="font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">MARX, K. <b>O capital</b>:
crítica da economia política: livro I: o processo de produção do capital. 2º
Ed. São Paulo: Boitempo, 2017.</span>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-26910681299504865992021-03-04T17:23:00.011-08:002021-09-15T10:57:23.349-07:00Algumas palavras tortas sobre a (ir)racionalidade pandêmica: salvar a economia ou a vida?<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><p style="text-align: left;"> <span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-align: right;">Wagnervalter Dutra Júnior (UNEB/GPECT)</span></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><p> Projeto de extensão GeMarx - DCH VI</p><p> <span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt; text-align: right;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">No Fausto, de Goethe, ao
entrar em contato com Mefistófeles, o próprio Fausto, curioso por saber quem
era aquela figura, assim expressou-se: “Com tal enigma, que se alega?”.
Mefistófeles devidamente se mostra, apresentando-se em suas próprias palavras
da seguinte forma: “O Gênio sou que sempre nega – eu sou o Espírito que tudo
nega, em algumas traduções – E com razão, tudo que vem a ser é digno só de perecer; Seria, pois,
melhor, nada vir a ser mais. Por isso, tudo a que chamais de destruição,
pecado, o mal; Meu elemento é integral”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A realização objetivada
dessa parceria Fauto-Mefistófeles é a cegueira social-humana sobre tudo aquilo
que efetivamente importa, enquanto possibilidade de converter aquelas forças
produtivas em liberdade efetiva para o gênero humano, implicando na destruição
do último rincão de humanidade, que almejava apenas viver e com simplicidade;
pois, para a racionalidade do tempo humano submetido ao lucro enquanto
sociabilidade hegemônica, viver com simplicidade já era um atravancar demasiado
para que a realização dessas forças produtivas, cegas ao seu limite histórico,
pudesse suportar. Por essa razão, Fausto pede a Mefistófeles para se livrar do
“empecilho”, que era a habitação de um casal simples e idoso, Filemon e Baucis,
e, que, entretanto, estaria atrapalhando a marcha da nova terra-sociedade a se
realizar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Eis um interessante
componente do modo de produção centrado no capital, e que o gênio literário de
Goethe consegue captar com imensa sagacidade em sua mensagem central: nada mais
resistirá à marcha do progresso, nem mesmo, dialeticamente, a vida que o
alimenta e é capaz de fazê-lo marchar; e aqui reside a tensão inaugurada: não
há limites para tornar as pessoas coisas, peças, supérfluos de uma engrenagem
que coletivamente é o único devir a se apresentar plausível no curso da
história; e isso, potencializado, graças às diversas filosofias da história que
celebram a apoteose de uma materialidade destrutiva pelo caminho da destruição
das pegadas e dos passos dessa mesma materialidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Assim Hegel foi a maior
expressão dessa circularidade ontológico-metafísica, na medida em que o
movimento do real aprisiona-se na construção especulativa, é o movimento <i>autoconsciente</i> do conceito que move o
mundo, logo é a ideia (retornarei a isso adiante). Esse deslocamento entre a
efetiva objetividade material do mundo e sua apresentação como ideia é que
permite frases do tipo: “E daí? Eu não sou coveiro”; pois o real é supostamente
forjado no discurso e no discurso pode ser destruído, a despeito das mais de
250.000 mortes concretas, efetivas, reais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O que é capaz de nos
oferecer um mundo que nega a sua substância humana vital (o trabalho produtor
de valores de uso)? Relembremos o que disse o empresário Roberto Justus, cuja
fortuna alcança os 45 milhões de reais, no início da pandemia: há uma “‘histeria
desproporcional’ e que ‘apenas 10% a 15% dos velhinhos vão morrer’”, ou mesmo: “Você
vai ver a vida devastada da sociedade na hora do colapso econômico, dos pobres
não terem o que comer, das empresas fecharem, desemprego em massa, não dá para
comparar com um ‘virusinho’, que é uma ‘gripezinha’ para 90% das pessoas”. O
mesmo <i>ethos</i> desde o início, porém
cabe uma reflexão: o grande culpado pela tragédia econômica seria mesmo a
pandemia? O vírus? A doença? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Outro grande leitor da
modernidade, Walter Benjamin, escreve um texto refletindo a respeito do caráter
destrutivo, fundamento dessa encruzilhada da modernidade, herdeira de um
experiência espaço-temporal que guarda a imanência de uma frase clássica do
Manifesto Comunista: ‘tudo que é sólido, desmancha no ar’.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Nas palavras de Benjamin:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“O caráter destrutivo conhece apenas uma divisa:
criar espaço; conhece apenas uma atividade: abrir caminho. Sua necessidade de
ar puro e de espaço é mais forte do que qualquer ódio (...) O caráter
destrutivo é jovem e sereno. Pois destruir rejuvenesce, porque afasta as marcas
de nossa própria idade; reanima, pois toda eliminação significa, para o
destruidor, uma completa redução, a extração da raiz de sua própria condição. O
que leva a esta imagem apolínea do destruidor é, antes de mais nada, o
reconhecimento de que o mundo se simplifica terrivelmente quando se testa o
quanto ele merece ser destruído. Este é o grande vínculo que envolve, na mesma
atmosfera, tudo o que existe. É uma visão que proporciona ao caráter destrutivo
um espetáculo da mais profunda harmonia (...) O caráter destrutivo está sempre
atuando bem disposto. A natureza lhe prescreve o ritmo, pelo menos
indiretamente: pois ele deve adiantar-se a ela, do contrário ela própria
assumirá a destruição (...) O caráter destrutivo não se fixa numa imagem ideal.
Tem poucas necessidades, e a menos importante delas seria: saber o que ocupará
o lugar da coisa destruída. Primeiramente, pelo menos por um instante, o espaço
vazio, o lugar onde se encontrava a coisa, onde vivia a vítima. Certamente vai
aparecer alguém que precise dele, sem ocupá-lo (...)” (1931).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Benjamin
percebia, em sua maneira sagaz de ler a realidade, com uma criatividade
dialética aguçada, que o caráter destrutivo representa a pulsão de morte do
capital, entretanto, pode ser bem capturado e reorientado para as pulsões da
vida, relativas às essências substanciais da potência humana desperta por
forças produtivas tão dinâmicas, porém completamente escravas de uma
irracionalidade substantiva e de um tempo carregado do mesmo vazio que nos
separa das nossas obras, não nos vemos naquilo que fazemos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Hoje, mais do que nunca,
querem nos fazer crer que a potência liberta do trabalho expropriado nada tem a
ver com o que acontece diante de nós, atento ao comportamento ideo-cultural
moldado no âmbito da sociabilidade burguesa o próprio Benjamin faz um alerta
estarrecedor em suas teses sobre o conceito de história: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Articular historicamente o passado não
significa conhecê-lo ‘tal como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma
recordação, como ela lampeja no momento de um perigo. O perigo ameaça tanto a
existência da tradição como os que a recebem. Ele é um e o mesmo para ambos:
entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento. Em cada época, é
preciso tentar arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela.
Pois o Messias não vem apenas como redentor; ele vem também como o vencedor do
Anticristo. O dom de despertar no passado-presente as centelhas da esperança é
privilégio exclusivo do cientista social (historiador) convencido de que
tampouco os mortos estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não
tem cessado de vencer” (2012, p. 243 – 244).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Esse é o mesmo <i>Messias</i> que distorce o passado se
apresentando como novidade aqui e alhures, ou mesmo num passado remoto; esse
inimigo forja a novilíngua orwelliana, completamente dirigida para sua nova
forma em que as palavras, alçadas em sua materialidade, abrirão pouco espaço
aquém e além da fascista cultura do cancelamento, com todas as idiossincrasias
e clivagens que além das classes sociais perfazem gênero, ‘raça’ e patriarcado.
A voz é retirada, negada, violentada; e no contexto da pandemia a existência
também o é, presa na <i>vitória</i> da
economia sobre a vida. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O corpo é um sujeito sem
face, desprovido de história, e tais operações que pasteurizam – o sentido aqui
aludido é de eliminação das impurezas da nossa face humana em detrimento de uma
padronização de seres humanos dispostos não só a pensar igual, mas, inclusive,
a ter o mesmo rosto físico (fico pensando, por exemplo, nos processos de harmonização
facial, procedimento estético que explodiu recentemente) –</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">a nossa existência
corpóreo-material só abrem espaço para eliminar tudo o que não for
capitalisticamente narcísico. Você consegue ver a dor do outro nesse espelho?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> No
dia de hoje (03/03/2020), ao ler as notícias, me deparo com a fala do atual
chefe do executivo dizendo que não errou nada em suas previsões a respeito da
pandemia, concomitantemente ele veta aos governadores e prefeitos a
possibilidade de comprar vacina. Responde com palavras vazias de sentido, sustentadas
num processo de pulsões superficiais do caráter, conforme a bela análise de
Wilhelm Reich em seu livro Psicologia das Massas e o Fascismo, com a
sinalização de mais mortes concretas; em que medida palavras ou discursos
enraivecidos, característicos de um proto-fascista genocida no poder, são
suficientes diante da maior crise sanitária-social-econômica-política que
enfrentamos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Tudo continua a ser um
problema discursivo? Ainda que, como nos lembra os autores da ideologia alemã,
o fazer da vida é um ato histórico, concreto (é preciso estar de pé para fazer
história, e não transformamos a natureza dormindo e sonhando com algum tipo de
mudança); jamais é um ato mental, dissociado da materialidade do ser social que
produz a consciência, e não da consciência que o produza (?). A crítica ao
programa de Gotha repõe essa frase com um grau de didatismo que ainda não foi
apreendido em profundidade pelas pessoas: “cada passo do movimento real é mais
importante do que uma dúzia de programas”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Esse “caldo de cultura” forjado
a partir do rebaixamento do horizonte filosófico burguês – como se agora o
corpo ou o discurso fossem os reais produtores da concreticidade social – é
parte da ideologia que é capaz de tornar as pessoas cúmplices de sua própria, e
aparentemente, inexorável miséria... a servidão e a exploração acabam por
absorver essa fisionomia da nossa condenação, parece um privilégio ser
explorado, tamanha a vitória da ideologia dominante, e isso é em grande parte,
hoje, referendado pelo negacionismo (descompromisso sistemático com a verdade
dos fatos ou a distorção dos fatos históricos – as fake news que o digam).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O revisionismo no campo da
historiografia dá a medida dessa tragédia onde a materialidade dos fatos é
negada em nome dos “discursos”, e quando se fala em materialidade, estamos
falando em mais de 10 milhões de pessoas que foram contaminadas pelo coronavírus
no Brasil; no futuro os revisionistas confrimarão que foi uma <i>gripezinha</i>? Se enfrentarmos outras
pandemias piores que essa, o que é bem provável, dada a forma como se produz
alimento-mercadoria no capitalismo, certamente os revisionistas dirão que essa
pandemia foi, em grande parte, invenção da mídia. Referindo-se aos mesmos,
Pierre Vidal-Naquet (<i>apud</i> TRAVERSO,
2017, p. 27) os batizou de “assassinos da memória”, acertadamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O negacionismo é uma
estratégia ideológico-política e intelectual, amplamente utilizada por governos
de matriz autoritária e seus intelectuais orgânicos ao longo da história, e o “ápice”
da realização do negacionismo é a barbárie dos campos de concentração nazista,
inclusive negada pelos revisionistas. Processos dessa natureza só podem
oferecer requintes de crueldade, ao já amplo arsenal de desumanização que o
capital impõe aos seres humanos no âmbito de suas existências cotidianas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“O trabalho liberta” (quem?),
essa era a inscrição nos portões do campo de concentração de Auschwitz;
estaríamos sendo enviados para novos campos de concentração, quando o governo
faz clara opção pela economia ao invés de optar pela vida? Diga-se de passagem,
não são excludentes, pelo contrário; o mote por trás dessa operação do discurso
ideológico dominante, visa nos tornar cúmplices da naturalização de todas as
mortes evitáveis, virando o jogo de uma forma estranha, ao retornar para o
indivíduo o peso da destruição da economia e manter ilesos qualquer
questionamento à ordem estabelecida, ao <i>status
quo</i>. Ou o leitor já chegou a ouvir, durante esse mais de um ano de
pandemia, que o problema era a forma de exploração do capital ante a natureza
(como forma de garantir a exploração da grande maioria dos seres humanos pela
minoria dos capitalistas)?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Não sem razão, no momento em
que atravessamos esse ‘caos’ fabricado, a lucratividade do capital financeiro
continua em cifras assustadoras, a exemplo do CEO da Amazon, Jeff Bezos, que
registrou durante a pandemia, seu maior ganho pessoal em um só dia, algo em
torno de mais de 13 bilhões de dólares (o que equivale a 74,1 bilhões de reais
ao dólar de hoje – esse montante contabiliza mais de 67 milhões de salários mínimos
no Brasil – para termos uma ideia: trabalhando 40 anos ininterruptos e ganhando
salário mínimo, o que perfaz 480 salários, o valor que você consegue juntar em
sua vida laboral é 528 mil reais – essa soma que Bezos ganha em um dia apenas,
daria para bancar o trabalho de mais de 140 mil pessoas por 40 anos a um
salário mínimo).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Por que o negacionismo faz-se necessário como
prática de governo nessa conjuntura? Vejamos a partir da arguta visão de
Marilena Chauí: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Inimigo da tirania, o filósofo Montaigne
escreveu um ensaio intitulado ‘A covardia é a mãe da crueldade’. A covardia,
explica o filósofo, nasce do medo do outro que, por isso, deve ser eliminado de
maneira feroz. O covarde é impulsionado pelo temor de que o outro, sendo melhor
do que ele e corajoso, possa vencê-lo e por isso é preciso exterminá-lo, seja
fisicamente, seja moralmente, seja politicamente. O cruel, é um mentiroso
porque se apresenta com a máscara da coragem quando, na verdade, habitado pelo
medo, é movido pela cólera e não há nada pior para uma sociedade do que um
governante cruel e colérico, pois não julga segundo a lei e sim segundo seu
medo” (2020)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">E o que eles tanto temem?
Vejamos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Na <i>Sagrada família</i>, Marx e Engels nos falam dos mistérios da
construção especulativa com um exemplo bem interessante:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Quando, partindo das maçãs, das pêras, dos
morangos, das amêndoas, (dos umbus) reais eu formo para mim mesmo a
representação geral <i>‘fruta’</i>, quando,
seguindo adiante, imagino comigo mesmo que a minha representação abstrata <i>a fruta</i>, obtida das frutas reais, é algo
existente fora de mim e inclusive o <i>verdadeiro</i>
ser da pêra, da maçã, do umbu, etc. acabo esclarecendo, - em termos <i>especulativos</i> – <i>a fruta</i>
como a <i>substância</i> da pêra, da maçã,
do umbu, etc. Digo, portanto, que o essencial da pêra não é o ser da pêra, nem
o essencial do umbu o ser do umbu. <i>Que o
essencial dessas coisas não é a sua existência real, passível de ser apreciada
através dos sentidos, mas sim o ser abstraído por mim delas e a elas atribuído,
o ser da minha representação, ou seja, <b>a
fruta</b> (...) As frutas reais e específicas passam a valer apenas como frutas
aparentes, cujo ser real é a substância, a fruta”</i> (p. 72).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> Essa
operação da construção especulativa, que Marx e Engels expressam, nos
ajuda/ensina a depurar o real e verdadeiro sentido da materialidade do mundo,
imanente à existência natural da fruta efetiva que mata a fome tirada do pé;
pois nenhum umbu especulativo, como fruta, é capaz de matar a nossa fome; ao
fim e ao cabo é isso que eles temem: que nós entendamos o sentido da
radicalidade, que é apenas possível de ser encontrada no marxismo (a raiz do
homem é próprio homem, a raiz do humano é o próprio humano e nada pode nos
fazer, do ponto de vista prático, escapar dessa realidade); e que essa
inemilinável condição da humanidade produtora de si seja descoberta como
aqueles que reclamam as frutas reais de quem as tira, verdadeiramente, do pé. E
não é nenhum Messias, tampouco Jeff Bezos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Que as pedagógicas misérias
reais do trabalhador nos permitam o salto efetivo que vai da teoria convertida
em força material a um mundo que nunca mais venha a matar pessoas, clamadas à
sua própria morte, para salvar o Deus Mamon (dinheiro – é esse o real sentido da
frase ‘salvar a economia’), de fome, de pandemia, de carência material, ou
mesmo causar a morte de uma criança a cada 15 segundos no mundo, por falta de
condições de saneamento básico. Minhas palavras tortas só tem sentido porque
tomam parte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span><span face="Arial, sans-serif" style="font-size: 12pt;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Referências<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">BENJAMIN, W. (1931). O caráter destrutivo. In:
<<a href="https://medium.com/alayaspas/o-car%C3%A1ter-destrutivo-7f687b2ebff7"><span color="windowtext">https://medium.com/alayaspas/o-car%C3%A1ter-destrutivo-7f687b2ebff7</span></a>>.
Acesso em 2. Mar. 2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">BENJAMIN, W. Magia, técnica, arte e política.
Obras escolhidas I. 8° Ed. São Paulo: Brasiliense, 2012.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">CATRACA LIVRE. Roberto Justus indigna web com
discurso absurdo sobre coronavírus. Disponível em: <</span> <span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">https://catracalivre.com.br/entretenimento/roberto-justus-indigna-web-com-discurso-absurdo-sobre-coronavirus/>.
Acesso em 2. Mar. 2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">CHAUÍ, M. "O exercício e a dignidade do
pensamento: o lugar da universidade brasileira". Disponível em: <</span>
<span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">http://www.ufba.br/ufba_em_pauta/o-exercicio-e-dignidade-do-pensamento-o-lugar-da-universidade-brasileira-conferencia>.
Acesso em 2. Mar. 2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">GOETHE, J. W. Fausto: uma tragédia – segunda parte.
São Paulo: Editora 34, 2011.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">GONÇALVES, C. Falta de água potável mata uma
criança a cada 15 segundos. Disponível em: <https://exame.com/mundo/falta-de-agua-potavel-mata-uma-crianca-a-cada-15-segundos-3/>.
Acesso em 2. Mar. 2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">HEGEL, G. W. F. A razão na história: uma
introdução geral à filosofia da história. 4° Ed. São Paulo: Centauro, 2012.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">MARX, K & ENGELS, F. A sagrada Família.
São Paulo: Boitempo, 2003.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">MARX, K & ENGELS, F. Ideologia Alemã. São
Paulo: Boitempo, 2007.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">MARX, K. Crítica do programa de Gotha. São
Paulo: Boitempo, 2012.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">MARX, K. O Capital: crítica da economia
política. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /></span></p>
<span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">MCKAY, T. Jeff Bezos,
CEO da Amazon, ganhou US$ 13 bilhões em um só dia. Disponível em: <https://gizmodo.uol.com.br/jeff-bezos-ceo-amazon-ganhou-13-bilhoes-dolares-em-um-unico-dia/>.
Acesso em 2. Mar. 2020.</span><div><br /></div><div>REICH, W. Psicologia das massas do fascismo. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.<br /><div><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><br /></span></div><div><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">TRAVERSO, E. Revisão e revisionismo. In: SENA JÚNIOR, C. Z. de; MELO, D. B. de & CALIL, G. G. (org.). Contribuição à crítica da história revisionista. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2017.</span></div></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-53125290243608193492018-09-18T13:23:00.001-07:002018-09-18T13:24:57.526-07:00David Harvey: a vida sob a ditadura dos bancos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<em style="background-color: white; box-sizing: inherit;">Em longa entrevista, o geógrafo debate as mutações do capital, Trump, os retrocessos na América Latina, vigilância global e desigualdade crescente. Ele sustenta: “o mundo parece louco, mas a luta continua”</em></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Por<span style="box-sizing: inherit; font-weight: 700;"> Eleonora de Lucena, Leda Paulani </span>e <span style="box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Rodolfo Lucena</span>, no <a href="http://tutameia.jor.br/" rel="noopener" style="border-bottom: 1px dotted rgb(170, 170, 170); box-sizing: inherit;" target="_blank"><em style="box-sizing: inherit;">Tutaméia</em></a></span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">“O papel dos bancos mudou. Adam Smith pensava que os bancos existiam para servir as pessoas, mas agora é o oposto. Hoje em dia, as pessoas trabalham para servir aos bancos. Por causa de suas dívidas. Isso vai produzir raiva e as pessoas vão se dar conta de que vivem na ditadura dos bancos centrais do mundo. Talvez seja melhor viver sob a ditadura do proletariado.”</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Palavras de David Harvey ao <em style="box-sizing: inherit;">Tutaméia</em> na noite de quinta-feira, 23.08. Em nosso estúdio caseiro, o geógrafo britânico marxista falou das crises do capitalismo, da ascensão conservadora na América Latina, do avanço do autoritarismo após o crash de 2008, de seu apoio à campanha pela libertação de Lula:</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">“Eu acredito que há uma conspiração da direita e, por esse motivo, eu apoio a libertação de Lula. O que foi feito com ele é ultrajante, vingativo e inaceitável do ponto de vista democrático”, declarou.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Donald Trump, Black Lives Matter, Me Too, MST, Marx, Equador, mídia. Harvey transitou por múltiplos temas. Previu uma crise na China. Propôs uma dose de desenvolvimento autônomo na América Latina e advertiu: “A esquerda precisa pensar em se organizar numa linha mais sólida, antineoliberal no mínimo, se não anticapitalista”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Professor emérito da antropologia da Universidade da Cidade de Nova York, ele passou pelo Brasil para lançar “A Loucura da Razão Econômica, Marx e o Capital no Século 21”, seu mais recente livro editado pela <em style="box-sizing: inherit;">Boitempo</em>.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Começamos tratando dos 200 anos do nascimento de Karl Marx, completados há pouco. Por que o filósofo segue atual?</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">“Ele fez uma análise muito convincente e precisa de como funciona o capital, e isso não mudou muito. Não digo que tudo que ele falou está correto. Mas, como base, é impossível imaginar algo melhor do que o que Marx elaborou”, declara Harvey, autor de vários livros decifrando o clássico “O Capital”. Nos anos 1982, ele escreveu “Os Limites do Capital”, antevendo mudanças cruciais no sistema capitalista, que caminhava para o predomínio das finanças.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Harvey fala do crash de 2008, que está completando exatos dez anos. Observa a sucessão de crises –no Sudeste asiático, na Rússia, na Turquia, nos EUA, na Europa.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Diz ele: “A crise vem se movendo. Um dos maiores impactos da crise foi que o neoliberalismo perdeu sua legitimidade. O único jeito de conservar sua legitimidade é se tornar mais autoritário. Há uma linha direta entre a crise de 2008 e a volta dos regimes autoritários, nacionalistas. Ficou claro que o livre mercado não resolve todos os problemas. A única maneira de o neoliberalismo se manter é de forma cada vez mais autoritária, não só nos EUA, mas também na América do Sul, na Europa, na Turquia, na Índia. Há uma retórica populista e autoritária”, analisa.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Crise na China</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">É fato que a concentração de renda aumentou no mundo após a quebra do Lehman Brothers e de todo o turbilhão que se seguiu e que segue. Há outra crise na esquina?</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Harvey responde: “A crise tem objetivo de disciplinar a população para algum tipo de regime de austeridade. O dinheiro grande gosta de crise. No mundo todo, durante crises, os ricos ficam mais ricos”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Para o marxista, “a crise vai continuar se movendo. Existe uma crise financeira prestes a acontecer na China. Uma crise imobiliária seguida de uma crise financeira, que vai diminuir o apetite da China por matérias primas. Vocês já passaram por isso no Brasil. Em 2008, o impacto não foi tão grande para o Brasil justamente por causa da China. Quando a China começou a desacelerar, os BRICS sofreram com queda no comércio”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Loucura financeira</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Harvey, 82, condena a atuação do mercado financeiro global. “Dados recentes dizem que os maiores bancos dos EUA emprestam menos de 20% a atividades produtivas. 80% vai para atividades financeiras, especulação. É dinheiro comprando dinheiro, uma pirâmide. Bancos centrais criando dinheiro em estrutura global. Acho que isso é uma loucura que não tem como perdurar. Marx imaginou que isso poderia acontecer, e que, se acontecesse, o sistema poderia entrar em colapso”, afirma.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Atento a questões urbanas, ele fala das bolhas imobiliárias e declara: “As cidades não são construídas para as pessoas morarem, mas sim como investimentos”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Tratamos dos movimentos sociais. Diz ele: “A esquerda via por exemplo as redes sociais como mecanismos de liberação, mas elas são, na verdade, instrumentos de vigilância em muitos casos”. Na sua visão o Black Lives Matter “é muito político e reflete a longa história dessa luta nos EUA, com Martin Luther King, Malcom X etc”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Para além do incensado Me Too (contra o assédio), Harvey diz que “há um tipo de movimento muito mais abrangente que é sobre a participação política feminina: salário igual para função igual etc. Tem mais gente se candidatando hoje do que nunca antes e isso já é muito importante”.</span></div>
<span style="background-color: white;"><br />
</span><br />
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Ele pondera que “o movimento feminista não é claramente anticapitalista, e elas até podem ter algumas vantagens por conta do neoliberalismo”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Grande capital adora Trump</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Perguntamos sobre o futuro de Donald Trump. Harvey:</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">“Ele tem base, o grande capital o adora; ele desregulou muita coisa. Ele pode ser meio burro, mas fez tudo o que o mercado queria que ele fizesse. A questão sobre a possibilidade de impeachment depende das eleições para o Congresso. Eu não acho que passaria no Senado. Nós queremos nos livrar de Trump, mas também não queremos a volta da política dos Clinton”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">E acrescenta, com risos: “Eu sempre fui anti OTAN; ele também é. Tenho que admitir certa simpatia pela briga dele com a imprensa. Eu, como esquerdista, nunca me entendi bem com a imprensa americana também.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Choque na América do Sul</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Antes entusiasta da onda progressista na América do Sul nos anos 2000, David Harvey está agora frustrado:</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">“Fiquei chocado com algumas das coisas que aconteceram recentemente na América Latina. A saída do Correa no Equador me chocou. Ele deveria ter criado uma base política, mas confiou demais no próprio carisma. Minha primeira impressão era de que a esquerda teria força o suficiente para retornar. A direita que assumiu o poder de direita agiu rápido para destruir o aparato construído pela esquerda.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Para ele, “a esquerda precisa pensar em se organizar numa linha mais sólida, antineoliberal no mínimo, se não anticapitalista”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">E continua: “O problema é que a esquerda não sabe o que fazer quando chega ao poder. Agora, várias cidades espanholas estão com governos de esquerda, mas, muitas vezes, esses governos não sabem o que fazer. Nós, da esquerda, não fizemos um bom trabalho nesse sentido.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Desenvolvimento Autônomo</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Harvey ressalta que “os recursos internos disponÍveis na América Latina permitem algum nível de desenvolvimento autônomo. Houve algum sucesso na industrialização apoiada pelo Estado no Brasil. Acho que talvez seja hora de fazer isso de novo, de forma coordenada, com as outras grandes economias da região.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Ele elogia a iniciativa do banco dos BRICS e avalia que “uma maior integração das economias latino-americanas seria muito bom.”</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">O geógrafo lembra que “hoje em dia, o Estado é demonizado. Mas parte dele precisa ser consolidado. Se você quer lidar com problemas como o de moradia, você precisa de muita ação pública.”</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Soberania alimentar e MST</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Ele trata novamente do Equador. Lá, diz, “se poderia ter uma política de soberania alimentar. Acho que a questão de soberania alimentar deve ser perseguida. É importante, porque em quase todo mundo todo o modo de vida agrário foi destruído. Reconstruir uma economia rural é muito importante hoje em dia. Isso é importante do ponto de vista da economia tradicional e também do ponto de vista revolucionário, como forma de romper com o sistema capitalista internacional”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Lembramos que o MST persegue essas ideias e Harvey emenda: “Uma lição que aprendemos é que o MST pode fazer muito mais. E isso foi uma das minhas decepções com o Lula. Lula não apoiou de verdade o MST. A reforma agrária não avançou tanto no Lula. Acho que o Estado deve apoiar as linhas propostas pelo MST.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">Lula Livre</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Apesar das críticas ao PT, Harvey defende a liberdade de Lula:</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">“Até onde sei, as provas contra Lula são muito fracas. Aparentemente, ele não fez nada que qualquer político não faria. Eu apoio o Lula Livre porque eu acho que essa é uma situação maluca. O maior acusador dele está na cadeia e o presidente atual também é acusado de corrupção. Corrupção é uma coisa complicada. É possível acusar pessoas de corrupção com alguma facilidade. Al Capone foi preso por sonegação fiscal, e não por homicídios, por exemplo. Corrupção é um conceito capcioso”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">E acrescenta: “Eu acredito que há uma conspiração da direita e, por esse motivo, eu apoio a libertação de Lula. O que foi feito com ele é ultrajante, vingativo e inaceitável do ponto de vista democrático”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; box-sizing: inherit; font-weight: 700;">A luta continua!</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Harvey fala do novo livro:</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">“A economia convencional não lida bem com contradições. O resultado é que surgem políticas econômicas que aumentam a desigualdade, por exemplo, e que propõem soluções que pioram o problema. Como, por exemplo, acreditar que o livre mercado é capaz de oferecer moradia acessível. Nós já vimos que isso não acontece”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">E mais: “O capitalismo, que teoricamente definiria a liberdade, na verdade, significa dívida, escravidão ao dinheiro. Se você está interessado em liberdade, agora terá que ver como nos libertaremos desse sistema”.</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-bottom: 1.1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Algum comentário final, perguntamos?</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Harvey: “A luta continua! É difícil, porque o mundo está completamente louco! O capitalismo fez algumas coisas inovadoras, fantásticas, historicamente, mas agora precisamos caminhar para outra coisa.”</span></div>
<div style="box-sizing: inherit; font-family: "noticia text", serif; font-size: 18px; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Fonte: https://grupogpect.info/2018/09/17/david-harvey-a-vida-sob-a-ditadura-dos-bancos/</span></div>
</div>
Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-32080495586612387032018-08-29T09:51:00.000-07:002018-09-18T13:26:27.652-07:00Civilização contra Eros nos dias de produção de "um mito"...<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
Platão no seu livro O Banquete expressa, através de diálogos, a força/energia fundante do mundo, a saber, a principal delas, Eros, que representa o Amor. Eros, entretanto, é polimórfico (tem várias formas).</div>
<div style="text-align: justify;">
“Pois o ser entre os deuses o mais antigo é honroso, dizia ele, e a prova disso é que genitores do Amor não os há, e Hesíodo afirma que primeiro nasceu o Caos... e só depois Terra de largos seios, de tudo assento sempre certo, e Amor... Diz ele então que, depois do Caos foram estes dois que nasceram, Terra e Amor. E Parmênides diz da sua origem bem antes de todos os deuses pensou em Amor”</div>
<div style="text-align: justify;">
O amor é o belo (o belo a extrapolar o corpo físico, as belas ações e a capacidade de ser a se realizar além de si... o poeta diz: o Amor é dado de graça, é semeado no vento), mas também é virtude, em uma parte dos diálogos... e nos lembra que Alceste, ao dar a vida pelo companheiro recebeu dos deuses a graça de voltar ao mundo dos vivos pela beleza do gesto. Dentre outras leituras possíveis para Eros (Amor), o banquete também retrata a possibilidade de nos tornarmos imortais na mortalidade que só encontra substância na força que gera, ou seja, só é possível em Eros... a pulsão que funda o mundo, energia vital, instinto, que nos leva ao trabalho e à necessidade como parte de suas expressões... por aqueles que amamos (e por nós)...</div>
<div style="text-align: justify;">
Em algum momento, desde que fora escrito o Banquete, nós nos perdemos e nos desprendemos de Eros, pois este, só é verdadeiramente efetivo – não significa que o mesmo não se expresse ou exista – longe das estruturas de dominação inauguradas pelas sociedades de classe... ao nascerem as classes sociais, nasce o Estado e o patriarcado como sua forma de expressão (em função de determinações históricas específicas relacionadas ao controle do produto social); em um dado momento da história um grupo começa a controlar o excedente produzido pela sociedade em benefício próprio, e esse comando teve a face patriarcal.</div>
<div style="text-align: justify;">
Saíamos da sociedade comunista primitiva, onde a produção social era dividida em partes iguais para todos os que compunham a sociedade, que por sua vez tinha base matriarcal; para ver a fundação da desigualdade social (na perspectiva da produção material da riqueza social) originariamente colada à estrutura social dividida em classes e patriarcal... o patriarcado é irmão siamês histórico da desigualdade social e por ela potencializado como forma reprodutiva da divisão social-sexual do trabalho, que fornece às classes dominantes potências de dominação e muitas de nossas mazelas (basta pensar no que acontece no âmbito do capitalismo: os salários que as mulheres recebem para realizar a mesma função do homem são infinitamente menores – iniciativa privada – isso é garantir uma reprodução desigual ancorada na própria desigualdade alimentada pelo patriarcado no âmbito das classes é óbvio). Nada do que acontece à nossa volta está descolado da forma que produzimos a nossa própria existência, hoje sob a égide da infeliz influência destrutiva e castradora do capital (quando a justiça autoriza forçosamente a esterilização de uma mulher 'moradora' de rua esse encontro destrutivo e aviltante mostra o passeio dessas forças impossibilitadoras do humano no capital... e mostra também a farsa da democracia, Estado de Direito e outras coisas negociáveis nos ventos da crise que ameça a geração do mais-valor e do lucro, mulheres sofrem "impeachment" todos os dias, incluindo a torcedora russa objetificada por um coro que ela não entendia em função de não dominar a língua portuguesa e repetia um refrão que iluminou justo os maiores objetos destrutivos de si, aqueles coxinhas terceiro mundistas e sua incapacidade perceptiva e cognitiva são veículo do fascismo - depois acham exagero a fala de Marilena Chauí que os chamou de aberração - aquela velha carapuça que nossas avós nos lembra... só é livre o dinheiro que circula como personificação do capital e da mercadoria). O que representa a tripla jornada, senão a reprodução da força de trabalho necessária ao capital? A possibilidade de explorar ainda mais, a partir da maior exploração das mulheres no campo da supracitada divisão social-sexual do trabalho... a vivacidade do exército de trabalhadores reserva a oferecer o barateamento da sua força de trabalho como mantra da pulsão mercantil...</div>
<div style="text-align: justify;">
O modo de produção capitalista consegue ampliar as nossas misérias humanas e materiais, pois nele toda existência está presa num movimento – completamente desprovido de sentido – circunscrito a: lucrar-acumular e acumular-lucrar; isso feito às custas da exploração dos trabalhadores... mas para que? No Brasil, as 06 pessoas mais ricas do país, detém metade de toda riqueza aqui produzida; nenhuma delas é mulher... o governo pós-golpe tem 23 ministério (reduzidos de 32), nenhum deles tem uma mulher à frente (tampouco negros e demais “minorias”). Urge entendermos que esse tipo de “clivagem” societal produz níveis de desigualdade da qual o próprio sistema se alimenta, justo para produzir mais pobreza e mais miséria... Quantas mulheres estão na política (olhem para as cidades de vocês – quantas prefeitas temos? E vereadoras? E governadoras? E deputadas e senadoras? Esmagadora minoria... E o que aconteceu com a única presidente que tivemos em “500” e poucos anos de nossa suposta história? A violência que se instituiu e alimentou o ódio, o machismo, a homofobia, sexismo, feminicídio... num mesmo ato de depor dos anais da História não apenas uma presidente eleita, mas foi deposto (e sabotado violentamente – lembrem-se daquela sabatina no Congresso a que Dilma foi submetida, e a valentia e violência da alcateia diante dela – valentia que some ante as multinacionais do petróleo, se tornam cordeiros mansos, capachos) um governo que tinha à frente dele uma mulher, e talvez isso queira nos dizer algo sobre a forma com a qual as elites brasileiras mantém seus monstros na coleira a soltá-los quando o outro – o diferente – consegue uma mínima expressão que seja! Quando concordamos com uma “sabotagem” dessa natureza, considerando o espectro sob o qual o processo se determina e se põe, também estamos a admitir e naturalizar nas ruas daquele “psiu”, ou “ei gostosa” ao estupro (figurado num vil adesivo de Dilma de pernas abertas colados aos tanques de combustível, e depois esses valentões somem quando a gasolina, nesse “governo de homens brancos de meia idade”, experimenta sucessivos aumentos chegando à cifras próximas aos 5 reais, e ainda vão caladinho enfrentar filas para abastecer durante a greve dos caminhoneiros, agora pagando algo próximo dos 10 reais, e nenhum adesivo contendo aqueles “homens brancos de meia idade” e sequer uma expressão de raiva contra o bandido vampiresco)... E essa quebra na cronologia da história supõe o que? Eliminar a “igualdade” e horizontalidade na produção material – veja o papel central que as mulheres tem nas sociedades indígenas, sem classe e sem Estado... mas essa história não deve ser contada.</div>
<div style="text-align: justify;">
O modo de produção capitalista anuncia muitas coisas, mas não as cumpre... Marx na sagrada família dizia a respeito da igualdade, no campo da propriedade e da posse, sob o comando do capital tem pouco significado efetivo na esteira da égide da economia política capitalista, pois só somos iguais ao sermos portadores de propriedade, todavia a crueldade da balança pesa para o lado mais forte... de um lado estão aqueles que historicamente apenas puderam possuir sua força de trabalho e de outro os donos dos meios de produção... a nós resta nos vender enquanto desprendimento de cérebro, nervos e músculo e isso, aparentemente, nos faz crer que somos tributários dos donos dos meios de produção, no sentido de que deles somos dependentes para termos trabalho: o que seria de nós se não fossem os ricos / empresários, bondosos e piedosos para com a nossa necessidade de trabalho. Faça a pergunta contrária, o que seria deles com as suas máquinas e fábricas, paradas sem o nosso trabalho??? A tragédia do desenvolvimento é a nossa realização cega (para lembrar de Fausto...) a destruir Eros, energias vitais e os nossos necessários instintos libidinosos (por que criadores) reprimidos com toda sorte de teologias: das filosofias históricas de marcha única, ao progresso e à prosperidade (a trindade da enganação). O Amor (Eros) hoje é uma mercadoria!</div>
<div style="text-align: justify;">
Marcuse em Eros e Civilização expressou um otimismo (também não realizado) da seguinte maneira: “[...] que as realizações da sociedade industrial avançada habilitariam o ser humano a inverter o rumo do progresso, a romper a união fatal de produtividade e destruição, de liberdade e repressão – por outras palavras, a aprender a gaya sciencia de como usar a riqueza social para moldar o mundo humano de acordo com seus instintos vitais, na luta combinada contra os provisores da morte” (p. 13). Porém o que nos foi ofertado são formas repressivas de controle que sustentam a violência inexorável de um movimento completamente sem sentido, moldado pelo dinheiro, de produção em massa de mercadorias e pessoas negociáveis... aquilo que Kurz chamaria de seres humanos não rentáveis, com as “minorias” degrau abaixo dessa vil rentabilidade (juventude negra nas periferias, mulheres, LGBT’s, são ainda mais não rentáveis do que os outros não rentáveis - lembrando que a diferença de rentabilidade é vital para a reprodução do capital) . A civilização mata Eros a cada dia mais, pois as forças do capitalismo, nos lembra Mészáros (2002), hoje são sobremodo destrutivas (olhe para algo que não enfrente um processo de destrutividade; consegue encontrar???).</div>
<div style="text-align: justify;">
Marcuse vê essa destrutividade da seguinte forma: “É quase impossível reconhecer nas aspirações assim definidas as de Eros e sua transformação autônoma de um meio e de uma existência repressivos. Se essas finalidades tiverem de ser satisfeitas sem um conflito irreconciliável com os requisitos da economia de mercado, deverão ser satisfeitas dentro do quadro estrutural do comércio e do lucro. Mas este gênero de satisfação equivaleria a uma negação, pois a energia erótica dos Instintos de Vida não pode ser libertada sob as condições desumanizantes da afluência lucrativa” (p. 22).</div>
<div style="text-align: justify;">
Duas coisas no horizonte da luta contra os fundamentos da desigualdades sob a base da sociedade capitalista (capital e propriedade privada) são imprescindíveis para reconstruir a igualdade não amorfa (que redistribuí o produto social de forma igualitária): a restauração da potência política do “matriarcado – no sentido da centralidade” – que sustentou de forma mais efetiva essa igualdade na história e o encontro com o Eros restaurado como a potência que se recusa a alimentar-se de dinheiro, poder, útero, órgão sexual, cor da pele e toda sorte do que nos torna iguais apenas como miseráveis a navegar nesse barco de uma rota sem sentido que não vai a lugar nenhum. Caso queira continuar essa navegação, embarque nas asneiras ditas por um suposto "mito" que em si não é nada, todavia no para-si encarna autoritarismo que sempre agrada ao capital em sua verve de exploração-expropriação nas curvas da divisão social-sexual do trabalho, pois o útero deve ser entregue à sorte do mercado, para ser massacrado, como a carcaça do tempo que gera a vida capturado no nascedouro, sempre. A luta pela vida, por Eros (parafraseando Marcuse), pelos direitos das mulheres, é uma luta política – contra a “civilização” – e sobremodo é uma luta pela vida!!!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Wagnervalter Dutra Júnior</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Referência</div>
<div style="text-align: justify;">
Platão - O Banquete</div>
<div style="text-align: justify;">
Engels - A origem da família da propriedade privada edo Estado</div>
<div style="text-align: justify;">
Marcuse - Eros e civilização</div>
</div>
Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-30722807026693026512011-09-06T13:24:00.000-07:002011-09-06T13:24:00.983-07:00Crise estrutural do capital e precarização do homem-que-trabalha - Giovanni Alves<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:TrackMoves/> <w:TrackFormatting/> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:DoNotPromoteQF/> <w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> <w:SplitPgBreakAndParaMark/> <w:DontVertAlignCellWithSp/> <w:DontBreakConstrainedForcedTables/> <w:DontVertAlignInTxbx/> <w:Word11KerningPairs/> <w:CachedColBalance/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathPr> <m:mathFont m:val="Cambria Math"/> <m:brkBin m:val="before"/> <m:brkBinSub m:val="--"/> <m:smallFrac m:val="off"/> <m:dispDef/> <m:lMargin m:val="0"/> <m:rMargin m:val="0"/> <m:defJc m:val="centerGroup"/> <m:wrapIndent m:val="1440"/> <m:intLim m:val="subSup"/> <m:naryLim m:val="undOvr"/> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A verdadeira crise do nosso tempo histórico não é a crise das economias capitalistas, mas sim a crise do homem como sujeito histórico de classe, isto é, ser humano-genérico capaz de dar respostas radicais à crise estrutural do sociometabolismo do capital em suas múltiplas dimensões.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É importante salientar que crise não significa morte do sujeito histórico de classe, muito menos sua supressão irremediável, mas tão–somente a explicitação plena da ameaça insuportável à perspectiva de futuro, risco de desefetivação plena do ser genérico do homem e, ao mesmo tempo, oportunidade histórica para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A crise é o momento em que se explicita, em sua dramaticidade histórica (e diriamos hoje, midiática), a “alienação” como um poder “insuportável”, isto é, um poder contra o qual homens e mulheres enquanto individualidades pessoais e sob determinadas condições, se insurgem ou se indignam na medida em que se torna perceptível, mesmo no plano da consciência contingente de classe, a sua condição de proletariedade.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Na Ideologia Alemã, de 1847, Karl Marx e Friedrich Engels, conseguiram apreender, com genialidade visionária, o que torna-se hoje cada vez mais perceptível no capitalismo global do século XXI:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a constituição de uma massa da humanidade como massa totalmente “destituída de propriedade” e que se encontra, ao mesmo tempo, em contradição com um mundo de riquezas e de cultura existente de fato. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Para Marx e Engels, a explicitação plena da condição de proletariedade – e que está na raiz dos movimentos de jovens precários no mundo do capitalismo mais desenvolvido – pressupõem um alto grau de seu desenvolvimento das forças produtivas, que segundo eles, “contém simultaneamente uma verdadeira existência humana empírica, dada num plano histórico-mundial e não na vida puramente local dos homens”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E salientam: “Apenas com este desenvolvimento universal das forças produtivas dá-se um intercâmbio universal dos homens, em virtude do qual, de um lado, o fenômeno da massa ‘destituída de propriedade’ se produz simultaneamente em todos os povos (concorrência universal), fazendo com que cada um deles dependa das revoluções dos outros; e, finalmente, coloca indivíduos empiricamente universais, histórico-mundiais, no lugar de indivíduos locais”.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Deste modo, é sob as condições históricas da crise do sujeito de classe que se coloca a oportunidade radical de sua afirmação objetiva e subjetiva, seja enquanto massa “destituida de propriedade”, seja enquanto indivíduos empiricamente universais, histórico-mundiais, no lugar de indivíduos locais” (não é desprezivel o papel da Internet com seus blogs alternativos e redes sociais – como facebook e twitter – na construção das individualidades histórico-mundiais).</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por outro lado, é importante salientar também que a crise estrutural do capital não significa incapacidade de crescimento (e expansão) da economia capitalista. Crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial. Apesar da sua crise estrutural, o capital como sistema de acumulação de valor e modo estranhado de metabolismo social, tem-se expandido nos últimos trinta anos, apresentando, por exemplo, na passagem para o século XXI, índices exuberantes de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nas fronteiras da modernização do capital (como Índia, China e Sudeste Asiático).</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Apesar da crise financeira e crise das dívidas soberanas nos EUA e União Européia, em 2008 e 2011, é provável que, a curto ou médio prazo, as economias norte-americanas e europeias possam retomar, a duras custas, o crescimento do PIB. Entretanto, percebe-se cada vez mais que o crescimento do PIB não se traduz em bem-estar social. Pelo contrário, nas últimas décadas aumentou nos países ricos a precariedade do trabalho, a contenção dos gastos públicos, corte de direitos sociais e a corrosão do Estado-Providência. Portanto, torna-se visível, cada vez mais, a incapacidade estrutural do capital como modo de controle estranhado do metabolismo social e sistema produtor de mercadorias, em realizar suas promessas civilizatórias de desenvolvimento e bem-estar social, inclusive no núcleo orgânico mais desenvolvido do capitalismo histórico.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Portanto, o sentido radical da crise do nosso tempo histórico diz respeito à incapacidade da forma social do capital em conter (e realizar) as possibilidades de desenvolvimento do ser genérico do homem pressupostas pela nova materialidade sócio-técnica em virtude da degradação das condições materiais de reprodução humana, inclusive no pólo desenvolvido do capitalismo global. Este é mais um elemento compositivo do esgotamento histórico de um modo de controle do metabolismo social baseado na propriedade privada dos meios de produção social e divisão hierárquica do trabalho.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Na verdade, a crise estrutural do capital possui as características de uma “síndrome” social, isto é, de um “estado mórbido” caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas associados a uma “condição social crítica”, suscetível de despertar reações de temor e insegurança global. Como salientou Antonio Gramsci em seus Cadernos do Cárcere, “a crise consiste no fato que o velho morre e o novo não pode nascer: neste interregno verificam-se os mais variados fenômenos mórbidos” (é o que iremos tratar nos próximos artigos como sendo a barbárie social).</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A “condição crítica” da síndrome do capital é a convergência histórica de um conjunto de crescentes contradições sociometabólicas do sistema mundial do capital, principalmente a partir de meados da década de 1970. A principal delas diz respeito à contradição capital-trabalho, na medida em que é através do trabalho que o sociometabolismo do capital vincula os seres humanos à natureza: a aguda elevação da produtividade do trabalho em virtude do processo cumulativo do progresso técnico, tende a explodir a materialidade do valor-trabalho, uma “implosão” contínua e permanente no espaço-tempo comprimido do novo tempo histórico do capitalismo global. É por isso que o consumo de trabalho vivo de uma parte da força de trabalho torna-se irrelevante para o sistema do capital. (José Nun, um dos teóricos da CEPAL, irá chama-las de “massa marginal” e Robert Kurz, de “sujeitos monetários sem dinheiro”). Eis a raiz da ampliação persistente da precariedade social do trabalho no plano histórico-mundial.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em 1863, nos Grundrisse, Karl Marx conseguiu apreender o traço radical do nosso tempo histórico, ao observar que, sob o capitalismo,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“o tempo é tudo, o homem já não é nada; é, quando muito, a carcaça do tempo”. Na verdade, são as “massas marginais”, os “sujeitos monetários sem dinheiro” ou ainda os homem-carcaças – a massa da humanidade “destituída de propriedade” – que estão se insurgindo nos riots dos bairros pobres de Londres ou nos movimentos sociais do precariato indignado que ocupa as praças de Lisboa e Madri.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Enfim, a crescente redundância do trabalho vivo e da força de trabalho é a “ponta do iceberg” de um sistema de metabolismo social baseado na precariedade social do trabalho e que expõe cada vez mais seus limites estruturais, demonstrando ser incapaz de conter o processo civilizatório humano-genérico.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capital como sendo, por um lado, no plano da objetividade social, pela (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, temos salientado que o caráter radical da crise estrutural do capital, diz respeito a (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe instaurado pelo estado de barbárie social. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem-que-trabalha.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A precarização do trabalho não se resume àquilo que pensa a sociologia do trabalho, isto é, a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários. A precarização do trabalho implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico (o que explica a pandemia de depressão e transtornos psicológicos do homem-que-vive-do-trabalho).</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sob o capitalismo global, a manipulação (ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital) assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O processo de dessocialização do proletariado, com impactos na consciência de classe e o poder da ideologia no bojo do capitalismo manipulatório com a intensificação do fetichismo da mercadoria devido a vigência do mercado na estruturação social, compôs um cenário qualitativamente novo de riscos de desefetivação do homem como ser capaz de dar respostas radicais à crise estrutural do sociometabolismo do capital em suas múltiplas dimensões. Deste modo, a barbárie se instaura como metabolismo social, isto é, constitui-se a barbárie social, uma nova dimensão da barbárie histórica dentro do capitalismo. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">***</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Giovanni Alves é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da Rede de Estudos do Trabalho (RET) e do Projeto Tela Crítica. É autor de vários livros e artigos sobre o tema trabalho e sociabilidade, entre os quais O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo Editorial, 2000) e Trabalho e subjetividade: O espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório (Boitempo Editorial, 2011).</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Fonte: <a href="http://boitempoeditorial.wordpress.com/">http://boitempoeditorial.wordpress.com/</a> </div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-78232192836646918902011-08-13T10:14:00.000-07:002011-08-13T10:14:14.647-07:00A dialéctica da estrutura e da história: Uma introdução - István Mészáros<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:TrackMoves/> <w:TrackFormatting/> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:DoNotPromoteQF/> <w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> <w:SplitPgBreakAndParaMark/> <w:DontVertAlignCellWithSp/> <w:DontBreakConstrainedForcedTables/> <w:DontVertAlignInTxbx/> <w:Word11KerningPairs/> <w:CachedColBalance/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathPr> <m:mathFont m:val="Cambria Math"/> <m:brkBin m:val="before"/> <m:brkBinSub m:val="--"/> <m:smallFrac m:val="off"/> <m:dispDef/> <m:lMargin m:val="0"/> <m:rMargin m:val="0"/> <m:defJc m:val="centerGroup"/> <m:wrapIndent m:val="1440"/> <m:intLim m:val="subSup"/> <m:naryLim m:val="undOvr"/> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
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Não é, portanto, de forma alguma acidental que, em prol da mudança estrutural exigida, Marx seja levado (quando, no período histórico de crises e explosões revolucionárias da década de 1840, articulou a sua própria – e radicalmente nova – concepção da história) a concentrar sua atenção crítica no conceito de estrutura social.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na sua primeira grande obra de síntese, os Manuscritos económicos e filosóficos de 1844, Marx sublinha que, no decurso do desenvolvimento histórico moderno, a ciência natural, através da assimilação das práticas materiais da produção industrial capitalista, se tornara, de uma forma alienada, a base da vida social; circunstância essa que Marx considerava ser "a priori, uma mentira". [1] Do seu ponto de vista isto teria de ser rectificado libertando a própria ciência do seu invólucro alienante. Ao mesmo tempo a ciência tinha de ser mantida, numa forma qualitativamente modificada, refeita como "a ciência do homem" [2] – intrinsecamente inseparável da "ciência da história" – enquanto base enriquecedora e gratificante da vida humana efectiva. Porém, para alcançar esta transformação fundamental, era absolutamente necessário entender e pôr a nu as determinações estruturais profundamente enraizadas através das quais a potencialidade criativa do trabalho humano, incluindo o esforço científico de indivíduos na sociedade, fora subjugada pelos imperativos alienantes da expansão e acumulação de capital fetichista/incontrolável.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por esta razão a categoria estrutura social tinha de adquirir, de uma forma absolutamente tangível, uma importância seminal na visão marxiana. Ao contrário do que acontecia nas abordagens filosóficas especulativas que dominavam aquela época, não poderia haver nada de misterioso acerca da análise necessária da estrutura social. Nem tão pouco podia ser permitido a interesses políticos escusos ofuscar as questões em causa, em prol de uma apologia do estado especulativa e transubstanciada.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Já em 1845, Marx destacava energicamente, na sua contribuição para o livro escrito com Engels, A ideologia alemã, que todos os elementos relevantes da análise teórica em questão, podiam ser objecto de observação empírica e de análise racional. O quadro conceptual explicativo teria de se tornar totalmente inteligível com base nas práticas correntes de reprodução da sociedade, nas quais os seres humanos se encontravam quotidianamente envolvidos. Neste sentido, Marx insistia que a única investigação teórica válida teria de ser capaz de trazer à superfície, "sem qualquer mistificação ou especulação, a relação da estrutura social e política com a produção. A estrutura social e o estado estão em constante evolução a partir do processo vivencial dos indivíduos determinados." [3]</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta aproximação teórica desmistificadora, que visava não apenas as condições próprias à época de Marx mas que tinha, enquanto explicação histórica estruturalmente ancorada no passado e no futuro, uma validade universal, teve um papel radicalmente emancipador no quadro das explosões revolucionárias da década de 1840, continuando desde então a ter uma função emancipadora vital.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao concentrar-se no processo vivencial dos indivíduos determinados envolvidos na alienante produção industrial capitalista, tornou-se clara para Marx "a necessidade, e ao mesmo tempo as condições, de uma transformação tanto na estrutura industrial como na estrutura social" [4] Isto é, tornou-se possível compreender tanto a necessidade de uma profunda transformação em si mesma, como a natureza objectiva das condições que deveriam ser objecto dessa transformação. Estas últimas correspondiam às características estruturalmente determinadas da vida social, ao mesmo tempo que realçavam a crescente gravidade da crise em questão, uma vez que eram as mais profundas determinações estruturais das condições objectivas que exigiam essa mesma alavancagem prática tangível e abrangente enunciada por Marx. Devido às características inerentes aos problemas encontrados, a alavancagem exigida para a superação dessa crise histórica não poderia ser outra senão a transformação radical da estrutura industrial e social.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É por esta mesma razão que, aos olhos de Marx, uma simples alteração das circunstâncias políticas não estaria à altura da grandeza da tarefa histórica. Aquilo que se afigurava como realmente necessário era nada mais, nada menos que uma mudança estrutural qualitativa capaz de abarcar a totalidade dos processos fundamentais de reprodução da sociedade. Evidentemente, uma mudança deste tipo teria de incluir a esfera política em toda a sua extensão, desde as instituições legislativas mais gerais às entidades locais de regulação. No entanto tal mudança não poderia limitar-se ao domínio político, visto que tradicionalmente, mesmo as maiores sublevações políticas do passado tendiam a mudar apenas a elite dirigente, mantendo a estrutura exploradora da reprodução material e cultural na mesma situação de articulação hierárquica de classes.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assim, de acordo com a concepção marxiana, a "estrutura social e política" teria de ser integralmente transformada, e tal transformação teria de ser levada a cabo pelos indivíduos sociais referidos na nossa última citação de A ideologia alemã. Como Marx deixa bem claro num outro escrito do mesmo período de sublevações revolucionárias, a tarefa histórica teria de ser realizada, pelos indivíduos sociais, através de reestruturação de "alto a baixo das condições da sua existência política e industrial e consequentemente de toda a sua maneira de ser". [5]</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A questão da estrutura social não pode ser correctamente perspectivada sem uma apreciação dialéctica e multifacetada de todos os factores e determinações complexas nela envolvidas. Pois a mais simples das verdades é que, em toda a forma particular de ordem reprodutiva da Humanidade, a estrutura social não pode ser compreendida sem a correspondente articulação com a dimensão histórica; e que, inversamente, não pode existir uma real compreensão do movimento histórico sem a compreensão, na sua especificidade, das determinações materiais estruturais correspondentes.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Neste sentido, a história e a estrutura das condições do humano estão sempre profundamente interligadas. Por outras palavras, não pode existir, em qualquer forma social concebível, uma estrutura pertinente abstraída da História, no seu curso dinâmico de desvelamento; nem História em si mesma, sem as estruturas associadas que sustentam as características essenciais que determinam a formação social em questão.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ignorar o carácter correlativo da estrutura e da história acarreta as mais desastrosas consequências para a produção teórica, pois uma abordagem anti-dialéctica resulta necessariamente ou numa descrição anedótica e filosoficamente irrelevante dos factos e personagens históricas, que apresenta a sequência cronológica "do antes e depois" como contendo em si mesma a sua auto-justificação narrativa, ou num culto mecânico do "estruturalismo".</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A primeira insuficiência é bem demonstrada pelo facto de já Aristóteles classificar os relatos históricos de então como filosoficamente inferiores à poesia e à tragédia, dada a pormenorização anedótica que tais relatos (em sintonia com o significado do termo -istor, à letra testemunha ocular) ofereciam dos acontecimentos. [6] No que toca à violação estruturalista da interligação entre estrutura e história, e à sua substituição por um reducionismo mecanicista de orientação positivista, podemos dela encontrar um exemplo paradigmático na outrora muito influente obra de Claude Lévi-Strauss, como será o caso no último capítulo do presente artigo. [7] Por ora, uma única citação ser-nos-á suficiente para demonstrar o carácter anti-dialéctico e anti-histórico da sua abordagem:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>" A História é um conjunto descontínuo composto pelos mais diversos domínios da própria história, cada um dos quais é definido por uma frequência característica e por um diferencial de codificação do antes e depois... A natureza descontínua e taxionómica do conhecimento histórico aparece-nos claramente... Num sistema deste tipo, a alegada continuidade histórica só pode ser garantida por contornos fraudulentos... Será necessário reconhecer que a história é um método sem um objecto claro para que rejeitemos uma qualquer equivalência entre o conceito de história e o conceito de humanidade, correspondência essa que nos tentaram impingir com o intuito dissimulado de fazer da História o último refúgio para um humanismo transcendental: como se o Homem pudesse recuperar a ilusão de liberdade no plano do "Nós" pela simples recusa dos "Eus" desprovidos de consistência. Na verdade a história não está ligada ao homem nem a qualquer objecto particular. Ela consiste inteiramente no seu método, que a experiência demonstra ser indispensável para a catalogação dos elementos de qualquer estrutura, humana ou não-humana, no seu todo." [8] </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assim a profunda relação dialéctica existente entre continuidade e descontinuidade do desenvolvimento histórico é rejeitada, de forma reveladora, por Lévi-Strauss – rejeição essa que ganha contornos insultuosos ao acusar aqueles que defendem esse mesmo carácter dialéctico de apresentarem raciocínios "fraudulentos" – de modo a permitir restringir o alegado "método sem objecto" da História, de uma forma reducionista e mecanicista, a uma função secundária de "catalogação de elementos de toda estrutura existente". Desta forma as determinações objectivas, vitais para a compreensão da história realmente existente, são completamente suprimidas.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No entanto, e paradoxalmente para o próprio Claude Lévi-Strauss, como resultado da adopção de uma abordagem mecanicista e reducionista da história, "humana ou não-humana", o seu conceito de estrutura – que corresponde apenas a uma definição igualmente mecânica de estrutura como aquilo cujos elementos podem ser catalogados e dissecados de forma positivista – revela-se desprovido de qualquer significado explicativo real no que se refere ao desenvolvimento social. Tudo isto é levado a cabo, de acordo com o próprio Lévi-Strauss e com os seus discípulos [9] , no apogeu da influência do Estruturalismo na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, em nome do "rigor científico anti-ideológico" mais em voga.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Certamente que a orientação das abordagens "pós-estruturalistas" e "pós-modernas" não poderá de forma alguma ser considerada superior. Todas elas partilham a mesma atitude céptica em relação à História e o mesmo desprezo absoluto das relações e determinações objectivas e dialécticas. Por vezes esta atitude produz enunciados totalmente mistificadores, roçando a mais oca sofística. Assim, o líder teórico do "pós-modernismo", Jean-François Lyotard, – um arrependido que chegou a integrar o grupo de esquerda francês responsável pela publicação da revista Socialismo ou Barbárie – oferece-nos a seguinte declaração programática: "O que é então o pós-modernismo? É sem dúvida parte do moderno... uma obra pode apenas tornar-se moderna se tiver sido em primeiro lugar "pós-moderna". O "pós-modernismo assim entendido não é o estado último do modernismo mas o seu estado inicial, e este estado é constante". [10] Da mesma forma, a concepção programaticamente anti-dialéctica de Lyotard da contraposição das partes (metaforicamente exultadas sob a forma de "pequenas narrativas" ou "petit récits" ) [11] ao todo ( a priori e prontamente rejeitado na forma de "grand narratives") é incoerente e capitulacionista.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aquilo que aqui nos ocupa – isto é, a profunda correlação dialéctica entre estrutura e história – não é apenas teórico, muito menos puramente académico. A sua enorme importância é fruto das amplas consequências práticas desta relação para a acção emancipatória dos seres humanos no desvelamento das tendências do desenvolvimento histórico. Pois sem uma real compreensão do verdadeiro carácter das articulações hierárquicas das determinações estruturais da, cada vez mais destrutiva, ordem de reprodução social do capital, com o seu sistema orgânico no qual as partes sustentam o todo e vice-versa, na sua actual e paralisante circularidade recíproca, não pode haver qualquer melhoria significativa em tempo útil.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A ciência revolucionária marxiana, na sua resposta aos problemas complexos que acarreta uma mudança estrutural abrangente – possível pela compreensão dos mecanismos objectivos estrategicamente vitais que alavancam a transformação socio-cultural – foi formulada precisamente com esse objectivo. Um discurso estruturalista conservador, anti-histórico e anti-dialéctico, à la Lévi-Strauss, (que visa a catalogação dos elementos dubiamente identificados do existente e do seu passado mitificado, e junta os lamentos mais pessimistas acerca da "humanidade como o seu pior inimigo", à desculpabilização das instituições e forças destrutivas do desenvolvimento social e político do capitalismo), é-lhe diametralmente oposto. O mesmo se aplica ao chilreio conservador do discurso pós-moderno acerca das "pequenas narrativas", inventado com o intuito arrogante de descartar, não apenas implicitamente mas explicitamente, aquilo que Lyotard designa como "as grandes narrativas da emancipação" [12], assim como para cortar com toda a tradição progressista do passado.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O mais profundo sentido da concepção marxiana é a defesa apaixonada de uma mudança estrutural a ser realizada num sentido histórico global, afectando directamente toda a Humanidade. Sem focar este aspecto do pensamento de Marx, nem a sua mensagem central nem o espírito que o anima são compreensíveis.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Obviamente, a orientação histórica global da mudança estrutural defendida por Marx, com a sua ênfase na urgência das tarefas com que se confrontam os indivíduos no seio da sociedade, devido ao perigo da auto-destruição da Humanidade, só poderia surgir num momento histórico determinado. Todas as formas sociais conhecidas têm os seus limites históricos inexoráveis. Independentemente da idealização do capitalismo como "o sistema natural da mais perfeita liberdade e justiça", levada a cabo pelos economistas e políticos clássicos do século XVIII (para não mencionar as teorias dos que mais tarde defendem até as piores contradições deste modo de produção), o capitalismo não pode constituir uma excepção a tais limites.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A concepção radicalmente nova de Marx foi tornada possível numa época em que a necessidade objectiva de uma profunda mudança histórica, que permita a passagem da ordem social capitalista a uma outra qualitativamente diferente em todas as suas determinações fundamentais, enquanto modo de controlo metabólico social da humanidade, surge, com a sua finalidade imperiosa, na agenda histórica – com o início da fase descendente do sistema do capital. Esta mudança decisiva no progresso dos processos de reprodução da sociedade do capital, historicamente sem precedentes e em muitos aspectos deveras positiva, coincide com o período de crises e explosões revolucionárias, que Marx testemunhou com profunda lucidez. Graças a esta mudança histórica radical o sistema do capital passou a permitir mudanças parciais, independentemente da sua extensão, mas não mudanças na sua perspectiva global, apesar do grotesco slogan propagandístico do "capitalismo popular", proclamado pelos beneficiários da ordem dominante.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como testemunhamos constantemente, a "globalização" é hoje em dia ilusoriamente retratada pelos interesses velados dos poderes estabelecidos como um simples prolongamento da viabilidade do sistema do capital num futuro intemporal, como se a "globalização" fosse uma característica totalmente nova, símbolo do clímax eternizável e da perfeita realização dos destinos da ordem reprodutiva da sociedade do capital. No entanto, a verdade incómoda é que a visão crítica de Marx continha já em si uma perspectiva global inerente, desde o seu início e sobretudo a partir dos anos de 1843-44, demonstrando vigorosamente a irreversibilidade da fase descendente do desenvolvimento do capital.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O princípio desta fase descendente trouxe consigo graves implicações cujo sentido histórico apontava para a destruição da Humanidade, a menos que um modo radicalmente novo de controlo de reprodução social se pudesse substituir à ordem existente. Esta dolorosa verdade apareceu objectivamente no horizonte histórico, em meados do século XIX, como irreversível para a época de então, apesar de nalgumas partes do planeta a ascensão do capital estar ainda longe da sua conclusão como mais tarde Marx explicitamente admitiu. [13]</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Este novo período histórico conceptualizado por Marx representava um contraste fundamental com a fase de desenvolvimento ascendente do sistema do capital. Pois a fase triunfante da ascensão do capital, que começara nas primeiras décadas do século XVI, resultou – não obstante o seu impacto alienante em todos os aspectos da vida humana – no maior feito produtivo de toda a história. No entanto, é de forma perturbadora que, no decurso das décadas finais dessa fase ascendente de desenvolvimento, surge um problema, insuperável no quadro do capitalismo, que tenderia apenas a piorar. A saber, o crescimento de uma propensão para a destruição geradora de crise – cujas perigosas implicações foram profundamente compreendidas por Marx bem antes de qualquer outro [14] – prenunciando a implosão da ordem reprodutiva do capital. Implosão essa gerada não por um qualquer desastre natural, mas pelo próprio peso que as contradições sistémicas e os explosivos antagonismos assumem no ponto culminante do domínio e enraizamento global do capital.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta determinação contraditória trazia consigo, como horizonte último da fase sistémica descendente, o amadurecimento irreversível dos limites históricos daquela que era de longe a mais poderosa ordem de reprodução social conhecida em toda a história. Por outras palavras, este sério amadurecimento histórico dos limites estruturais absolutos do capital, preconizava não apenas outro período de crise e correspondente sofrimento, cuja recorrência é norma no desenvolvimento do capitalismo, mas a destruição total da Humanidade, como antecipara Marx. Por este mesmo motivo Marx escreveu em A ideologia alemã, dando a sua própria versão da alternativa Socialismo ou Barbárie meio século antes da famosa advertência de Rosa Luxemburgo, que:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>"Com o desenvolvimento das forças produtivas chega-se a um momento em que as forças produtivas e os mecanismos de troca são levados a ser aquilo que, no quadro das relações existentes, apenas causa prejuízo, deixando assim de ser produtivas para se tornarem forças destrutivas." [15] "Assim as coisas chegam a um estado tal, que os indivíduos se vêem obrigados a apropriar-se da totalidade das forças produtivas existentes não apenas para chegar a uma manifestação de si, mas tão simplesmente para salvaguardar a sua própria sobrevivência". [16] </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Além disso, paralelamente a esta mudança qualitativa da fase histórica ascendente para a descendente, também a avaliação teórica dos problemas em questão feita do ponto de vista privilegiado do capital estava em plena mutação. Assim em contraste com a "anatomia da sociedade civil" [17] retratada na "economia burguesa científica" pelos maiores representantes da economia política clássica do século XVIIII e do primeiro terço do século XIX, e generosamente louvada por Marx como "genuína investigação científica", a defesa acrítica do sistema do capital tornou-se lastimavelmente a regra geral.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta mudança de atitude e de perspectiva estava plenamente de acordo com a necessidade ideológica de racionalizar e atenuar as contradições sistémicas que surgiram e se intensificaram no início da fase descendente do desenvolvimento do capital. Concomitantemente, esta degradação da abordagem teórica foi caracterizada da seguinte forma por Marx no "Posfácio à Segunda Edição Alemã" do capital:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>"A Economia Politica pode manter-se como ciência somente enquanto a luta de classe estiver latente ou se manifestar apenas em fenómenos esporádicos. [No entanto] em França e em Inglaterra a burguesia conquistou o poder político. Desde então, a luta de classes adoptou, tanto na prática como na teoria, formas cada vez mais claras e ameaçadoras. Ouviu-se então o toque de finados da economia burguesa científica. A questão deixou então de ser se este ou aquele teorema era verdadeiro para passar a ser se ele era útil ou prejudicial ao capital, vantajoso ou desvantajoso, politicamente perigoso ou não. Em vez de investigadores desinteressados foram contratados mercenários; em vez de uma investigação científica genuína surgiu a má consciência e o intento maldoso da apologia." [18] </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Neste sentido é suficiente comparar os escritos de F.A. Hayek com o trabalho de Adam Smith para poder observar as devastadoras consequências intelectuais de trocar, na fase descendente do desenvolvimento do sistema do capital, a preocupação académica com os critérios da verdade pela glorificação daquilo que é "útil e vantajoso para o capital". Neles encontramos uma hostilidade crassa para com a mais simples menção a tudo o que implique uma posição menos obscurantista do que aquela que é apresentada pelo economista austríaco. Isto é por demais evidente na cruzada cega de Hayek contra as ideias do socialismo denunciadas pelo autor de "O caminho da servidão" e "A arrogância fatal" – bem como pelos seus igualmente reaccionários amigos austríacos e de outras paragens – como sendo politicamente perigosas para o capital.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>De forma característica, a apologia pseudo-científica, e por vezes abertamente irracional, que Hayek faz do capital está ávida por descartar toda e qualquer explicação causal. Diz-nos insistentemente que "a criação da riqueza... não pode ser explicada por uma cadeia de causa-efeito" [19] Num resumo revelador da agressiva apologia do capital que caracteriza o seu pensamento, Hayek afirma que "o dinheiro misterioso e as instituições financeiras que nele se baseiam" [20] devem estar isentos de toda a crítica, acrescentando ainda – no espírito da sua obsessiva condenação do espectro do socialismo, que reclama ter descoberto remontar à Grécia Antiga – que "o magnânimo chavão socialista "Produção para o uso, não para o lucro", que encontramos sob as mais diversas formas de Aristóteles a Bertrand Russel, de Albert Einstein ao arcebispo Câmara (conjuntamente com a ideia, presente desde Aristóteles, de que esses lucros são feitos às custas de outros) revela ignorância sobre a forma como a capacidade produtiva é multiplicada pelos diferentes indivíduos" [21]</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A seriedade destes problemas é sublinhada não tanto pelo carácter apologético das teorias económicas dominantes na fase descendente do desenvolvimento do sistema do capital, como pela razão objectiva que leva a que a formulação e a promoção da implementação prática de tais teorias, se tenha tornado deploravelmente a regra geral. Aquilo que mudou fundamentalmente desde Adam Smith não foi o ponto de vista orientador nem a afiliação de classe dos teóricos em questão, mas o posicionamento histórico do ponto de vista em si mesmo do qual as suas concepções surgem, mediante a passagem da fase ascendente à fase ascendente.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Adam Smith, que conceptualizou o mundo do ponto de vista privilegiado do capital, não estava menos comprometido com a defesa da viabilidade do sistema do capital. A grande diferença é que, na época de Adam Smith, a ordem do metabolismo social do capital na sua fase ascendente representava a mais avançada forma de reprodução da sociedade passível de ser realizada pela humanidade. Da mesma forma, a própria luta de classes, favorável ou contrária a uma organização do trabalho, hegemónica e alternativa, qualitativamente diferente da modalidade capitalista de controlo do metabolismo social, era ainda, na época de Adam Smith, "latente ou manifestava-se somente em fenómenos esporádicos e isolados".</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por outro lado, na época de Hayek, a crescente destrutibilidade do sistema socio-económico capitalista, devida à fase irreversivelmente descendente do seu desenvolvimento, juntamente com o surgimento das suas contradições internas antagónicas, sob a forma das duas devastadoras guerras mundiais que conheceu o século XX, pode ser apenas negada – novamente do ponto de vista privilegiado do capital, mas desta vez com uma verdadeira "Arrogância Fatal" capaz de repudiar um pensador como Aristóteles como sendo um "socialista ignorante" – no quadro da mais crua e beligerante apologia do capital. Dada esta mudança fundamental do campo histórico objectivo em que se alicerça o ponto de vista privilegiado do capital (da sua fase ascendente para a fase descendente), a necessidade de uma mudança estrutural do sentido histórico global – a ser realizada pelos indivíduos sociais, como nos era anunciado na alternativa dramática entre "Socialismo ou Barbárie", "não apenas para chegar a uma manifestação de si, mas simplesmente para salvaguardar a sua própria sobrevivência" – já não poderia ser afastada do horizonte histórico.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A forma mais eficaz de adiar o "momento da verdade" e assim prolongar o domínio do capital sobre a vida humana, não obstante o seu carácter cada vez mais destrutivo e a sua crise estrutural, seria a sua própria transformação num híbrido. Esta hibridização assumiu, nos países onde o capitalismo estava mais avançado, a forma de um envolvimento directo do estado no "mercado livre" através de uma injecção massiva de fundos públicos que visava a revitalização das empresas capitalistas. Esta tendência foi bem demonstrada pela "nacionalização" em larga escala – facilmente reversível – de vários sectores vitais da economia capitalista britânica, que se encontravam em situação de falência, pelo governo do "antigo" Partido Trabalhista liderado por Attlee em 1945. Este resgate indispensável ao capitalismo britânico do pós-guerra foi falaciosamente descrito como um feito genuinamente socialista. [22]</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Este tipo de operações são levadas a cabo com o único intuito de assegurar a continuidade e a viabilidade da ordem reprodutiva estabelecida, através de diversas contribuições económicas por parte do estado (com fundos extraídos às contribuições fiscais dos seus cidadãos), politicamente motivadas pela defesa do sistema do capital e com as quais Adam Smith não poderia nem sonhar. Estas vão desde os recursos astronómicos que são continuamente postos à disposição da indústria militar aos triliões de dólares envolvidos nos fundos de resgate dos bancos privados e das seguradoras, que tiveram lugar não só em 2008 e 2009 como em 2010, os quais se responsabilizaram desde logo a cobrir 90% de eventuais perdas que as mesmas companhias possam vir a ter no futuro.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Historicamente, trata-se de um fenómeno relativamente recente no desenvolvimento do capitalismo. O seu significado e a sua dimensão potencial não eram algo de evidente para a época de Marx. Pois "no século XIX as possibilidades de reajustamento do capital como um sistema híbrido de controlo – que se tornaram manifestamente claras no século XX – eram ainda imperceptíveis ao escrutínio teórico." [23]</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta hibridização do sistema tem hoje um papel absolutamente decisivo no prolongamento da esperança de vida do sistema do capital. No entanto esta forma de envolvimento directo do estado na "salvação do sistema" [24] – pela transferência de imensos fundos públicos e até pela "nacionalização" em toda a linha dos prejuízos resultantes das falências do capital – tem os seus limites e acarreta amplas consequências para o desenvolvimento futuro, não podendo por isso ser equacionada como uma solução permanente.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em 1972, na minha crítica ao conceito de capitalismo de Max Weber, salientava que:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>"é bastante impreciso caracterizar o capitalismo em geral como algo que se define como o "investimento do capital privado". Tal definição é apenas válida para uma fase determinada do desenvolvimento histórico do capitalismo e não é um "tipo ideal" no sentido weberiano. Ao enfatizar o investimento do capital privado, Weber acaba por defender acriticamente um dos movimentos mais importantes de desenvolvimento do modo de produção capitalista, isto é, o crescente envolvimento do capital estatal na reprodução continuada do sistema capitalista. Em princípio, o limite máximo desse mesmo desenvolvimento é nada mais que a transformação da forma vigente do capitalismo numa outra forma mais abrangente de capitalismo de estado, que implica teoricamente a total abolição da fase específica do capitalismo idealizada por Weber. Porém, é precisamente devido a tais implicações que esta orientação fundamental no desenvolvimento do capitalismo deve ser excluída do quadro ideológico do "tipo ideal" weberiano." [25] </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esta tendência para um cada vez maior envolvimento directo do estado na transferência de fundos públicos, com o intuito de prolongar a viabilidade reprodutiva do sistema do capital, é apresentada de forma totalmente deturpada pelos mercenários e propagandistas da ordem estabelecida.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em algumas regiões da Grã-Bretanha, como a Irlanda do Norte por exemplo, a gestão e exploração capitalista do "sector público", tanto no sector da administração como no da saúde e da educação, entre outras actividades económicas, atinge hoje em dia os 71 por cento, sendo que a média nacional ronda os 50 por cento. Ainda assim, a situação actual, onde predomina inegavelmente a hibridização, é descrita, com a habitual hipocrisia e distorção neo-liberal, como "recuo das fronteiras do estado" ("rolling back the boundaries of the state"), ou através de outras formulações deturpadas do mesmo tipo, como " a retirada do estado".</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desta forma, como já o fizera The Economist, outro proeminente órgão de imprensa da burguesia internacional, o londrino Financial Times defende um novo "momento Beveridge", numa óbvia alusão ao Lorde Beveridge, influente político liberal que, no final da segunda guerra mundial, desenvolveu a teoria do estado social no seu livro programaticamente intitulado "O Pleno Emprego numa Sociedade Livre". Durante uma crise económica global da mais extrema gravidade, em plena campanha para o parlamento britânico, quando se prevê que a dívida pública inglesa excederá £1,5 mil milhões (aproximadamente US$2,4 mil milhões à taxa de câmbio actual) em apenas quatro ou cinco anos, foi desta forma que os editores do Financial Times formularam o problema do suposto "recuo do estado" no seu principal artigo sobre o assunto:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>"Os salários públicos, pensões e postos de trabalho do sector estatal devem ser objecto de um corte. Assim como os serviços públicos. Se o Partido Trabalhista for reeleito o orçamento de estado deverá representar uma repartição dos sacrifícios... o governo está correcto em não cortar excessivamente e de forma demasiado célere, mas isso não deve servir de desculpa para não se planear os cortes futuros... A incerteza deliberada do Partido Trabalhista está a empurrar o que deveria ser um debate profundo acerca do papel do estado – um momento Beveridge – para águas rasas. Quem quer que ganhe as eleições que se avizinham administrará o recuo do estado" [26] </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Assim o verdadeiro significado da expressão "retirada do estado" – assim como do cínico e amplamente publicitado slogan neoliberal do "recuo das fronteiras do estado", – é a camuflagem editorial da apologia do "planeamento" (e neste sentido os mais acérrimos defensores da ideologia mercado livre não deixam de ser apologistas de um planeamento), dos modos de transferência dos benefícios financeiros libertados pelos drásticos cortes nos "salários públicos, pensões e postos de trabalho do sector estatal" ,assim como nos "serviços públicos", para os bolsos sem fundo das empresas capitalistas, elas mesmas ainda mais gravemente falidas. Noutras palavras, este novo "momento Beveridge", defendido pelos editores do Financial Times, significa na prática, a liquidação planificada daquilo que ainda sobra do estado social por parte do próprio estado capitalista. [27] Tudo isto é levado a cabo, justificado pela "nobre causa da salvação do sistema", através de um grande envolvimento do estado, atingindo somas astronómicas, na cada vez mais frágil viabilidade da ordem reprodutiva do capital, nesta fase histórica descendente do seu desenvolvimento sistémico, indelevelmente marcada pelo aprofundar da sua crise estrutural.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No entanto, este tipo de linha editorial, reveladora de uma profunda consciência de classe, como a que podemos ler em The Economist ou no Financial Times, mais não é do que uma mistura de quixotismo e hipocrisia. A combinação destes dois componentes é bem ilustrada pelo facto de ser publicado, na coluna imediatamente adjacente ao editorial acima citado do Financial Times de 23 de Março de 2010, um artigo que critica o "Fundo de Investimento Estratégico" de 950 milhões de libras, recentemente anunciado pelo governo trabalhista, no qual se incluem várias verbas, que ascendem até 500 mil milhões de libras.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As críticas expressas neste artigo não são dirigidas contra as crescentes verbas estatais cedidas às empresas privadas – neste sentido não se pode falar de "recuo do estado", pois o estado é mesmo encorajado a continuar as generosas distribuições de capital. As críticas têm como objecto apenas o nome do Fundo, que, na opinião do jornalista em questão, deveria chamar-se "Fundo Estratégico de Reeleição". [28] Desta forma, o autor do artigo não procurou questionar o conteúdo do fundo, sem o qual o sistema que ele próprio defende não sobreviveria, mas apenas denunciar o que acreditava ser uma sagaz manobra eleitoral.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O carácter simultaneamente hipócrita e quixotesco da argumentação defensora do "recuo do estado" é demonstrado pelo facto de que, na actual fase histórica do desenvolvimento capitalista, é impensável aplicar os cortes nas várias áreas do sector público da economia, e correspondente despesa com o desemprego, que os editores do Financial Times gostariam de ver postos em prática com o intuito de fortalecer o frágil sistema produtivo e financeiro capitalista. Pois a hibridização do sistema conheceu nos últimos cem anos proporções tais – chegando hoje a 50% dos países capitalistas mais avançados e apesar dos protestos das várias forças políticas conservadoras (incluído o Partido Trabalhista) – que o actual plano de intervenção selvagem que procura abolir esta tendência está condenado a um novo falhanço. Estes virtuosos apelos a uma "saudável contabilidade capitalista " juntam-se à monótona repetição da promessa de " reequilibrar a balança a favor do sector privado ". Tudo o que estas medidas podem conseguir é a imposição de condições de vida cada vez mais duras às massas populares e nunca a abolição da tendência contraditória de hibridização do sistema.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na verdade, este assunto "diz respeito à estrutura actual do modo de produção capitalista no seu todo, e não apenas a um dos seus sectores. Não será razoável pensar que o estado é a solução para o problema, por mais dinheiro público que continue a ser desperdiçado durante estas reveladoras operações de resgate... A capacidade de intervenção do estado na economia – que até a bem pouco tempo era considerado o pior remédio para qualquer problema da "moderna sociedade industrial" – tem como única consequência o crescente agravamento destas contradições. Quanto maior é a dose administrada ao paciente em convalescença, maior é a sua dependência". [29]</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Neste sentido, vemo-nos confrontados com uma contradição fundamental do sistema do capital. Qualquer que seja o lado da contradição apresentado pelos seus defensores, este está condenado a ser anulado pelo seu oposto. Por um lado, a longo prazo, as doações de somas astronómicas necessárias ao financiamento do processo de hibridização do sistema do capital, produtivamente cada vez mais problemático, e financeiramente mais aventureiro e fraudulento, juntamente com o crescimento da gestão privada do "sector público" – agora manipulada sob a forma das cínicas PPPs (Parcerias Público-Privadas) [30] , bastante proveitosas para o capital privado – estão condenadas ao esgotamento, minando assim a própria viabilidade das doações estatais.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por outro lado, esta equação imposta ao capital pelo desenvolvimento histórico, a virtuosamente laudatória defesa do "viver dentro das suas possibilidades" – ou seja, a diminuição necessária da actividade económica em sintonia com os cortes draconianos nos "empregos, pensões e salários" assim como nos " serviços públicos", feita com o intuito de reduzir uma "dívida nacional" que ascende já a milhares de milhões e que não dá sinais de decrescer – no quadro de um sistema de reprodução social que funciona com base na sua mitologia de crescimento incessante: um crescimento auto-destrutivo, que no final de contas não significa mais que a alienante mas absolutamente necessária expansão e acumulação do capital, reveladora de um completo desprezo pelas consequências – um sistema reprodutivo deste tipo, operando sobre tais princípios contraditórios pode apenas implodir.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por esta mesma razão, só uma mudança histórica global pode apresentar uma esperança na superação das contradições sistémicas do sistema do capital nesta fase específica de crise estrutural. Uma mudança histórica estrutural sustentada, cujo princípio orientador fundamental é a criação de uma ordem reprodutiva social radicalmente diferente.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A hibridização sistémica que vemos crescer nos nossos dias, apesar de variadas tentativas políticas para a conter, juntamente com a mitologia da superioridade "do sistema privado de empreendedorismo" e dos seus "indivíduos consumidores soberanos ", é parte de um problema mais geral e mais grave que tem vindo a ganhar força no decurso dos últimos 100 anos. A causa subjacente a este problema pode ser descrita como a estreita margem de manobra histórica das alternativas objectivamente ao alcance do capital para deslocar e procurar controlar as suas contradições antagónicas.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A tripla destrutividade do capital, que se apoia – (1) no sector militar, com as suas guerras imperialistas que se sucedem desde as últimas décadas do século XIX, às quais se juntam as devastadoras armas de destruição massiva desenvolvidas nos últimos 60 anos; (2) na intensificação do impacto cada vez mais óbvio do capital na ecologia, que põe em risco as bases naturais da própria sobrevivência humana; e (3) no domínio da produção material e crescente desperdício, resultado do avanço da "produção destrutiva", que tomou o lugar da muito publicitada "destruição criativa" ou "produtiva" – é a consequência necessária dessa estreita margem de manobra.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desconcertantemente para o capital, nem o perigoso crescimento da destrutibilidade nem a consensual hibridização deste sistema antagónico – hibridização essa que foi usada durante muito tempo para deslocar os antagonismos do capital nos países mais poderosos, e continuará a ser usado desta forma enquanto a viabilidade política e económica não for posta em causa pelo intensificar da crise estrutural – podem oferecer uma solução de longo termo para a objectivamente estreita margem de manobra.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É parte das características essenciais que definem um sistema antagónico, que este seja estruturalmente incapaz de resolver as suas contradições internas. É precisamente isso que o define objectivamente como um sistema antagónico. Desta forma, tal sistema necessita de instaurar outros modos de lidar ou gerir – enquanto puder – as suas contradições sistémicas na impossibilidade de as resolver. Pois uma solução historicamente viável e sustentável, transformaria o próprio sistema capitalista numa forma não antagonista de escapar às suas mais fundamentais determinações hierárquicas estruturais de exploração que, ao contrário do pretendido pelo "capitalismo de rosto humano", o definem realmente como uma ordem social reprodutiva insuperavelmente antagónica. É por isso que, de forma nada surpreendente, a ideologia apologética do capital mais promovida e omnipresente é a da negação, requintada ou grosseira, da mais remota possibilidade de antagonismo sistémico historicamente criado (e historicamente ultrapassável), antagonismo esse que é apresentado de modo deturpado como um conflito individual, supostamente determinado pela sempiterna "natureza humana".</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Todavia, uma tal negação do antagonismo sistémico pela ideologia dominante, independentemente de quão sofisticadamente camuflada ou cinicamente grosseira seja, não pode exorcizar o problema subjacente. Com efeito, tal problema pode apenas agravar-se nos tempos vindouros, como já aconteceu no contexto histórico das últimas décadas, marcado pelo agravamento da crise estrutural do capital. Isto sucede na medida em que há apenas dois modos segundo os quais uma ordem de reprodução social fundamentalmente antagónica pode lidar com as suas contradições sistémicas fundamentais: (1) deslocando-as temporariamente ou (2) impondo-as aos seus adversários através de todos os meios ao seu dispor, incluindo os mais violentos e destrutivos. Neste duplo sentido:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao deslocar os antagonismos através de todos os meios disponíveis sob as condições dadas. Como, por exemplo, através de todas as variações de exportação das contradições internas que representa a bem conhecida diplomacia canhoneira do Império Britânico, geradora de consensos sociais imperialistas, mistificadores e chauvinistas, transubstanciados e propagandeados como "fardo do homem branco" . Ou, alternativamente, através das práticas, militarmente menos óbvias mas mais eficazes do ponto de vista político-económico, de usurpação global "modernizadora" levadas a cabo, no pós-II Guerra Mundial, nas áreas menos desenvolvidas do planeta [31] , de acordo com a pretensa ideologia pós-imperialista – e isto por tanto tempo quanto esta modalidade de gestão dos antagonismo sistémicos do capital pela sua deslocação/exportação for praticável pelos poderes por enquanto dominantes a nível internacional (e, claro, apenas por alguns, à custa dos outros).</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao impor brutalmente aos seus adversários de classe, em situações de agravamento da crise, os imperativos violentamente repressivos próprios de um reforço do seu poder de classe, pondo de lado, em nome de estados de emergência socialmente necessários e "justificados", as ficções da "democracia e da lei". Ou, no caso de confrontos sistémicas inter-imperialistas, impondo ao rival mais fraco e aos inimigos do Estado, os interesses e as condições "não negociáveis" do poder militarmente dominante, e isto no sentido mais alargado e por todos os meios possíveis, incluindo guerras de extermínio, como fica demonstrado pelas duas guerras mundiais de que o século XX foi testemunha. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O problema para a ordem dominante é que nem o deslocamento exportador, através da usurpação globalizada, das contradições antagonistas do capital – ao qual se une um impacto devastador numa natureza, cuja sustentabilidade não apresentou, durante longos períodos históricos, dificuldades de maior – nem a imposição violenta dessas mesmas contradições ao adversário a ser subjugado, pela força definitiva da guerra de extermínio são, hoje em dia, prontamente realizáveis . Com efeito, não restam, hoje em dia, regiões significativas do planeta passíveis de serem usurpadas pelo poderes capitalistas dominantes, nem pela via directa da invasão militar imperialista, nem pela recentemente instituída dominação económica "modernizadora" , visto que o domínio global do capital, descrito por Marx na citada carta a Engels [32] , já está historicamente consumado. Por outras palavras, a usurpação capitalista é, hoje em dia, completa, ainda que não sob a forma idílica da "globalização" [33] , glorificada pelos seus ideólogos profissionais e pelos seus mercenários. O capital domina e explora actualmente o nosso planeta de todos os modos que estão ao seu alcance, no quadro da sua tripla destrutividade; mas não poderá nunca resolver ou deslocar adequadamente os seus antagonismos estruturais e contradições explosivas em proveito da sua tranquila expansão e acumulação.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para além disso, a tradicional "solução final" do capital para o agravamento dos problemas, através guerra ilimitada travada no passado contra inimigos reais ou potenciais, tornou-se impraticável graças à invenção de armas de destruição massiva, actualmente plenamente operacionais, que destruiriam totalmente a humanidade no caso de uma nova guerra mundial. As contínuas guerras parciais – mesmo quando nelas é aplicada a dura estratégia militar da "força esmagadora" , com os seus imensos, e ainda mais insensivelmente denominados, "danos colaterais" infligidos às populações, como no Vietname e tantos outros sítios – não podem senão aprofundar a crise estrutural do sistema do capital, sem nunca oferecer uma alternativa ao modelo imperialista do vencedor e do vencido.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desta forma, o estreitamento das alternativas do capital no que toca à gestão dos seus antagonismos internos – os quais são inseparáveis da fase descendente do desenvolvimento do capital – traz consigo importantes consequências para o futuro, uma vez que a verdade é – e será sempre – que os problemas estruturais exigem soluções estruturais e clamam, como veremos, por remédios estruturais historicamente sustentados, num espírito genuinamente socialista, realizáveis apenas através da reconstituição da dialéctica histórica que foi radicalmente subvertida pelos antagonismos do capital no decurso da fase descendente do seu desenvolvimento sistémico. Foi assim que a ordem metabólica do capital, que outrora realizou aquele que foi de longe o maior desenvolvimento produtivo da História, se transformou no seu contrário, tornando-se de longe o sistema de determinações estruturais mais destrutivo e uma ameaça directa à sobrevivência da Humanidade neste nosso lar planetário.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No entanto, e não obstante todos os interesses velados que a isso se opõem, a irreprimível dimensão histórica da ordem estabelecida não deve ser ignorada e a configuração actual dos traços que a sustentam não deve ser erroneamente interpretada, uma vez que as estruturas sociais não podem – mesmo as mais fortemente entrincheiradas, como a ordem de reprodução social do capital – vigorar como a "lei da gravidade" , exigindo um reconhecimento baseado no modelo da necessidade física. Da mesma forma, a necessidade histórica não pode ser concebida segundo o modelo da necessidade natural, como gostam de fazer os apologistas do capital, concebendo de forma errónea a validade eterna do seu sistema, ao mesmo tempo que acusam Marx de ser, na sua visão do mundo, um "determinista económico". De acordo com a concepção dialéctica de Marx, a necessidade das fases históricas que se vão revelando é obrigatoriamente uma "necessidade evanescente" e as estruturas sociais – que ele descreve como "evoluindo constantemente a partir do processo vivencial dos indivíduos concretos" – estão submetidas aos mais profundos limites históricos. É a isto que corresponde a dialéctica da estrutura e da História. Pois a estrutura e a História estão sempre profundamente interligadas no contexto humano e a História é, ela mesma, necessariamente aberta. A complexidade e as contradições da globalização, inevitáveis nos nossos tempos, não alteram isso, podendo apenas testemunhar a elevada responsabilidade de enfrentar os desafios envolvidos, como fica claro ao longo deste estudo. Como diz, de forma certeira, um provérbio húngaro: "o que está em jogo não é uma linha de feijões" ("nem babra megy a játék").</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">Notas:</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">1. Marx, Economic and Philosophical Manuscripts of 1844 (London: Lawrence and Wishart: London, 1959), 110.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">2. Ibid., 111.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">3. Karl Marx and Frederick Engels, Collected Works (London: Lawrence and Wishart, 1975), 5:35 (henceforth MECW).</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">4. Ibid., 41.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">5. Marx, The Poverty of Philosophy, (London: Lawrence and Wishart, 1936), 123. </span>Written in the winter of 1846–47, publicado originalmente em francês em 1847.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">6. Ver Aristóteles, Poética, capítulos 8 e 9.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">7. Cf. Secção 6.4 do presente livro (a publicar).</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">8. Claude Lévi-Strauss, The Savage Mind (London: George Weidenfeld and Nicholson Ltd., 1966), 261–62. </span>O original françês, La pensée sauvage, foi publicado em Paris pela Plon em 1962. As tiradas de Lévi-Strauss contra o "humanismo transcendental" foram recuperadas por Louis Althusser e pelo seu circulo como elemento característico fundamental do seu "Estruturalismo Marxista", e do seu curioso "anti-Humanismo Teórico".</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">9. Cf. primeiras 3 páginas da Secção 6.4 deste livro. <span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">(a publicar).</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">10. Jean-François Lyotard, The Postmodern Condition: A Report on Knowledge (Manchester, UK: Manchester University Press, 1979), 79.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">11. Ibid, 60</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">12. Lyotard, "Universal History and Cultural Differences," The Lyotard Reader (Oxford, UK: Basil Blackwell, 1989), 318</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">13. Ver a este respeito a carta de Marx a Engels, de extrema relevância, de 8 de Outubro de 1858.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">14. Como o seu companheiro de armas, Engels reconhecia e destacava-o: "Marx tinha um ponto de vista privilegiado, viu mais longe, mais amplamente e mais rapidamente que qualquer um de nós" Engels, "Ludwig Feuerbach and the End of Classical German Philosophy", in Karl Marx and Frederick Engels: Selected Works, vol. 2 (Moscow: Foreign Languages Publishing House, 1951), 349.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">15. MECW, 5:52</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">16. Ibid., 5:87</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">17. Expressão de Marx usada na sua "Contribuição para a Crítica da Economia Política" acerca dos feitos teóricos elaborados no espírito do ponto de vista dominante do capital pelos mais brilhantes intelectuais burgueses da fase ascendente do capital.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">18. Marx, Capital (Moscow: Foreign Language Publishers, 1959), 1:14.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">19. F.A. Hayek, The Fatal Conceit: the Errors of Socialism (London: Routledge, 1988), 99.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">20. Ibid., 101. Esta grosseira apologia daquilo que "útil e adequado ao capital" é música para os ouvidos daqueles que acreditam que não se deve nem sequer tentar controlar o sistema financeiro global, catastroficamente perigoso, que desperdiça de forma irresponsável de triliões de dólares originados pelo sector produtivo. Há alguns anos atrás citei um artigo do London Sunday Times que dizia que: "para cobrir a sua falta de liquidez, a General Motors, resolveu utilizar o fundo de pensões de 15 mil milhões de dólares, como lhe é permitido pela lei americana. Agora 8,9 mil milhões de dólares de dinheiro destinado às pensões dos seus trabalhadores está a descoberto". Comentei então, no meu livro Para Além do Capital, que: "a fraude não é algo de marginal ou de excepcional ao sistema do capital, ela pertence mesmo à sua normalidade"(xx). Recentemente o gigante industrial General Motors, que outrora se vangloriava do seu poder ao afirmar que o seu orçamento excedia o da Bélgica, teve de ser salvo da bancarrota pelo estado, apesar do seu comportamento revelador, "permitido pela lei americana", no caso das pensões dos seus trabalhadores.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">21. Hayek, The Fatal Conceit, 104.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">22. Esta forma deturpada de representação remonta a um passado distante. Já Engels criticara, numa nota à edição inglesa do seu Do socialismo utópico e do socialismo científico, ao referir: "Tarde no tempo, Bismarck aplicou a estatização das instituições industriais, uma espécie de falso socialismo surgia então, degenerando, aqui e ali, naquele servilismo que prontamente considera que todo o tipo de apropriação estatal, até mesmo a bismarckiana, como sendo socialista." <span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">Marx & Engels, Selected Works, 2:135.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">23. István Mészáros, Beyond Capital (London: Merlin Press, 1995), xxi</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">24. Ver o modo como uma das publicações semanais da burguesia internacional com maior consciência de classe, The Economist, admite abertamente que o mérito fundamental dos milhares de milhões de dólares, "investidos" na boa causa da bancarrota do capitalismo durante a mais recente crise, é o de "salvar o sistema", como sublinhado em caracteres gigantes na sua primeira página de 11 de Outubro de 2008.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">25. István Mészáros, "Ideology and Social Science", ensaio apresentado no Interdisciplinar Seminar of the Division of Social Science na York University, Toronto, Janeiro de 1972. Publicado em The socialist register, em 1972. "Ideology and Social Science" foi publicado separadamente na Ìndia (New Delhi: Critical Quest, 2010). A citação é retirada da página 10 desta publicação recente e facilmente acessível.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">26. "Darling [o nome do ministro das Finanças trabalhista britânico] deve fornecer um orçamento realista: devem ser feitos cortes no estado britânico; o Partido Trabalhista deve dizer-nos como". Editorial, Financial Times, 23 de Março de 2010</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">27. Isto significa, claro, um cada vez mais activo envolvimento directo do estado na economia e não o seu recuo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">28. Ver Brian Groom, "Call It the Strategic Re-election Fund," Financial Times, March 23, 2010</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">29. De "The Necessity of Social Control", a minha palestra em memória de Isaac Deutscher, pronunciada na London School of Economics em 26 de Janeiro de 1971, citada a partir da página 82 do meu livro "The Structural Crisis of Capital" (New York: Monthly Review Press, 2010)</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">30. É evidente, mesmo a partir de uma leitura de The Economist, quão absurdamente perdulárias e mal geridas são estas "parcerias", nascidas para compensar generosamente os accionistas das empresas capitalistas falidas e fortemente publicitadas pelo governo do "New Labour". Mesmo que leiamos em The Economist de 15 de Maio de 2010, sob o título "The Tube upgrade deals. Finis: The end of the line for Britain's biggest private finance initiative", que "Teoricamente, as PPP têm como objectivo aproveitar a eficiência do sector privado e, em troca de avultados lucros, transferir os riscos para as empresas contratadas. Mas, na realidade, nem a Tube Lines nem a Metronet foram capazes de pôr em prática o acordado. A Metronet era mal gerida e a transferência dos riscos provou ser uma miragem: a empresa foi à falência em 2007 e o governo resgatou as suas dívidas por cerca de 2 mil milhões de libras" (40; ibidem para as citações seguintes). Este tipo de acordo significa que nas "Parcerias Público Privadas" o termo "Privado" equivale a "lucros avultados" e o termo "Público" a avultadas perdas (nesta caso, cerca de 3 mil milhões de libras), transferidas para os ombros dos trabalhadores, à mercê da bancarrota capitalista, avidamente resgatada pelo estado. Da mesma forma, não é possível deixar isentas de responsabilidade as "empresas imparciais de consultoria", cuja "especialização" ajudou a justificar e a impor à sociedade tais investimentos ficticiamente vantajosos. Assim "enquanto se instauravam as parcerias, a PricewaterhouseCoopers, uma [proeminente] consultora, previu que o sector privado poderia levar a poupanças na ordem dos 30%, previsão que serviu de base a todo o projecto. Mas a dita consultora não "apresentou qualquer base probatória fundamentando tal previsão", diz Stephen Glaister, um académico que acompanhou a saga". E este não é de forma alguma o ponto final na história deste sistema de irresponsabilidade institucionalizada, visto que, "No dia 11 de Maio, Chris Bolt, o perito das PPPs, publicou uma análise dos antigos contratos da Metronet, agora também conduzidos internamente pela TFL [Transport for London]. É, segundo ele, decepcionante notar que a TFL mudou a forma como fazia a sua contabilidade, em comparação com a Tube Lines e estima impossível a pré-aquisição da Metronet. Assim, de acordo com a cumplicidade legal do sistema de irresponsabilidade institucionalizada, ninguém poderia ser responsabilizado pelas perdas colossais. Mas quem pode realmente acreditar que este sistema de patrocínio estatal e irresponsabilidade catastroficamente perdulária ao serviço da bancarrota capitalista pode ser mantido eternamente?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">31. Também neste aspecto é óbvia a dimensão histórica da deslocação estruturalmente determinante. A suposta justificação das estratégias "modernizadoras" é-nos fornecida pelos privilégios de exploração historicamente adquiridos (mas nunca referidos), pela mão cheia de países capitalistas envolvidos, que falsamente prometem a difusão universal do projecto de "desenvolvimento", na ausência total de base real que a sustente, como por exemplo na grotesca teoria da "arranque e caminho rumo à maturidade" formulada por Walt Rostow (a este título, conferir a sua obra The Stages of Economic Growth: A Non-Communist Manifesto (Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1960).) Tais "teorias do desenvolvimento" tornaram-se, também no que toca a uma perspectiva de futuro, totalmente vazias assim que os "países modelo" privilegiados forem obrigados, apesar dos privilégios que acumulam, a enfrentar os seus próprios problemas no seio da crise estrutural do capital.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">32. Ver acima, n.13</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">33. Ver Martin Wolf, Why Globalization Works: The Case for the Global Market Economy (New Haven: Yale University Press, 2004).</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Publicado em: http://resistir.info/<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-74152573390766286282011-08-12T07:25:00.001-07:002011-08-12T07:25:29.779-07:00Recorrências e incertezas - José Luís Fiori<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:TrackMoves/> <w:TrackFormatting/> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:DoNotPromoteQF/> <w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> <w:SplitPgBreakAndParaMark/> <w:DontVertAlignCellWithSp/> <w:DontBreakConstrainedForcedTables/> <w:DontVertAlignInTxbx/> <w:Word11KerningPairs/> <w:CachedColBalance/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathPr> <m:mathFont m:val="Cambria Math"/> <m:brkBin m:val="before"/> <m:brkBinSub m:val="--"/> <m:smallFrac m:val="off"/> <m:dispDef/> <m:lMargin m:val="0"/> <m:rMargin m:val="0"/> <m:defJc m:val="centerGroup"/> <m:wrapIndent m:val="1440"/> <m:intLim m:val="subSup"/> <m:naryLim m:val="undOvr"/> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
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<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O atual “impasse da dívida pública” americana não passa de um detalhe, dentro de uma luta longa e sem quartel que deverá definir os novos objetivos e caminhos estratégicos dos EUA. Como no mundo físico, estas conjunturas são momentos de grande incerteza e indeterminação, dentro de um sistema mundial que se expande e se transforma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Ao longo das últimas décadas, um conceito novo tem conhecido êxito cada vez maior: a noção de instabilidade dinâmica associada ao 'caos'. Este último sugere desordem, imprevisibilidade, mas veremos que não é assim. É possível (...) incluir o caos nas leis da natureza, mas contanto que generalizemos essa noção para nela incluirmos as noções de probabilidade e de irreversibilidade ”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ilya Prigogine, “As leis do caos”, Unesp, SP, 2002, p:8</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fica muito difícil de entender a intensidade do conflito e o impasse nas negociações sobre o “aumento do limite da dívida pública americana”, quando se lê apenas a análise dos economistas, sejam eles democratas ou republicanos, ortodoxos ou keynesianos. Uma vez que todos estão de acordo com o aumento do teto da dívida, e com a necessidade de cortar gastos e aumentar impostos. Ainda que discordem sobre as dimensões e sobre o ritmo de implementação destas medidas e, mais ainda, sobre a distribuição dos seus custos, dentro da sociedade americana, que apesar disto, segundo as pesquisas, permanece indiferente com relação ao debate. Talvez, porque a população intua que o conflito não tem a ver com a questão da “dívida pública” e dos “desequilíbrios fiscais”, e envolva desacordos muito mais sérios, que transcendem o campo da economia e das disputas partidárias convencionais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Divergências profundas, dentro do próprio establishment americano, que só reaparecem periodicamente, em momentos de grandes mudanças mundiais, e, como consequência, na hora de redefinição da estratégia política e econômica, nacional e internacional, do estado norte-americano. Ou, pelo menos, foi o que aconteceu em três momentos cruciais da histórias americana do século XX. Começando pela divisão da sociedade e da elite política norte-americana - antes e depois da Primeira Guerra Mundial - que acabou afastando os EUA da Liga das Nações, e de todas as negociações internacionais que poderiam ter impedido a Grande Crise Econômica, da década de 30, que acabou atingindo em cheio a própria economia americana.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O mesmo voltou a acontecer, antes e depois da Segunda Guerra Mundial, quando o establishment e a sociedade americana dividiram-se de cima abaixo, com relação à própria Guerra, e depois da II Guerra, com relação à estratégia de cerco e isolamento da URSS, e com relação à ordem econômica desenhada em Bretton Woods. Depois da década de 50, a estratégia geopolítica americana pacificou a Europa, e os acordos de Bretton Woods, permitiram a reconstrução do Velho Continente e do Japão, promovendo um crescimento econômico assimétrico mas contínuo, da economia mundial.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na década de 70, entretanto, os Estados Unidos foram derrotados no Vietnã e sofreram sucessivos revezes políticos e diplomáticos. E no campo econômico, tiveram que abandonar o sistema monetário que tinham criado, em Bretton Woods. Foi uma crise dura e profunda, mas foi também o momento e a oportunidade, em que os Estados Unidos mudaram a sua política econômica internacional. A nova estratégia levou à superação da crise e à uma reviravolta dentro do sistema mundial, mas sua definição tomou uma década – pelo menos – de divisão e de lutas intestinas, em torno da Guerra do Vietnã, da crise do Dólar, do Petróleo, do Oriente Médio, etc. Passando pela retirada da Indochina, pelo fim da convertibilidade ouro-dólar, pela renúncia do presidente Nixon, e pela imensa fragilidade e desorientação dos governos de Gerald Ford e Jimmy Carter, que abriram as portas para a restauração conservadora de Ronald Reagan.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Agora de novo, na primeira década do século XXI, os revezes da política externa americana, somados aos efeitos nacionais e internacionais de sua crise econômica implodiram a coalizão de poder e o consenso dominante, desde a década de 1980, incluindo republicanos e democratas. O mais provável é que esta implosão dê lugar a um longo período de fragmentação de forças e posições, com um nível crescente de conflito e radicalidade, até que seja possível a formação de um novo consenso, como ocorreu no passado. Desta vez, entretanto, o processo será mais complexo, porque apesar das semelhanças, agora o poder americano é muito maior, e sua inserção internacional envolve disjuntivas diferentes, e incompatíveis, nos vários tabuleiros geopolíticos e econômicos do mundo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pode parecer paradoxal, mas o aumento do poder global dos EUA, internacionalizou sua política e sua economia, mais do que em qualquer outro país, aumentando a complexidade e confundindo seus conflitos externos, com suas lutas internas. Por isto, não existe a possibilidade, de uma simples repetição do passado, e o único absolutamente seguro, é que o atual “impasse da dívida pública” americana não passa de um incidente e de um detalhe, dentro de uma luta longa e sem quartel que deverá definir os novos objetivos e caminhos estratégicos dos EUA. Como no mundo físico, estas conjunturas são momentos de grande incerteza e indeterminação, dentro de um sistema mundial que se expande e transforma, apesar de suas recorrências.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.</span></div><span lang="EN-US" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">In: <a href="http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5136">http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5136</a> </span>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-32438176436459025212011-08-11T17:34:00.001-07:002011-08-11T17:34:43.330-07:00O capitalismo selvagem chega às ruas - David Harvey<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:TrackMoves/> <w:TrackFormatting/> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:PunctuationKerning/> <w:ValidateAgainstSchemas/> <w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:DoNotPromoteQF/> <w:LidThemeOther>PT-BR</w:LidThemeOther> <w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:DontGrowAutofit/> <w:SplitPgBreakAndParaMark/> <w:DontVertAlignCellWithSp/> <w:DontBreakConstrainedForcedTables/> <w:DontVertAlignInTxbx/> <w:Word11KerningPairs/> <w:CachedColBalance/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathPr> <m:mathFont m:val="Cambria Math"/> <m:brkBin m:val="before"/> <m:brkBinSub m:val="--"/> <m:smallFrac m:val="off"/> <m:dispDef/> <m:lMargin m:val="0"/> <m:rMargin m:val="0"/> <m:defJc m:val="centerGroup"/> <m:wrapIndent m:val="1440"/> <m:intLim m:val="subSup"/> <m:naryLim m:val="undOvr"/> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
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</div><div style="text-align: justify;">A palavra “selvagem” me chamou a atenção. Ela me lembrou como os comunados em Paris em 1871 foram descritos como animais selvagens, como hienas, que mereciam ser (e muitas vezes foram) sumariamente executados em nome da sagrada propriedade privada, da moral, da religião e da família. Mas, então, a palavra conjurou outra associação: Tony Blair atacando a “mídia selvagem”, guardada confortavelmente por tanto tempo no bolso esquerdo de Rupert Murdoch até ser substituída quando Murdoch usou seu bolso direito para “depenar” David Cameron.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Haverá, é claro, o debate histérico usual entre aqueles inclinados a ver as revoltas como uma qustão de pura, desenfreada e indesculpável criminalidade, e aqueles ansiosos para contextualizar os eventos contra um pano-de-fundo de policiamento ruim; racismo contínuo e perseguição injustificada de jovens e minorias; desemprego em massa dos jovens, crescente privação social; e uma política insensata de austeridade que não tem nada a ver com a economia e tudo a ver com a perpetuação e consolidação da riqueza pessoal e do poder. Alguns podem até condenar as qualidades sem sentido e alienantes de tantos postos de trabalho e tanta vida cotidiana no meio da imensa e má distribuída potencialidade para a prosperidade humana.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Se tivermos sorte, teremos comissões e relatórios para dizer mais uma vez o que foi dito de <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/1981_Brixton_riot"><span style="color: windowtext;">Brixton</span></a> e <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/1981_Toxteth_riots"><span style="color: windowtext;">Toxteth</span></a> nos anos Thatcher. Digo “sorte” porque os instintos selvagens do atual Primeiro Ministro parecem mais sintonizados para ligar os canhões de água, para chamar a brigada do gás lacrimogêneo e para usar as balas de borracha enquanto aponta cinicamente para a perda de compasso moral, para a decadência da civilidade e para a triste deterioração dos valores familiares e da disciplina entre os jovens errantes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas o problema é que vivemos em uma sociedade onde o próprio capitalismo se tornou violentamente selvagem. Políticos selvagens corrompem suas despesas, banqueiros selvagens saqueiam os cofres públicos de todo seu valor, executivos, operadores de fundos de investimento e gênios da igualdade privada pilham o mundo da riqueza, empresas telefônicas e de cartão de crédito cobram valores misteriosos na conta de todos, lojistas sobem os preços, e, de repente vigaristas e golpistas passam a praticar o jogo das três cartas diretamente com os mais altos escalões do mundo corporativo e político.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A economia política da desapropriação em massa, de práticas predatórias como o roubo à luz do dia, particularmente do pobre e do vulnerável, do não-sofisticado e do legalmente desprotegido, tornou-se a ordem do dia. Alguém acredita que ainda é possível achar um capitalista honesto, um banqueiro honesto, um político honesto, um lojista honesto ou um comissário policial honesto? Sim, eles existem. Mas somente como uma minoria que todos olham como burra. Seja esperto. Ganhe dinheiro fácil. Engane e roube! As chances de ser apanhado são baixas. E, se isso acontecer, existem muitas maneiras para se proteger dos custos da má-fé corporativa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O que eu digo pode soar chocante. A maioria de nós não enxerga porque não quer ver. Certamente nenhum político ousa dizer isso e a imprensa o publicaria apenas para desmerecer quem o dissesse. Mas meu palpite é que cada um dos revoltantes entende exatamente o que quero dizer. Eles estão apenas fazendo o que todos estão fazendo, embora de uma maneira diferente – mais barulhenta e visível nas ruas. O thatcherismo desacorrentou os instintos selvagens do capitalismo (os “espíritos animais” do especulador que eles despistadamente nomearam) e nada tem “transpirado” para cercá-lo desde então. Cortar e queimar é agora abertamente o lema das classes dominantes praticamente em todos os lugares.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Essa é a nova normalidade que vivemos. Isso é o que a próxima grande comissão de inquérito deve abordar. Todos, não somente os revoltantes, devem ser levados em conta. O capitalismo selvagem deve ser colocado em julgamento por crimes contra a humanidade bem como por crimes contra a natureza.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Infelizmente, isso é o que esses rebeldes sem causa não podem ver ou reclamar. Tudo conspira para nos privar também de ver e reclamar. É por isso que o poder político veste o manto da moralidade superior e da razão cínica tão rapidamente que ninguém consegue vê-lo como algo tão “desnudamente” corrupto e estupidamente irracional.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas há vários lampejos de esperança e Luz ao redor do mundo. Os movimentos de <em>indignados</em> na Espanha e na Grécia, os impulsos revolucionários na América Latina, os movimentos camponeses na Ásia, todos estão começando a ver através da “baixaria” que um capitalismo global predatório e selvagem está a solta pelo mundo. O que ele trará para o resto de nós ver e agir? Como podemos começar tudo de novo? Qual direção devemos tomar? As respostas não são fáceis. Mas uma coisa nós sabemos com certeza: só podemos conseguir as respostas corretas perguntando as perguntas certas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Publicado originalmente na página de David Harvey (http://davidharvey.org/) – traduzido por Lucas Mello e publicado em: <a href="http://www.cantacantos.com.br/blog/?p=9556">http://www.cantacantos.com.br/blog/?p=9556</a> </span>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-37451287624839841772011-06-09T22:20:00.000-07:002011-06-09T22:20:00.229-07:00Pensar a decadência. O conceito de crise em princípios do século XXI<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><b>por Jorge Beinstein [*]</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>1. O conceito </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>2. As velhas crises ocidentais </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a. Precapitalismo: Roma </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>b. Protocapitalismo </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>c. Capitalismo industrial </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>d. Capitalismo drogado </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>3. A crise actual</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>1. O conceito</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b>O conceito de crise é extremadamente ambíguo, teve múltiplos usos, muitas vezes contraditórios. Ao longo do século XX gozou de períodos de enorme popularidade em contraste com outros em que a sua existência futura, como fenômeno social de amplitude e duração significativa, era quase descartada. Assim ocorreu nos finais da era keynesiana, nos longínquos anos 1960 e ainda muito no princípio dos anos 1970, nessa época o mito do estado burguês regulador, domador dos ciclos econômicos, fazia com que um economista de prestígio na altura época como Marchal assinalasse em 1963 que "no estado actual dos conhecimentos e das ideias, uma crise prolongada seria impossível" (Marchal J. M, 1963). Por sua vez, o prémio Nobel de economia Paul Samuelson afirmava pouco antes da crise de 1973-74: "O National Bureau of Economics Research trabalhou tão bem que de facto eliminou uma das suas próprias tarefas principais, a saber: as flutuações cíclicas" acrescentando que "Graças ao emprego apropriado de políticas monetárias e fiscais o nosso sistema de economia mista pode evitar os excessos dos booms e das depressões e desenvolver um crescimento são e sustentado" (Mandel, E., 1978). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Mas antes da primeira guerra mundial, em plena hegemonia do liberalismo e da ideologia do progressos (que muitos supunham indefinido) também era subestimada a ideia de crise, lançada ao museu das antiguidades anarquistas e marxistas catastrofistas. Mas o paraíso desmoronou em 1914. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>E mais recentemente, nos anos 1990, sobretudo no segundo lustro, em pleno delírio bursátil, a prosperidade dos Estados Unidos costumava ser apresentada como o modelo do futuro, a matriz de um capitalismo que finalmente havia conseguido desencadear uma dinâmica de crescimento imparável durante um longuíssimo período. Explicavam-nos que a revolução tecnológica fazia subir os rendimentos e em consequência a procura, incitando mais revolução tecnológica, aumentando a produtividade laboral e gerando novos rendimentos, etc, etc. Mas o círculo virtuoso das tecnologias de ponta ocultava o círculo vicioso da especulação financeira que terminou por apodrecer completamente a mega fortaleza do capitalismo global. Esse frenesim neoliberal dos 90 foi abençoado nos seus princípios por personagens como Francis Fukuyama, o qual nos informava que estávamos a entrar não só numa era sem crises significativas como também no mesmíssimo "fim da história" (Fukuyama F, 1990). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Como se sabe, a origem do conceito de crise é muito remota. Se nos restringirmos à história do Ocidente costuma ser situada na Grécia Antiga. Foi empregue por Tucídides em "A guerra do Peloponeso" para assinalar o momento de decisão na batalha mas também na evolução da peste em Atenas atravessando certos pontos de inflexão, e naturalmente por Hipócrates, ancorando o tema na medicina onde esteve instalado com quase exclusividade durante muitos século nos quais apareceu timidamente em algumas reflexões sobre acontecimentos sociais. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Haverá que esperar o ingresso pleno na modernidade (a partir do século XVIII e sobretudo do XIX) para encontrar a expressão na sua extensão actual (curiosamente o seu destino é semelhante aos termos progresso e decadência). Hoje, a sua ubiquidade, o seu emprego esmagador, acabou por converter a palavra numa espécie de coringa difícil de encaixar. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Para além das utilizações individuais ou para fenômenos de pequena dimensão humana (grupais, etc) e quando entramos nos grandes processos sociais podemos distinguir "crises" extremamente breves de outras de longa duração (décadas, séculos), diferenciamos também as crises de baixa intensidade de outras que sacodem profundamente a estrutura. Também podemos distinguir aquelas causadas pela própria dinâmica do sistema em causa, ou seja, com causas endógenas, das provocadas por factores externos ao mesmo (causas exógenas). Exemplo da segunda é a crise catastrófica verificada na América em consequência da conquista europeia, exemplo das primeiras são as crises clássicas de sobreprodução do capitalismo industrial que se insinuam desde princípios do século XIX mas que se exprimem plenamente desde meados do mesmo. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Um certo reducionismo econômico limita-as ao momento de mudança de fase do ciclo, quando se passa da etapa de crescimento à de recessão deixando de lado as turbulências sistêmicas que se prolongam muito mais além desses momentos. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Além disso é saudável descartar a ideia de crises puramente económicas, elas sempre fazem parte de um conjunto social mais amplo abrangendo factos políticos, institucionais, culturais e muitos outros mais. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Simplificando talvez demasiadamente poderia definir-se a crise como uma turbulência ou perturbação importante do sistema social considerado mais além da sua duração e extensão geográfica, que pode chegar a por em perigo a sua própria existência, os seus mecanismos essenciais de reprodução. Ainda que em outros casos permita a este recompor-se, livrar-se de componentes e comportamentos nocivos e incorporar inovações salvadoras. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>No primeiro caso a crise leva à decadência e a seguir ao colapso. No segundo à recomposição mais ou menos eficaz ou durável seja como sobrevivência difícil ou antes como " crise de crescimento ", própria de organismos sociais jovens ou com reservas de renovação disponíveis. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Em qualquer caso a crise é um tempo de decisão onde o sistema opta (se houver lugar para isso) entre reconstituir-se de uma ou outra maneira ou decair (também transitando algum dos vários caminhos possíveis). Na base desta opção está o fundo cultural que predispõe para um comportamento ou outro, a cultura não como stock, como património inamovível, e sim como evolução, como dinâmica de seres viventes que inclui espaços de criatividade reformista ou revolucionária e espaços de rigidez, de conservadorismo letal. Nesse sentido "a crise propõe mas a cultura dispõe" (Le Roy Ladurie, 1976), as sociedades desenvolvendo-se e agravando suas contradições chegam às crises e das suas próprias entranhas emergem (a partir de uma espécie de emaranhado, de labirinto de memórias, de reservas históricas) sinais, empurrões, solavancos, sabedorías que alentam caminhos futuros. Obviamente nunca podemos falar, em termos históricos, de sistemas fechados. É muito raro encontrá-los no passado e impensável no presente mundializado, mas ainda hoje é superficial limitar-nos às "correntes globais de mudança" (imperialistas, periféricas, regionais, etc) e ignorar as especificidades, produto de longos anos e complexos processos locais-globais, de sobrevivências e entrelaçamentos de ciclos históricos mais ou menos antigos, etc. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Como a crise é um detonador, uma caixa de pandora, de onde irrompem passados supostamente enterrados para sempre, iniciativas inconcebíveis pouco antes da turbulência, interacções de diversa amplitude geográfica, constitui sempre uma avalanche de "surpresas", muitas delas previsíveis desde que não se esteja submerso na rotina conservadora aferrada à crença ilusória de que o que foi e é certamente será. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>2. As velhas crises ocidentais </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>As crises melhor estudadas são as ocidentais, reduzidas a esse espaço ou com repercussões mais amplas, inclusive planetárias, o que permite estabelecer uma longa sequência histórica. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>a. Precapitalismo: Roma. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Agora, nos princípios do século XXI, quando assistimos à acumulação de incertezas num planeta profundamente ocidentalizado (imerso na civilização burguesa) torna-se sumamente útil iniciar o percurso remontando à crise multisecular do Império Romano. Nos últimos tempos proliferaram comparações, várias delas muito atraentes, entre o declínio romano e a situação actual do Ocidente. Denis Duclos por exemplo estabelece três similitudes notáveis (Duclos Denis, 1997). Em primeiro lugar: o agravamento extremo da opressão-exploração das classes inferiores do sistema, não como primeira acumulação sangrenta, desapiedada, apontando para a expansão imperial, e sim como último recurso perante o estancamento do processo expansivo cuja continuação traz mais custos do que benefícios. Engels assinalava a respeito que no começo do fim do Império "o estado romano havia-se convertido numa máquina gigantesca e complicada com o fim exclusivo de explorar os súbditos. Impostos, gravames e requisições de toda classe afundavam a massa da população numa pobreza cada vez mais miserável, pelas exacções dos governantes, dos arrecadadores, dos soldados... (em consequência) os bárbaros contra quais pretendia proteger os cidadãos eram esperados por estes como salvadores" (Fernandez Urbiña J., 1982). A comparação com a sobre-exploração actual da periferia combinada com défices crescentes (fiscal, comercial...) nos Estados Unidos é imediata. O caso das guerras coloniais do Iraque e do Afeganistão cujo custo provoca graves problemas financeiros à superpotência, com grandes dificuldades para enviar mais tropas ao combate, pode ser facilmente comparado com situações semelhantes do Império Romano declinante. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Em segundo lugar, o distanciamento físico das classes altas em relação ao resto (actualmente o refúgio dos ricos nos seus "bairros privados" e residências afastadas e na Roma decadente da aristocracia nos seus palácios rurais). Trata-se do aprofundamento do abismo social que reproduz de maneira ampliada duas subculturas cada vez mais separadas, expressão da desvinculação crescente da elite em relação à sua base reprodutiva. Mas em ambos os casos é também distanciamento dos de cima em relação à suas responsabilidades públicas, a função integradora do Estado é desprezada, o Estado só aparece como couto de caça, lugar de rapina. No mundo de hoje isso é evidente desde os países periféricos até o centro do Império, os Estados Unidos. Em Roma "a partir do século IV já não são mais os grandes gastos em favor da sua cidade que distinguem um homem (da classe alta)... o financiamento de edifícios públicos através de fundos privados tende a diminuir... o luxo refugia-se nos palácios e residências rurais que se tornam mundos isolados" (Rostovtzeff M. I., 1973). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Como vemos, a privatização extrema não é uma criação original dos neoliberais e das suas mafias financeiras, há mais de 1700 anos a decadente aristocracia romana já a praticava. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Em terceiro lugar, a irrupção esmagadora do parasitismo, no caso de Roma desde o século III, Rostovtzeff refere-se ao predomínio "de uma nova burguesia mesquinha... que utilizava diversos subterfúgios para eludir as obrigações impostas pelo estado e que fundava sua prosperidade na exploração e na especulação o que não impediu sua decadência" (Rostovtzeff, op. cit.). Novamente o paralelo com a mafia financeira actual é imediato. Mas também em ambos os casos o poder imperial (em Roma desde o século III e em Washington hoje) é visto pelos seus chefes como uma máquina de pilhagem, a reprodução do sistema de dominação, complexo articulador de iniciativas produtivas, culturais, políticas, institucionais, militares... e de saque, é quase reduzida a esta última função o que leva a substituir a busca de consenso só pelo emprego da força bruta. Ontem as operações punitivas dos imperadores romanos, hoje o Iraque. Parasitismo, especulação, militarização. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Mas devemos ir além dos sintomas que acabo de assinalar e entender o ciclo milenar de Roma, desde a sua origem modesta até a dominação mundial, como um processo onde a cidade escravocrata de cidadãos-soldados desenvolveu a sua "conquista numa sucessão (expansiva) de círculos concêntricos produzindo uma crescente depredação de homens e produtos da periferia. O característico do referido sistema era que excluía entre outras coisas o estado estacionário, só podia subsistir incorporando novas zonas de pilhagem" (Chaunu P., 1981). Tratava-se de uma dinâmica imparável de enriquecimento do centro imperial que gerava novas necessidades de conquista. Quando por volta do século II o Império alcançou aproximadamente os três milhões de quilómetros quadrados, chegando até à Mauritânia e a Arménia, cobriu a máxima superfície de território habitado explorável dadas as condições técnicas (meios de comunicação e transporte) da época. Nesse ponto de inflexão a reprodução do sistema só podia prosseguir aumentando os níveis de exploração de recursos naturais e humanos do espaço já conquistado. A acumulação havia atingido o teto, os mecanismos de reprodução começaram a gerar crescentes desenvolvimentos parasitários, o consenso interior foi-se deteriorando ao ritmo da autofagia do sistema. O século III marcou o princípio da decadência. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Dito em outros termos, a vitória "planetária" do Império, a ocupação de todo o "mundo" (tecnicamente) possível assinalava o princípio de uma crise -- declínio que se prolongou durante vários séculos até a desintegração física completa do sistema. Só dezassete século depois, por volta de 1900, o Ocidente voltou a ocupar o seu espaço máximo, desta vez coincidente com a totalidade do planeta. Nesse momento, salvo o Japão e alguns territórios marginais, o mundo estava integrado por países ocidentais, colónias e semicolónias do Ocidente. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A crise do império romano foi atravessada, na sua etapa inicial, por tentativas fracassadas de recomposição para entrar a seguir na decadência. Foi uma crise longa, multisecular, que engendrou formas autárquicas de sobrevivência até chegar a estruturas institucionais que agrupavam, conservavam inter-relações, laços culturais, comunicações, parasitando durante muito tempo sobre os restos do antigo império para ir engendrando pouco a pouco formas renovadas, ainda que restritas, de articulação do velho espaço. A igreja cumpriu um papel essencial não só de preservação de certa continuidade cultural como também de preparação do próximo salto imperial do Ocidente. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Visto do futuro esse universo decadente, é possível afirmar que a desintegração foi desenvolvendo os embriões do que em meados do milénio seguinte seria o caminho capitalista de dominação mundial. Le Roy Ladurie afirma-o de modo contundente: "a imensa crise pós-imperial do segundo terço ou da segunda metade do primeiro milénio da era cristã gerou um dado socio-económico radicalmente novo; mais além da época medieval, prefigura e prepara a nossa modernidade capitalista" (Le Roy Ladurie, op cit). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>b. Protocapitalismo. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>No longo período que se estende entre o ano 1000 e o princípio do século XVIII podemos distinguir duas grandes crises seculares: a dos meados do século XIV (até meados do século XV) e a do século XVII, ambas podem ser incluídas no termo comum de crise do protocapitalismo. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>O processo de decadência reverte-se completamente por volta dos princípios do novo milénio, quando se produz no Ocidente a convergência de três fenómenos. Em primeiro lugar uma revolução técnica que gera um crescimento significativo da produtividade agrícola; a reintrodução maciça dos moinhos de água, as melhorias de sementes, o emprego de instrumentos de ferro. Estabelece-se assim um círculo virtuoso envolvendo o artesanato e a agricultura conformando o que autores como Gimpel denominam "revolução industrial" da baixa Idade Média (Gimpel J., 1985). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Segundo, a extensão de redes comerciais no interior do território e a sua conexão com pólos de comércio marítimo, o que impulsiona a reprodução de uma burguesia mercantil que começa a pressionar sobre as estruturas produtivas existentes. E terceiro, facto decisivo, o retorno da pilhagem colonial promovida pelas Cruzadas. Tudo isto desencadeia uma onda de prosperidade protocapitalista e a consequente explosão demográfica: a população da Europa Ocidental duplica entre, aproximadamente, os anos 1100 e 1300 (Gaudin T., 1988). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Mas a expansão colonial frustra-se porque as cruzadas não conseguem restaurar o domínio ocidental sobre o Mediterrâneo e o saque prolongado e sistemático da sua zona de influência. O que bloqueia a fonte decisiva de recursos do desenvolvimento ocidental. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Em princípios do século XIV retorna a penúria alimentar e a peste de 1348 abate-se sobre uma população fragilizada pela deterioração económica, produzindo uma catástrofe demográfica. Trata-se de uma crise longa, de aproximadamente um século, onde se sucedem guerras intestinas, pestes, quedas populacionais, mas também desarticulações institucionais e culturais significativas. Trata-se de um processo prolongado de trituração do mundo medieval do qual vão emergir em meados do século XV burguesia comerciais pequenas mas relativamente libertas dos controles feudais, grandes extensões de terras férteis com baixa densidade de população (mediante guerras-pestes) e um desenvolvimento de ideias técnicas (próprias ou copiadas-adaptadas) que permitirão o salto colonial de um protocapitalismo cuja área principal de expansão já não será o mundo mediterrânico e sim o Oceano Atlântico, primeiro em direcção à África ocidental e a seguir a América e depois em direcção ao Oriente. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Nesse sentido torna-se apropriada a ideia de Chaunu quando interpreta o longo desmoronamento do império romano como um processo de paedomorfósis; retroceder para a seguir saltar com mais força para a frente. "A paedomorfósis significa que a chegada a um certo ponto crítico e com a condição de não haver cometido erros irreparáveis, de não haver ido demasiado longe pelo caminho equivocado, a evolução pode retroceder, desandar boa parte do caminho que a havia conduzido a um beco sem saída e recomeçar a marcha numa nova direcção" (Chaunu, op.cit). A involução dos últimos dois terços do primeiro milénio é sucedida por um primeiro salto imperial (as cruzadas) que é seguido por um novo processo de crise e paedomorfismo, entre meados do século XIV e meados do século XV, de alta intensidade, com enormes quedas demográficas e produtivas que darão lugar ao começo da aventura planetária do Ocidente concluída com êxito por volta de 1900. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Mas no começo dessa longa marcha ocorreu uma nova crise secular, a chamada "longa crise do século XVII" que Le Roy Ladurie denomina "longo século XVII" estendendo-o desde as últimas décadas do século XVI até começos do século XVIII. Hobsbawn considera que "durante o século XVII a economia europeia sofreu uma crise geral, última fase da transição global de uma economia feudal para uma economia capitalista" (Hobsbawm, 1983). A desaceleração da grande expansão colonial europeia ocorrida em torno do século XVI aparece como pano de fundo do fenómeno (processo heterogéneo com algumas excepções mais ou menos duráveis). Como assinala Trivor-Roper "o XVII foi um século de expansão económica. Foi o século em que pela primeira vez a Europa esteve a viver a custa da Ásia, África e América" (Trevor-Roper, 1983). Atenuada a avalanche colonial desencadeia-se uma sucessão de convulsões económicas, político-militares, religiosas no fim das quais já nada se opõe ao avanço do capitalismo, os restos feudais são eliminados, a ciência moderna emerge irresistível, é a época de Newton e Descartes, de grandes avanços na matemática e na física, em suma de uma renovação intelectual que se contrapõe às penúrias económicas e a significativos retrocessos demográficos. O fim da primeira onda de prosperidade colonial desencadeia a crise que opera como um mega catalisador da reestruturação burguesa da Europa. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>É possível desenvolver um modelo geral das crises anteriores ao capitalismo incluindo as formas protocapitalistas mais avançadas, não só no Ocidente como no conjunto de civilizações do planeta. Em síntese, trata-se de crises de subprodução próprias de economias onde o sector agrícola consagrado à produção de alimentos era dominante, sobredeterminando de maneira absoluta o conjunto do sistema. O ciclo clássico é o seguinte: a prosperidade agrícola [1] provoca aumento de população e do aparelho estatal e outras estruturas parasitárias (religiosas, etc), sobe a massa de tributos e demais exacções aos camponeses e a pressão alimentar geral da sociedade. Isto, em condições de rigidez técnicas a médio prazo (ou de progressos hiper lentos nas técnicas vinculadas ao desenvolvimento agrícola), termina por causar o esgotamento dos recursos naturais empregados: a produtividade da terra diminui, o que exacerba a exploração das elites sobre os camponeses e destes sobre os recursos naturais declinantes, o que agrava a situação. A fase decadente pode ser antecipada, acelerada ou provocada devido a mudança climáticas negativas (que muitas vezes não constituem factores "exógenos" e sim o resultado de manipulações depredadoras do ecosistema), guerras internas, invasões, etc. [2] </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Em numerosos casos a queda produtiva, ao causar penúria alimentar, fragiliza as classes inferiores tornando-as vítimas fáceis de pestes e outras calamidades sanitárias o que costuma provocar quedas demográficas. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A escassez de alimentos causa o aumento dos seus preços (do que só se beneficiam uns poucos açambarcadores). Trata-se, em suma, de uma combinação explosiva de alta geral de preços e queda da produção. A longo ou médio prazo a catástrofe elimina população camponesa e liberta recursos (terra cultivável) o que permite recomeçar o ciclo mais adiante. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Este sistema começa a ser superado no Ocidente a partir do desenvolvimento, primeiro tímido e a seguir esmagador, da modernidade industrial.</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>c. Capitalismo industrial </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A partir dos princípios do século XVIII inicia-se uma nova era de ascenso da civilização burguesa e da sua base colonial que chega ao ponto do domínio planetário máximo por volta do ano 1900. O crescimento económico, salpicado por numerosas turbulências, algumas com estancamentos ou depressões de duração variável, prolonga-se até a actualidade. E, por volta de fins do século XX, importantes rupturas anti-capitalistas (em primeiro lugar a Revolução Russa) haviam sido reabsorvidas pelo sistema. Contudo, é necessário aprofundar a análise. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Uma primeira distinção deve ser feita entre as velhas crises de subprodução que ainda se sucederam no século XVIII e as crises de sobreprodução não muito prolongadas, mas cíclicas, próprias do capitalismo industrial ascendente. Estas últimas aparecem como crises de sobre-oferta geral de mercadorias (ou procura relativa insuficiente) combinada com a baixa da taxa de lucro. Os capitalistas entram numa dinâmica onde competem uns com os outros ao mesmo tempo que travam a participação dos assalariados nos benefícios obtidos pelo incremento da sua produtividade (graças ao fluxo incessante de inovações técnicas). Precisam investir cada vez mais para sustentar seus lucros (diminui a taxa de lucro) e o grosso da população afectada pela concentração de rendimentos tem dificuldades crescentes para comprar a massa de produtos oferecidos pelo sistema económico. A crise de sobreprodução aparece como consequência de diversos factores: a sobreacumulação de capitais que engendra uma capacidade oferta que ultrapassa a procura, o subconsumo relativo ligado ao anterior, a desordem produtiva e económica em geral e o declínio da rentabilidade das actividades produtivas. A evolução negativa pode ser desacelerada ou bloqueada graças a certas iniciativas estatais (reduções fiscais, compras públicas a preço artificialmente altos, etc), uma maior exploração da periferia, e eludida por alguns capitalistas através do canibalismo financeiro, assim como o subconsumo relativo pode ter paliativos por meio de créditos, pressões consumistas, etc. Mas, finalmente, o peso das grandes tendências acaba por se impor, provocando a crise e com ela deflação, desocupação, encerramento de empresas, etc. Até que o desastre produza uma baixa decisiva nos salários e vazios significativos de oferta, então o investimento produtivos encontra espaços de alta rentabilidade, pode incrementar o empregado de assalariados (baratos) e vender para mercados vacantes; o ciclo económico recomeça. Ainda que, como demonstraram Marx e Engels ao descrever as crises do século XIX e sua reprodução futura, não se trate de simples repetições e sim de uma sucessão de ciclos cada vez mais degradados. Isto só pode ser entendido a partir de uma visão histórica, superando as modelações ahistóricas da teoria económica. Como assinala Marx: "Até 1825... pode-se dizer que as necessidades do consumo geral marchavam mais rapidamente que a produção, e que o desenvolvimento da maquinaria era a consequência forçosa das necessidades do mercado... (na Inglaterra) a indústria acabava de sair da sua infância, como o prova o facto de que é só com a crise de 1825 que ela inaugura o ciclo periódico da vida moderna. E foi só em 1830 que se produziu uma crise realmente característica (de sobreprodução" (Marx-Engels, 1978). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Abriu-se então um período de crises decenais de crescimento que mascaram o ascenso do capitalismo industrial inglês, mas em 1870 Engels afirmava que pelo menos para a velha Inglaterra essas regularidades pertenciam ao passado: "A supressão do monopólio inglês sobre o mercado mundial e os novos meios de comunicação contribuíram para liquidar os ciclos decenais da crise industrial" prognosticando desde então a tendência para um encurtamento do ciclo até chegar assintoticamente a uma crise crónica, uma super-crise muito provavelmente acompanhada por guerras, antecipando o desastre de 1914-18 (ibid). Mas antes desse momento o capitalismo exacerbou sua pressão expoliadora, engendrando deformações parasitárias-financeiras que foram estendendo sua dominação ao conjunto do sistema, incluindo o Estado, abrindo a era do imperialismo contemporâneo, que Bucarin definirá mais tarde como "a política do capital financeiro" (Bucarin, 1971), expressão segundo Lénin da "degeneração do capitalismo" correspondente à sua etapa histórica de decomposição parasitária (Lenin, 1960). Obviamente nenhum deles estabeleceu prazos precisos ainda que o seu optimismo os levasse muitas vezes, como é lógico, a inclinar-se por uma aceleração dos tempos. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Podemos então descrever a trajectória das crises no Ocidente ao longo do século XIX partindo de "crises mistas", muito no princípio, onde se misturaram fenómenos próprios das velhas crises de escassez ou subprodução, correspondentes às economias com predomínio agrário, com as novas crises de sobreprodução inscritas na era industrial, passando pelas crises de sobreprodução "clássicas" descritas por Marx, suas repetições decenais, até chegar nos fins desse século à emergência dominante do capital financeiro. Todo esse longo período inscreve-se numa onda mais extensa que arranca em princípios do século XVIII, marcada pela expansão imperial do Ocidente. É uma terceira arremetida depredadora depois das cruzadas no início do milénio e das conquistas coloniais dos século XV e XVI. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>d. Capitalismo drogado </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A partir dos fins do século XIX abre-se a era das crises do "capitalismo drogado", do imperialismo contemporâneo, "reacção da forma capitalista perante o seu envelhecimento... tentativa destinada a sustentar e acelerar de maneira artificial o processo produtivo" (Roger Dangeville em Marx-Engels, op. cit.). As referidas turbulências sucederam-se ao longo do século XX. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A primeira delas foi a super-crise de sobreprodução que derivou na Primeira Guerra Mundial, da qual emergiu uma civilização burguesa amputada pela Revolução Russa. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A segunda foi a de 1929 e sua sequela depressiva que chegou à terceira, a Segunda Guerra Mundial. Desde então o capitalismo global saiu com decisivos retrocessos territoriais que continuaram até fins dos anos 1970: a perda da Europa do Leste, da China em 1949, Cuba em 1959 até chegar ao Vietnam em meados dos anos 70... vinculada a uma onda tricontinental periférica de revoluções anti-imperialistas ameaçando deslocar o capitalismo como sistema mundial. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Aqui nos encontramos com um capitalismo caracterizado por uma esmagadora intervenção do Estado, pela extensão de grandes burocracias públicas, pela instalação da indústria militar e dos aparelhos institucionais correspondentes como muleta decisiva do sistema, a hipertrofia de produções de bens suntuários e de consumos artificiais, a sustentação estatal da procura (subvenções ao consumo, gastos de prestígio, obras públicas, gastos militares...), o manejo voluntaristas do crédito. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Essa fase decolou nos últimos anos do século XIX com uma avalanche militaristas ligada às grandes empresas do sector e às suas tramas financeiras, fenómeno que Engels destacou no fim da sua vida (Marx-Engels, op.cit.) e que explodiu na guerra de 1914-18. Ela continuou com os fascismos nos anos 1920 e 1930, mas também com o New Deal nos Estados Unidos... e com a Segunda Guerra Mundial. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Depois de 1945 consolidou-se com o mega remendo keynesiano que estabilizou o Ocidente, permitindo-lhe integrar as suas classes baixas e assegurar pouco mais de duas décadas de crescimento sustentado. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Pode ser útil destacar quatro fenómenos que, sob diversos envoltórios ideológicos e políticos, atravessaram o período (entre fins do século XIX e princípios dos anos 1970). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Primeiro, a ideia de que as crises capitalistas podiam ser domesticadas e inclusive anuladas graças à aplicação de doses variáveis de voluntarismo estatal. Foi uma convicção forte nos delírios fascistas, mas também o foi depois de 1945 durante a prosperidade keynesiana. A crise iniciada em fins do anos 1960 e que explodiu incontrolável em 1973-74 esmagou a referida ilusão. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Segundo, o ascenso do capital financeiro como centro dominante do mundo burguês até chegar à hegemonia absoluta a partir dos finais dos anos 1970. Na sua origem o fenómeno foi descrito, entre outros, por Hilferding, Lénin, Bucarin, mas na referida época e até muito depois (pelo menos até os anos 1960) essa dominação económica crescente teve de coexistir com a hegemonia cultural do produtivismo, a legitimidade burguesa encarnava-se na figura da empresa produtiva, nos seus gerentes e engenheiros industriais. Tudo mudou a chegada do neoliberalismo, os engenheiros industriais foram ofuscados pelo ascenso dos engenheiros financeiros, os capitalistas inovadores produtivos foram deslocados do altar da cultura burguesa pelos especuladores financeiros, os Henri Ford pelos George Soros. A dominação financeira discreta tornou-se hegemonia civilizacional do parasitismo. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Terceiro, a persistência e expansão permanente no longo prazo dos complexos económico-militares (indústrias, sistemas de espionagem, burocracias militares, camarilhas políticas e financeiras, etc). A expectativa da sua redução após a primeira guerra mundial foi rapidamente descartada, o mesmo aconteceu depois de 1945 e do fim da guerra fria. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Quarto, a combinação perversa do retrocesso territorial do capitalismo (entre a primeira guerra mundial e fins dos anos 1970) com a reprodução da sua hegemonia cultural planetária. As rupturas anti-capitalistas dessa época foram, do ponto de vista ideológico, rupturas a meias, híbridos culturais, prisioneiras dos mitos da revolução tecnológica ocidental (subestimando seu peso cultural capitalista), da eficácia do novo estado burguês do século XX, do capitalismo de estado, da planificação autoritária, das formas militarizadas de organização, do modelo de consumo ocidental, da ideologia do progresso. A tragédia desse período foi protagonizada por tentativas heróicas de construção de um mundo novo, socialista, que chocavam com gigantescas barreiras civilizacionais que as impediam de desenvolver plenamente uma cultura superadora do desenvolvimento e do subdesenvolvimento burguês. O que deu lugar a degenerações monstruosas como a do estalinismo cujo pano de fundo foi o fracasso da Revolução Russa, deglutida pelo aparelho burocrático, herança do passado czarista (forma específica do capitalismo periférico, subdesenvolvido) mas recomposto ao consolidar-se a União Soviética, modernizado segundo as técnicas autoritárias (ocidentais) mais avançadas da época [3] </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Com as revoluções e reformas nacionalistas da periferia a meio caminho entre a imitação dos êxitos idealizados das transformações keynesianas nos países centrais e os híbridos socialistas (em primeiro lugar a URSS) o resultado foi semelhante. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Em síntese, o retrocesso do capitalismo mundial foi compensado, amortecido por um resseguro, uma reserva descomunal de poder, nutrida pela super-acumulação histórica de riquezas e de desenvolvimento cultural, o que lhe permitiu bloquear as rupturas periféricas (anti-capitalistas e nacionalistas) e também as que emergiram no seu próprio seio. Mas o declínio seguiu o seu curso, atravessando crises de diferente envergadura, prosseguindo a mutação parasitária do sistema. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>3. A crise actual </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A última grande onda de prosperidade do capitalismo conduziu, em fins dos anos 1960, a uma acumulação de desequilíbrios que foram forjando as condições de uma crise geral de sobre-produção. Tal como em outras ocasiões esta não se restringia à esfera económica pois abrangia o conjunto da reprodução social, enquanto emergiam as tensões monetárias, os desajustes comerciais, as aventuras militaristas (Vietnam), explodiram em 1968 inesperadas rupturas políticas nos países centrais. A Europa viu-se sacudida por uma série de rebeliões que estabeleceram um corte cultural profundo que marcava o fim do optimismo burguês, do renascimento das ilusões do progresso indefinido. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Chegou a seguir a crise monetária de 1971 e finalmente a disparada de preços do petróleo de 1973-74. Esta última foi o detonador da crise mundial. Que não se exprimiu sob o aspecto deflacionista convencional e sim como uma combinação inovadora de estancamento (até chegar à recessão) e inflação. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>A outra "novidade" foi a natureza do "detonador". A alta do preço do petróleo levou nessa altura Le Roy Ladurie a assinalar que não se tratava de uma crise tradicional de sobreprodução e sim de uma "crise mista" de sobreprodução, principalmente industrial, e de subprodução, de escassez de matéria-prima energética (Le Roy Laduri, op.cit). Mandel respondeu acertadamente a este tipo de argumentações assinalando que não era a primeira vez que a escassez de uma matéria-prima cumpria essa função; a crise de 1866 por exemplo foi provocada pela penúria de algodão devida à guerra de secessão nos Estados Unidos (Mandel E., op. cit). Evidentemente não é o tipo de detonador o que define a dinâmica da crise ainda que não se tenha tratado de um factor conjuntural, de uma penúria acidental ou reversível no âmbito histórico capitalista e sim de um fenómeno que desde princípios dos anos 1970 foi emergindo de maneira irresistível como parte de um processo mais amplo de destruição de recursos naturais. Esta subestimação permitiu a Mandel explicar a referida crise sem se afastar do esquema marxista convencional, deixando de lado uma avaliação civilizacional de maior alcance. A escassez de matéria-prima energética (petróleo) pôde ser amenizada e inclusive revertida a médio prazo (poupanças de energia, substituições parciais) mas acabou por impor-se a longo prazo. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Não se tratava do retorno ao mundo dos princípios do século XIX e sim de um fenómeno ao mesmo tempo "novo" (do ponto de vista do capitalismo) mas que se entrelaçava inesperadamente com crises antigas, muitas delas civilizatórias. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Os Estados Unidos haviam chegado em princípios dos anos 1970 ao zenit da sua produção de petróleo. A partir dali a mesma desceu de maneira irresistível. Mas foi em meados dos 1980 que a tendência se acelerou; entre 1986 e 2004 a extracção caiu cerca de uns 40%. Um de cada quatro barris vendidos no mercado internacional é, no princípio de 2005, comprado pelos Estados, que representa só 9% da produção mundial de petróleo apesar de consumir 25% da mesma. A isto acrescenta-se a União Europeia que importa 80% do petróleo que consome, ao passo que o Japão compra no exterior quase 100% do seu consumo. Se somarmos as três potências teremos 12% da produção mundial mas 50% do consumo e 62% das importações internacionais (Beinstein J., 2004). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>O declínio petroleiro estadunidense foi prognosticado por King Hubbert nos anos 1950 por meio de um modelo matemático que foi a seguir aplicado por destacados peritos à produção global, chegando à conclusão de que o planeta alcançaria o ponto de máxima produção de petróleo entre 2008 e 2012. Entretanto, novas avaliações levaram muitos deles a aproximar a data para 2007 e inclusive 2006. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Actualmente, à pressão sobre os recursos exercida pelas três potências mencionadas acrescenta-se a procura adicional (em expansão explosiva)da China. O resultado em 2004 foi uma forte elevação do preço do petróleo. A esta escassez no prazo curto-médio é necessário somar outras menos próximas, como a dos recursos hídricos e a das terras férteis, sobretudo em extensas áreas da periferia onde a aplicação de tecnologias avançadas vai degradando esse recursos natural (exemplo: as técnicas de "semeadura directa" associadas ao emprego de agroquímicos depredadores na produção de soja ou milho transgénicos impostos por multinacionais do sector como a firma Monsanto). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Uma conclusão teórica importante é que o modelo marxista convencional de crise de sobreprodução é ao mesmo tempo um instrumento indispensável mas ao mesmo tempo insuficiente para compreender a crise iniciada em fins dos anos 1960. Esta crise mista de sobreprodução e subprodução (de matérias-primas devido ao esgotamento de recursos naturais) surge então como um resultado muito original da sucessão de crises capitalistas de sobreprodução mas com vínculos, similitudes históricas com crises civilizatórias anteriores ao capitalismo. Porque o que se trata, visto no longo prazo, é de um fenómeno de rigidez técnica (ou melhor, tecnológica, nesta era de fusão entre ciência e indústria) que bloqueia mudanças em métodos de produção essenciais (de produtos energéticos e outros) provocando esgotamento de recursos naturais. A referida rigidez não é um obstáculo superável no âmbito civilizacional existente e sim um dos resultados centrais de um processo cultural prolongado, de um modo de produção (capitalista, no presente caso) que se instalou e consolidou num longo período histórico até adquirir dimensão planetária. Poderia argumentar-se que actuais e futuras revoluções tecnológicas acabarão por solucionar esses problemas, mas essa é uma resposta limitada (prisioneira de abstracções tecnologistas), devem ser considerados os custos e tempos de reconversão, e sua compatibilidade com a lógica da rentabilidade capitalista, pressionada agora como nunca pelo comportamento curtoprazista próprio da hegemonia financeira. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Ao desencadear-se a crise, entre 1868 e 1974, exacerbaram-se as tendências à concentração de empresas e de rendimentos entre centro e periferia no interior de ambos os subsistemas, o que produziu crescentes massas de marginais, acentuando uma crise de sobreprodução (e subconsumo relativo global) que se tornou crónica, com agravamentos e alívios efémeros. A taxa de crescimento da economia mundial foi decrescendo gradualmente desde então sob a pressão declinante dos países centrais. O estancamento japonês desde os princípios dos 1990 acentuou a tendência, a desaceleração alemã foi menos pronunciada devido aos benefícios passageiros da anexação da Alemanha do Leste e a depredação financeira dos ex-países socialistas da Europa e da URSS. E a dos Estados Unidos menos ainda, pelo menos até agora (princípios de 2005), graças às sucessivas borbulhas especulativas que inflaram a sua procura absorvendo porções crescentes da poupança global. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Arrefecimento da produção e da procura que engendrou um círculo vicioso financeiro cada vez mais ingovernável. Os estados dos países ricos a sustentarem suas procuras internas com subsídios, isenções fiscais, gastos militares e outros meios, para os quais recorrem ao endividamento. Empresas a colocarem excedentes nessas dívidas e em papeis de outras empresas que absorvem recursos para investi-los nas suas guerras tecnológicas e comerciais cada vez mais custosas. O que cria novos excedentes orientados também para a rapina na periferia e finalmente para negócios ilegais, o que por sua vez gera mais excedentes. Borbulhas financeiras que estalam ou desincham uma após a outra para reconstituir-se em países e rubricas variáveis. A crise financeira japonesa dos princípios dos anos 90, seguida pouco depois pela do México, em 1997 pela da Ásia do Leste, da Rússia em 1998, até chegar ao esvaziamento da super-borbulha bursátil nos Estados Unidos em princípios do presente milénio sucedida nesse mesmo país por uma nova borbulha especulativa muito maior que a anterior combinada com um paroxismo militarista. O que precipita a super-potência na sobre-extensão estratégica: é obrigada pela sua lógica imperial a ampliar o seu desperdício militar, com consequências desastrosas para as suas finanças públicas. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Um conceito muito útil para descrever este panorama é o de "capitalismo senil", que pode ser associado a visões parecidas correspondentes a outras crises de civilização. São Cipriano, por exemplo, em meados do século III referiu-se ao envelhecimento do mundo romano como causa da sua decadência (Fernandez Urbiña J., op. Cit.). Por volta de fins dos anos 1970 Roger Dangeville foi o pioneiro a instalar o conceito, antecipando assim o desenvolvimento futuro da crise que então começava (Marx-Engels. op. cit.). </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Para Dangeville estava a iniciar-se um processo de crise de sobreprodução crónica, com estalidos controlados, sem as quedas espectaculares das grandes crises capitalistas anteriores (pelo menos num primeiro e longo percurso). Mas sem as recuperações vigorosas que se sucederam por exemplo no século XIX (sequência de "crise de crescimento", na era do "capitalismo senil" pelo contrário cada turbulência importante (entendida como uma única super crise, crónica, de longa duração) não é sucedida por uma nova expansão durável e sim por sobrevivências praguejadas de deteriorações, de perdas de vitalidade. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>É possível assinalar indicadores evidentes da senilidade do mundo burguês, dentre outros: primeiro, a tendência de longo prazo, persistente (mais de três décadas até agora) à desaceleração do crescimento económico global. Todos os "milagres" anteriores que prometiam contrapor-se a essa tendência esfumaram-se um após o outro (Japão em 1990, os tigres asiáticos em 1996) e o actual, a China, esta tão atado como os seus antecessores aos avatares da euforia parasitário-consumista dos Estados Unidos, o que não lhe augura um futuro brilhante. A perda de dinamismo aparece como um fenómeno irresistível. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Segundo, a hipertrofia (hegemónica) financeira global, o parasitismo já fez metástases, invadindo (controlando) a totalidade do sistema mundial.</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Terceiro, a evidência de rendimentos produtivos decrescentes da revolução tecnológica que, submetida à dinâmica do capitalismo parasitário, vai-se convertendo num factor de destruição líquida de forças produtivas. Já mencionei o caso dos transgénicos, poderíamos acrescentar o da dupla informática-financiarização, destruidora maciça de empregos, de economias nacionais na periferia. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Quarto, a decadência do estado burguês, peça mestra da civilização burguesa. Que se exprime no desengonzamento estatal de boa parte da periferia, no apodrecimento institucional norte-americano, na crescente crise de representatividade-legitimidade nos estados da União Europeia, etc. Os neoliberais dos anos 1990 costumavam alegrar-se diante desse facto, muitos deles vaticinavam a emergência de uma espécie de "autoridade global transnacional" (amálgama de FMI, Banco Mundial, OMC, Nações Unidas...). Foi uma fantasia efémera, o aprofundamento da crise degradou e desacreditou essas organizações, as necessidades imperiais dos Estados Unidos (empregando brutais iniciativas militares e financeiras) contribuiu decisivamente para isso. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Quinto, a ultraprivatização da riqueza que se manifesta como desprezo da burguesia imperial (mas também das periféricas) para com a função pública. Ou seja, o desinteresse das classes dominantes pela integração das classes inferiores através do Estado. O apartheid social é uma das suas consequências. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Sexto, a desintegração social, marginalização em ascenso de grandes massas humanas. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Sétimo, ligado ao anterior, a sub-utilização e destruição de forças produtivas (no sentido amplo do termo) em escala global. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Oitavo, a inutilidade prática crescente dos refinados e caríssimos aparelhos militares, cujo gigantismo esmagador contrapõe-se à sua incapacidade para ganhar guerras coloniais como a do Iraque. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>É necessário constatar que a longa crise actual, motorizada por uma sobredose de parasitismo financeiro, sem reconversões produtivas à vista, desintegrando de modo permanente grandes massas de população, apontando para o esgotamento de recursos naturais, rompeu numerosas rotinas características do velho capitalismo. Dentre elas a repetição de grandes ciclos de depressão-expansão como as ondas longas de Kondratieff. Nos fins do século XIX Engels sustentava que os ciclos decenais que a economia inglesa havia atravessado começavam a fazer parte do passado (Marx-Engels, op.cit.). Agora a experiência recente mostra-nos que a dinâmica dos ciclos de Kondratieff, de aproximadamente cinquenta anos (um quarto de século de ascenso e um quarto de século de descenso) a partir da "crise" da mudança de fase (1968-74) converteu-se desde há mais de três décadas em "crise crónica" (em breve cumprirá quarenta anos de idade). Sua duração supera amplamente todos os declínios capitalistas anteriores (séculos XIX e XX) e qualquer avaliação minimamente rigorosa concluiria com o prognóstico de que esta onda descendente durará facilmente mais de meio século, o equivalente a mais de um ciclo completo de Kondratieff (com o seu ascenso e descenso). Aqueles (como os neoliberais, neokeynesianos, etc) que desde fins dos anos 1990 esperam confiantes o "iminente" recomeço de uma nova era de prosperidade capitalista deverão transformar a sua impaciência em resignação. O mundo mudou. A profundidade da decadência não admite novos remendos (keynesianos ou outros), admitirá sim, cada vez mais, mudanças revolucionárias integrais, tentativas de abolição (superação) do quadro civilizacional actual, da civilização burguesa que depois do seu percurso milenar e de haver chegado à hegemonia planetária tornou-se antagónica às grandes forças humanas que ela própria desencadeou. O pós-capitalismo surge agora, muito mais que nos princípios do século XX (quando começou a primeira etapa da decadência do sistema) como uma necessidade profunda do género humano. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>______ </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>Notas: </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>(1) A prosperidade agrícola podia eventualmente ser o resultado da recuperação de uma crise anterior, da incorporação de novas terras férteis, da realização de grandes obras de regadio e em certos casos impulsionada por rapinas de outras populações sob a forma de tributos, trabalho escravo, etc. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>(2) A fase descendente podia ser travada pela obtenção de riquezas provenientes de rapinas externas ou então pela introdução de melhorias técnicas. </b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b>(3) O ascenso de Stalin ao poder deve ser interpretado não como a vitória do "atraso asiático" e sim como a reinstalação de formas despóticas de modernização, seguindo e radicalizando modelos organizativos autoritários provenientes do Ocidente e reconectando com a trajectória traçada pelos "modernizadores" Ivan o Terrível e Pedro o Grande.</b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>__________ <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>Bibliografia <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Beinstein Jorge; "Estados Unidos en el centro de la crisis mundial", Enfoques Alternativos nº 27, Buenos Aires, noviembre 2004. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Bujarin Nicolai I., "El imperialismo y la economía mundial", Cuadernos de Pasado y Presente, Córdoba, Argentina, 1971. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Chaunu Pierre, "Histoire et décadence", Perrin, Paris, 1981. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Duclos Denis, "Étrange ressemblance avec la fin de l'empire romain. La cosmocratie, nouvelle classe planétaire". Le Monde Diplomatique, París, Août, 1997. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Fernandez Urbiña J., "La crisis del siglo III y el fin del mundo antiguo", Akal/Universitaria, Madrid, 1982. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Fukuyama Francis, "El fin de la historia?", Doxa nº1, Buenos Aires, 1990. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Gimpel Jean, "La revolution industrielle au Moyen Age", Seuil, 1985. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Godin Thierry, "Les métamorphoses du futur", Económica, Paris, 1988. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Hobsbawm E. J.; "La crisis del siglo XVII" en "Crisis en Europa, 1560-1660", Compilación de Trevor Aston, Alianza Universidad, Madrid, 1983. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Lenin V. I., "El imperialismo, fase superior del capitalismo" en "Obras Escogidas", tomo I, Ediciones en Lenguas Extrangeras, Moscú, 1960. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Le Roy Ladurie Emmanuel, "La crise et le historien" en "Le Concept de crise", Editions du Seuil, Paris. 1976. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Mandel Ernest; "La crise 1974-78", Champs-Flamarion, París, 1978. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><b><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">- Marchal J.M; "Expansion et récession. </span><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;">Iniciation aux mécanismes généraux de l'économie", Cujas, París, 1963. <o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Marx-Engels, "La crise", Recopilación y comentarios de Roger Dangeville, 10/18- Union Générale d'Editions, París, 1978. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Rostovtzeff M. Invanovich, "Historia social y económica del Imperio Romano", Espasa-Calpe, Madrid, 1973. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><span lang="ES-TRAD" style="mso-ansi-language: ES-TRAD;"><b>- Trevor-Roper H. R., "La crisis general del siglo XVII" en "Crisis en Europa, 1560-1660", Compilación de Trevor Aston, Alianza Universidad, Madrid, 1983. <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b>[*] jorgebeinstein@yahoo.com </b></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><b>Este ensaio encontra-se em <a href="http://resistir.info/">http://resistir.info/</a>.</b></div>Marcelo Torreãohttp://www.blogger.com/profile/06539600201579583277noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-63494916057542283362011-06-09T16:34:00.000-07:002011-06-09T16:34:25.502-07:00Rapina em tempos de barbárie!<h1 style="text-align: justify;">A Etiópia está à venda</h1><div> </div><h2 style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;">Imaginem terrenos férteis com uma área semelhante à do distrito de Lisboa arrendada durante 50 anos, por menos de 700 euros/mês. O negócio está sendo oferecido pelo governo da Etiópia. Apesar da Etiópia ser um dos países com maiores problemas de subnutrição do planeta – recebeu no ano passado 700 mil toneladas de alimentos como ajuda humanitária – os investidores vão produzir colheitas de alto valor como soja, óleo de palma, algodão e açúcar para exportação ao invés de cereais e outros vegetais para consumo das populações etíopes. O artigo é de Nelson Peralta</span>.</h2><div style="text-align: justify;"> </div><div class="headline-link" style="text-align: justify;">Nelson Peralta - Esquerda.net</div><div style="text-align: justify;"> </div><div class="texto" style="text-align: justify;">Imaginem terrenos férteis com uma área semelhante à do distrito de Lisboa arrendada durante 50 anos, por menos de 700 euros/mês. Não é preciso imaginar. É apenas mais um negócio oferecido pelo governo da Etiópia. No total, a oferta de terrenos nestas condições equivale já à área dos quatro maiores distritos portugueses: Beja, Évora, Santarém e Castelo Branco. Cerca de 35% da área continental de Portugal, três milhões de hectares, um quadrado com 173 km de lado.<br />
<br />
Ao mesmo tempo, o governo etíope tem em curso um programa de relocalização das populações dessas áreas. O argumento é o de agrupamento em povoações maiores para assim assegurar o acesso ao abastecimento de água, à rede viária, a escolas, hospitais, transportes, etc.. A simultaneidade entre os dois acontecimentos é mera coincidência, dizem os responsáveis. A verdade é que a promessa de melhores infra-estruturas e maior qualidade de vida não tem passado disso mesmo, uma promessa, e o clima de medo e opressão está instalado. Só durante este ano, mais de 15 mil pessoas serão relocalizadas.<br />
<br />
Apesar da Etiópia ser um dos países com maiores problemas de subnutrição do planeta – recebeu no ano passado 700 mil toneladas de alimentos como ajuda humanitária – os investidores vão produzir colheitas de alto valor como soja, óleo de palma, algodão e açúcar para exportação ao invés de cereais e outros vegetais para consumo das populações etíopes. Aos impactos sociais junta-se a devastação ambiental extrema: os terrenos são queimados, as florestas abatidas e as zonas úmidas drenadas. Uma reconfiguração do ecossistema em grande escala.<br />
<br />
Estes fatos foram revelados por uma <a href="http://www.guardian.co.uk/global-development/video/2011/mar/21/ethiopia-land-rush" target="_blank">reportagem do The Guardian</a>. O governo etíope defende esta industrialização em larga escala como necessidade e única solução para o desenvolvimento. Curiosamente, no início deste mês, um <a href="http://www.srfood.org/index.php/en/component/content/article/1-latest-news/1174-report-agroecology-and-the-right-to-food" target="_blank">relatório das Nações Unidas</a> mostrou que a agricultura ecológica, desenvolvida por pequenos agricultores e sem se basear em químicos e pesticidas, pode dobrar a produção alimentar em África nos próximos dez anos.<br />
<br />
A mega-exporação de que falava no início, com o tamanho do distrito de Lisboa, terá 60 mil trabalhadores que vão ganhar menos de um dólar por dia. A sua missão será trabalhar as terras que sempre foram suas e para as quais não podem voltar com pleno direito. O governo garante ainda aos investidores vários incentivos fiscais e estradas construídas com dinheiro públicos.<br />
<br />
O benefício para a população etíope é imperceptível. Ficam sem os alimentos e sem as terras para a produzir. O futuro fica comprometido. O poder do Estado e o seu aparelho repressivo garantem a venda a retalho do país e colocam a economia ao serviço da extorsão. Tudo à custa da segurança alimentar e da escravização “moderna” da sua população. Os poucos que lucram com o negócio - o fundo de pensões do Reino Unido, outros fundos financeiros e os tubarões internacionais do ramo - agradecem e mantém a sua aura de responsabilidade social.<br />
<br />
<i>(*) Nelson Peralta é biólogo, dirigente do Bloco de Esquerda, de Portugal.</i></div><div class="texto" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="texto" style="text-align: justify;"><i>In: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17608 </i></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-43244073195276270402011-06-09T16:22:00.000-07:002011-06-09T16:22:01.064-07:00Novo Código dos Latifundiários, dos Lobistas, dos Comodities e do Capital Autofágico<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="small">Escrito por Gabriel Brito e Valéria Nader, da Redação </span> Ter, 31 de Maio de 2011 22:37 </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Após meses de calorosos debates e pesados lobbies, a Câmara dos Deputados aprovou o substitutivo do atual Código Florestal, projeto apresentado pelo deputado do PC do B Aldo Rebelo, em nome de toda a bancada dos empresários ruralistas que ocupam o Congresso. Para analisar a pior derrota do núcleo duro governista até o momento, refratário ao novo Código, o Correio da Cidadania conversou com o </em><strong><i>geógrafo da USP Ariovaldo Umbelino.</i></strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong><i> </i></strong></div><div style="text-align: justify;"> <em>Escaldado com os projetos anti-ambientais, naquilo que já cunhou de "agrobanditismo", Umbelino não se mostrou surpreso com mais essa vitória ruralista, na esteira das MPs 422 e 458, além do programa Terra Legal. São todos estes, a seu ver, contribuintes inequívocos para o aumento da violência no campo, já registrado nas estatísticas de 2009 para 2010 e marcado a fogo com o assassinato de um casal de extrativistas paraenses na véspera da votação do novo Código Florestal. </em></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"> <em>O professor da USP, atualmente em visita na Universidade Federal de Tocantins, critica todos os pontos modificados ao interesse dos latifundiários, mas destaca como mais temerárias a anistia a desmatamentos já realizados e a redução de Áreas de Proteção Permanente, as APPs. Além da diminuição da exigência de preservação de matas ciliares, quando estudos já apontam que isso leva ao ressecamento de nascentes de rios, como se verifica no São Francisco. </em></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Sobre estados e municípios tomarem para si a atribuição federal de definir políticas ambientais de uso e concessão de solo, considera ser o ponto mais fácil de derrubar no Supremo. De toda forma, Umbelino crê que, com ou sem o novo Código, o desmatamento continuará a todo vapor, "porque não tem fiscalização e governo que façam cumprir as infrações à lei no Brasil" e "a maior parte do Congresso é favorável à desregulamentação geral do que o agronegócio entende como obstáculos". Exatamente por isso, não acredita que Dilma conseguirá impor o veto ao projeto, conforme declarou. </em></div><div style="text-align: justify;"> <em>A entrevista com Ariovaldo Umbelino pode ser lida em sua íntegra a seguir. </em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <strong>Correio da Cidadania: Como o senhor analisa a aprovação na Câmara dos Deputados do novo Código Florestal, apresentado por Aldo Rebelo, com o afrouxamento de exigências e regras estabelecidas pelo Código anterior? </strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>A aprovação do Código Florestal com as modificações introduzidas pelo Aldo Rebelo vai na mesma direção de um conjunto de legislações que foram sendo afrouxadas, sob o objetivo fundamental de liberação integral para a ação do agronegócio em território brasileiro. Tais ações começaram com a lei que permitiu a introdução dos transgênicos, passaram pela permissão à retirada de madeira de dentro das florestas nacionais e também pelas MPs 422 e 458, que permitiram a legalização da grilagem na Amazônia legal.</div><div style="text-align: justify;"> Portanto, o projeto desse Código Florestal faz parte da história que marcou o governo do presidente Luiz Inácio e agora se estende, no sentido de desregulamentar toda e qualquer legislação que impeça a ação do agronegócio no Brasil. É o principal ponto.</div><div style="text-align: justify;">E evidentemente Aldo Rebelo prestou mais um desserviço à sociedade brasileira. Primeiro, por fazer um substitutivo já ruim, e, em segundo lugar, por abrir a possibilidade de aprovação das modificações introduzidas no plenário. Elas tornaram o projeto, do ponto de vista da proteção ambiental, péssimo e infrator de todos os princípios de preservação, ainda introduzindo artigos que permitirão a imposição da lógica da terra arrasada ao meio ambiente brasileiro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <strong>Correio da Cidadania: Com o novo Código, estados e municípios, mais vulneráveis a pressões políticas, poderão legislar sobre o uso e concessão do solo em Áreas de Proteção Permanente, uma política, dentre outras, até então sob o âmbito federal. O que pensa disto? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>Esse talvez seja o ponto mais fácil de derrubar no Supremo. A Constituição atribui à União o poder de legislar sobre o meio ambiente. É um item que começa a abrir precedentes, mas imagino que, mesmo aprovado, possa ser derrubado por ação de inconstitucionalidade. Diferentemente dos outros itens, de interesse direto ao próprio Código, que pela Constituição devem ser objeto de lei. Eles também têm problemas de introdução, mas a briga é sempre imprevisível. </div><div style="text-align: justify;">De toda forma, tal medida equivale a transferir toda a legislação de terras a estados e municípios. </div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: O que é impraticável na realidade, pois, tal como você já nos disse, biomas e áreas de preservação não reconhecem limites geográficos desenhados pelo homem. </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>É como dizer que a legislação ambiental não é mais da alçada do governo federal. E assim, com uma lei, se revoga a Constituição. De qualquer maneira, ainda acho que esse ponto não é o mais complicado. O pior são as reduções nas APPs, a consolidação do estrago já feito nelas com a anistia a desmatadores.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: A dispensa de reposição de reservas em pequenas propriedades, de até 4 módulos fiscais, não acarretará, ademais, uma avalanche de medidas para driblar a legislação, como, por exemplo, a partilha de propriedades? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>Sobre isso, há o problema de se apresentar tal fato como reivindicação dos pequenos proprietários. Na realidade, isso não existe tão claramente como se coloca aqui no Brasil. Como exemplo, temos o setor sucroalcooleiro, cujas propriedades nunca deixaram de continuar a ser compradas, mas seus donos nunca fundiram as escrituras dos imóveis comprados, convertendo-as em uma única. Nesse setor, portanto, existe muita área considerada pequena propriedade, cuja escritura atesta ser inferior a 4 módulos fiscais. Esses proprietários também serão beneficiados, porque a rigor a propriedade é inferior ao tamanho proposto. </div><div style="text-align: justify;">Os grandes proprietários do Brasil não anexam todas as suas propriedades. Por trás da proteção aos pequenos agricultores, portanto, protegem-se os grandes. Em Ribeirão Preto e região, há até unidade industrial de usina de açúcar em cima de APP. Na verdade, é uma proteção aos grandes, a todos os setores do agronegócio. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: Haveria como averiguar efetivamente onde estão os agricultores que são realmente familiares, que são aqueles que deveriam de fato ficar isentos dessa reposição de reservas? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino:</strong> É claro. Na verdade, a permissão deveria ser competência do IBAMA, via utilização de imagens de satélite do INPE, para verificar onde há de fato uma agricultura familiar forte. Mas deveria ser estudado caso a caso, e não fazer uma legislação que afrouxa tudo genericamente.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: Vivemos uma época com a ocorrência inegável de catástrofes produzidas por eventos da natureza, com destaque para a mais recente tragédia, a da Região Serrana do Rio de Janeiro. Além dos afrouxamentos já citados, reduzir a área de proteção nas matas ciliares e em margens de rio poderá agravar este quadro com grande intensidade? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino:</strong> No caso do Rio de Janeiro, deve-se ver de forma distinta. Houve deslizamentos em áreas de intervenção humana, assim como em áreas sem intervenção. Um ano antes em Angra foi a mesma coisa. Na realidade, a proteção de tais áreas é necessária porque por natureza são áreas instáveis. Sobretudo nos biomas onde chove acentuadamente, como é o caso dessa região do Rio de Janeiro. É bom lembrar que na década de 60 o mesmo fenômeno ocorreu em Caraguatatuba. O desmatamento só agrava, mas vale dizer que mesmo assim essas áreas são instáveis. </div><div style="text-align: justify;">Já a proteção das matas ciliares tem fundamentalmente a ver com a proteção das nascentes. Há estudos em Minas Gerais dando conta de que mais de 3000 nascentes do São Francisco já secaram em função do desmatamento das matas ciliares. Já há estudos no Brasil comprovando que o desmatamento da mata ciliar pode levar ao ressecamento das nascentes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: Quanto à anistia que se pretende dar às infrações ambientais cometidas até 2008, desde que reconhecidos os crimes pelos infratores, não vai abrir um sério precedente para o incremento do desmatamento em estados tradicionalmente agressores da preservação ambiental? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino:</strong> Bom, é claro que devemos classificar esta medida como gravíssima, não há como não usar essa palavra. Mas no Brasil nenhum infrator é multado! E quando o é, o Estado não cobra a multa. </div><div style="text-align: justify;">Por exemplo: os proprietários que não pagaram o Imposto Territorial Rural nunca foram multados, processados. Se lembrarmos do Raul Jungmann, no governo FHC, quando assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a primeira modificação legal que ele fez foi introduzir o imposto territorial progressivo. Ou seja, se o dono não paga o imposto, ele aumenta no ano seguinte, progressivamente, até que um dia a multa supere o próprio valor do imóvel. Mas nunca alguém foi processado.</div><div style="text-align: justify;">O Brasil tem leis boas, o problema sempre foi, infelizmente, o cumprimento, a execução do Estado para que elas se cumpram de fato.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: Mas isso não pode se agravar diante de tamanha liberalização? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>A anistia é um ato declarado disso tudo. Mas, quando o presidente Luiz Inácio fez o decreto que legalizou os transgênicos, também perdoou quem tinha importado e usado ilegalmente sementes transgênicas até então. A história brasileira é de condescendência com as ações ilegais. </div><div style="text-align: justify;">Se eu infrinjo a lei, sou multado e anistiado, posso continuar infringindo a lei. O ponto é que, com ou sem esse novo Código Florestal, aconteça o que acontecer, o desmatamento vai continuar, porque não há fiscalização e não tem governo que faça cumprir as ações contra a infração da lei. </div><div style="text-align: justify;">E nesta questão se inclui ainda o Judiciário. Sabemos que o Judiciário não julga nada ou julga a favor dos grandes. Como exemplo, lembro a Cosan, que foi incluída na lista suja do trabalho escravo. No dia seguinte, um juiz foi lá e deu liminar para que o nome da empresa fosse retirado da lista suja. A justiça brasileira também nunca garantiu o cumprimento e o respeito às leis. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: O que o senhor diria a respeito dos argumentos de cunho nacionalista proferidos por Aldo Rebelo e outros defensores da proposta aprovada? </strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>Quem fez o texto do substitutivo ao Código Florestal apresentado por ele foi uma advogada da CNA, Confederação Nacional da Agricultura, informação conhecida pelo Brasil todo. Em segundo lugar, se formos olhar a lista dos seus doadores de campanha, veremos que constam as principais empresas do agronegócio. </div><div style="text-align: justify;">Portanto, ele é um vendido. Como diria Brizola, "mais um vendilhão da pátria". </div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: O que pensa do assassinato do casal José Claudio e Maria, militantes do campo, às vésperas da votação do novo Código? Podemos esperar por tempos ainda mais violentos no campo, com a aprovação desse Código Florestal? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino:</strong> Sim, podemos. Se olharmos os dados da CPT, a Comissão Pastoral da Terra, de assassinatos no campo no ano passado e também em 2009 verificamos que há aumento no número de crimes. Quer dizer, entre 2009 e 2010 já ocorreu aumento dos assassinatos, após as MPs 422 (<em>regulariza propriedades de até 1500 hectares na Amazônia Legal</em>) e 458 (<em>visa acelerar regularização de tais propriedades, apelidada de "MP da Legalização da Grilagem", por igualar posseiros e grileiros</em>) e o programa Terra Legal (<em>regulariza posses na Amazônia sem garantir fiscalização à propriedade, a fim de comprovar as dimensões declaradas, entre outras irregularidades abrigadas também nas MPs citadas</em>). </div><div style="text-align: justify;">A realidade, portanto, é que já houve conseqüências, e a aprovação desse novo Código, evidentemente, só vai aumentar a violência do campo. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: O que essa vitória da bancada parlamentar dominada pelos empresários do latifúndio representa do atual estado de nossa política parlamentar e institucional? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>Primeiro, devemos lembrar a realidade cruel: a maior parte dos nossos representantes no Congresso é favorável a essa desregulamentação geral de leis que o agronegócio entende como obstáculos restritivos. Mas não é só a bancada ruralista a responsável. O Aldo Rebelo não precisava ter feito o substitutivo. Já foi líder de bancada do governo, presidente da Câmara... Podia ter feito diferente. Aliás, a ação dele nesse episódio e na demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2009, mostra que de comunista ele não tem mais nada. </div><div style="text-align: justify;">A verdade é que a maior parte de nossos parlamentares tem compromisso com o agronegócio. E estão fazendo valer o poder que têm, votando favoravelmente ao agronegócio, inclusive os partidos de esquerda, que entendem que esse estilo de agricultura e o capitalismo devem continuar se expandindo, pois geram empregos, divisas pra balança comercial... A mesma concepção que vem desde o período colonial e que faz do Brasil uma economia primário-exportadora.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: Acredita que a reforma do Código Florestal possa ser barrada, ou minimamente alterada, no Senado? Em um momento em que o governo está refém de uma crise política, novamente protagonizada por Palocci, terá a presidente Dilma condições de reverter os pontos mais lesivos? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino:</strong> Eu acho que não. Acho que o Senado oferece o risco de piorar ainda mais a situação. E se a Dilma for lá e vetar, como já está declarando, o que vai acontecer é que vão derrubar o veto. E do ponto de vista político o estrago será maior. O caso do Palocci só torna o jogo político mais agudo. O governo do Luiz Inácio também foi refém do Congresso durante oito anos. Esse não será diferente. </div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: O que esperar do governo Dilma na área ambiental e no que se refere à política agrária? </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino:</strong> Até o momento, ela não tornou públicos os seus planos. Na área agrária, só conheço o primeiro documento que circulou, do MDA, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que simplesmente abandona de forma definitiva a reforma agrária como política pública no Brasil. Nos outros setores, o único ponto em que há algum esboço é na questão que se refere ao combate à pobreza extrema. </div><div style="text-align: justify;">Aliás, o Brasil não tem miseráveis, mas "pobres extremos". Como se não fosse a mesma coisa. E evidentemente o desejo dela de fazer algo nessa área é maior. Mas também não há plano divulgado. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: Mas sem uma reforma agrária autêntica, esse objetivo também fica dificultado... </strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino: </strong>Porém, quem colocou a questão da reforma agrária na pauta dos governos nos últimos 30 anos foram os movimentos sociais. E eles abandonaram essa bandeira. Se olharmos o abril vermelho deste ano, vamos ver que foi verde e amarelo. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Correio da Cidadania: O que achou do papel da mídia na apresentação da discussão?</strong> </div><div style="text-align: justify;"><strong>Ariovaldo Umbelino:</strong> A mídia brasileira, sobretudo a grande mídia, comercial, sempre foi favorável ao agronegócio, isso quando não tinha – ou tem – interesses diretos no agronegócio. Pra mim, particularmente, não foi novidade alguma. Continuaram fazendo o mesmo também em outros temas, como mostra seu combate feroz aos movimentos sociais. É uma mídia inteiramente comprometida com o agronegócio.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>Gabriel Brito é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania. </strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">In:</span><a href="http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5892:manchete010711&catid=72:imagens-rolantes"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5892:manchete010711&catid=72:imagens-rolantes</span></a><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">, acesso 08/06/2011. </span></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-26632073689602698692011-06-06T13:18:00.000-07:002011-06-06T13:18:13.240-07:00Quarta Declaração da Selva Lacandona<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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Nela morreremos. Porém, a luz será manhã para os demais, para todos aqueles que hoje choram a noite, para quem o dia é negado, para quem a morte é uma dádiva, para a dor e a angústia. Para nós, a alegre rebeldia. Para nós o futuro negado, a dignidade insurrecta. Para nós, nada.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é para fazer-nos escutar, e o mau governo grita soberba e tapa com canhões os seus ouvidos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é contra a fome, e o mau governo oferece balas e papel aos estômagos de nossos filhos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é por uma moradia digna, e o mau governo destrói nossa casa e nossa história.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é pelo saber, e o mau governo reparte ignorância e desprezo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é por terra, e o mau governo oferece cemitérios.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é por trabalho justo e digno, e o mau governo compra e vende corpos e vergonha.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é pela vida, e o mau governo oferece a morte como futuro.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é pelo respeito ao nosso direito de governar e nos governarmos, e o mau governo impõe à maioria a lei da minoria.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é por liberdade para o pensamento e o caminhar, e o mau governo impõe cárceres e túmulos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é por justiça, e o mau governo está cheio de criminosos e assassinos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é pela história, e o mau governo propõe o esquecimento.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é pela Pátria, e o mau governo sonha com a bandeira e a língua estrangeiras.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nossa luta é pela paz, e o mau governo anuncia guerra e destruição.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Moradia, terra, trabalho, pão, saúde, educação, independência, democracia, liberdade, justiça e paz. Estas foram nossas bandeiras na madrugada de 1994. Estas foram as nossas demandas na longa noite dos 500 anos. Estas são hoje nossas exigências.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Nosso sangue e nossas palavras acenderam um pequeno fogo na montanha e o levamos rumo à casa do poder e do dinheiro. Irmãos e irmãs de outras raças e outras línguas, de outra cor e mesmo coração, protegeram a nossa luz e dela acenderam seus respectivos fogos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">O poderoso veio para nos apagar com o seu sopro poderoso, mas nossa luz cresceu em outras luzes. O rico sonha em apagar a primeira luz. É inútil, já existem muitas luzes e todas são primeiras.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">O soberbo quer apagar uma rebeldia que sua ignorância situa no amanhecer de 1994. Porém, a rebeldia que hoje tem rosto moreno e língua verdadeira não nasceu agora. Antes falou com outras línguas e em outras terras. A rebeldia contra a injustiça caminhou em muitas montanhas e muitas histórias. Ela já falou em língua náhuatl, paipai, kiliwa, cúcapa, cochimi, kumiai, yuma, seri, chontal, chimanteco, pame, chichimeca, otomí, mazahua, matlazinca, ocuilteco, zapoteco, solteco, chatino, papabuco, mixteco, cuicateco, triqui, amuzgo, mazateco, chocho, izcateco, huave, tlapaneco, totonaca, tepehua, popoluca, mixe, zoque, huasteco, lacandón, maya, chol, tzeltal, tzotzil, tojolabal, mame, teco, ixil, aguacateco, motocintleco, chicomucelteco, kanjobal, jacalteco, quiché, cakchiquel, ketchi, pima, tepehuán, tarahumara, mayo, yaqui, cahíta, ópata, cora, huichol, purépecha e kikapú. Falou e fala o espanhol. A rebeldia não é coisa de língua, é coisa de dignidade e de seres humanos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Por trabalhar nos matam, por viver nos matam. Não há lugar para nós no mundo do poder. Por lutar nos matarão, mas nós construiremos um mundo onde tenha lugar para todos e todos possam viver sem morte na palavra. Querem nos tirar a terra, para que o nosso passo não possa andar. Querem nos tirar a história, para que a nossa palavra morra no esquecimento. Não nos querem índios. Nos querem mortos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Para os poderosos, o nosso silêncio era uma benção. Calando morríamos, sem palavra não existíamos. Lutamos para falar contra o esquecimento, contra a morte, pela memória e pela vida. Lutamos pelo medo de morrer a morte do esquecimento.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Falando em seu coração índio, a Pátria continua digna e com memória. [...]”</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><strong><span style="color: black; font-family: Arial;">EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERAÇÃO NACIONAL</span></strong></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-8067505176722232052011-06-06T12:51:00.000-07:002011-06-06T12:51:20.186-07:00<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><b>Sobre pão e circo – a educação supérflua?!</b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.45pt;"><b>Wagnervalter Dutra Júnior*</b></div><div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">É interessante observar o custo da política de pão e circo. Tanto no primeiro caso, como no segundo, quem paga a conta? De quem é extraído a ‘mais-valia social’ para re-alimentar um sistema tão contraproducente regido pelo capital? Os custos do espetáculo servem para bancar campanhas eleitorais a despeito dos mais pobres, para em seguida permitir o ciclo do capital. Basta tomar, por exemplo, os sucessivos cortes orçamentários realizados pelo governador do Estado da Bahia no ano de 2009 e 2011. E por que não em 2010? Ano de comprar uma reeleição, e viabilizar algo que se situa bem além do Bolsa Família: o Bolsa Empreiteiro - para montar grandes circos, da Copa à Olimpíada.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Karl Marx no 18 de Brumário assevera: “Hegel observa algures que todos os grandes fatos e personagens da história [...] aparecem, por assim dizer, duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia e a outra como farsa [...] É precisamente nessas épocas de crise revolucionária que esconjuram temerosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem, para, com esse disfarce de velhice venerável e essa linguagem emprestada, representar a nova cena da história universal” (MARX, 2008, 207 – 208). Não poderia haver melhor representação do que se transformou o Partido dos Trabalhadores – ou melhor, Partido do Trabalho Abstrato. Na Bahia o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">carlismo</i> foi reconvertido numa espécie de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">neocarlismo</i>, com grande eficácia para construir e operar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">jogos</i> políticos visando à hegemonia – tal habilidade surpreenderia até mesmo o ‘primeiro cacique’, se estivesse vivo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Na esteira do discurso do corte de gastos públicos, para estancar a crise, que segundo o próprio Lula da Silva era apenas uma marola, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">novo cacique cabeça branca</i> da Bahia atinge em cheio a educação. O decreto n° 12.583/2011, publicado em fevereiro, desfere um duro golpe sobre toda a educação no Estado da Bahia, e demonstra a forma como esse governo trata a educação: para ele o que importa é a educação-empreendedorista-mercadoria-fetiche (de natureza técnico-profissionalizante), expressa pelos programas enquadrados nos ditames do Banco Mundial, a exemplo do PROJOVEM. Uma espécie de adestramento pós-moderno, que transforma/transfere a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">formação e leitura de mundo</i> para o caminho de volta ao parafuso dos tempos modernos de Charles Chaplin. Querem tornar real o que apontava George Orwell no livro 1984? Produzir uma espécie de novilíngua em que não caibam mais as palavras Utopia? Revolução? Socialismo? Arnaquismo? Comunismo?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O caminho é a resistência: as Universidades Estaduais da Bahia deflagraram greve no mês de abril; estudantes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia paralisaram e protestaram contra o ato fascista do governo, antes mesmo que os docentes – negando-se a serem meros apertadores de parafusos!</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há mais surpresas nesse caminho: muitos dos que hoje estão ‘perseguindo’ o movimento docente grevista, tentando criminalizar, marginalizar, eliminar o direito à mobilização e à greve, desrespeitando direitos adquiridos e assegurados por lei, foram os professores que um dia nos ensinaram a importância da crítica à sociedade burguesa: acho que o abismo não apenas olhou para eles – foi mais além do que dissera Nietzsche, o abismo os devorou.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Esses professores optaram pela ‘tirania’, todavia convém recordar Étienne de La Boétie em seu alerta muito útil aos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ex-professores, </i>agora aprendizes de operadores de fundos de pensão:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">“Isso sempre aconteceu porque cinco ou seis obtiveram confiança do tirano e se aproximaram dele por conta própria, ou foram chamados por ele para serem cúmplices de suas crueldades, companheiros de seus prazeres, favorecedores de suas libidinagens e beneficiários de suas rapinas. Esses seis dominam tão bem seu chefe que ele se torna mau para a sociedade, não só com suas próprias maldades, mas também com a deles. Esses seis têm seiscentos à sua disposição, e fazem com esses seiscentos o que os seis fizeram com o tirano. Esses seiscentos têm sob suas ordens seis mil, que elevaram em dignidade. Fazem dar a eles o governo das províncias ou a administração do dinheiro público a fim de tê-los na mão por sua avidez ou crueldade, para que as exerçam oportunamente e façam tanto mal que não possam manter-se senão sob sua sombra nem se isentar das leis e das punições senão graças à sua proteção [...] Do mesmo modo, assim que um rei se declarou tirano, tudo o que é ruim, toda a escória do reino – [...] dos que são possuídos por uma ambição intensa e uma avidez notável – reúne-se ao redor dele e o apóia para participar do butim e se tornar pequenos tiranos sob o grande tirano. [...] É assim que o tirano subjuga os súditos – uns por meios dos outros – e se faz guardar por aqueles contra os quais deveria se precaver, se valessem alguma coisa. [...] Quando penso nas pessoas que bajulam o tirano para explorar sua tirania e a servidão do povo, muitas vezes fico admirado com sua maldade e sinto piedade de sua tolice. Pois, na verdade, o que é aproximar-se do tirano senão afastar-se cada vez mais da liberdade e, por assim dizer, abraçar e apertar com as duas mãos a servidão?” (Discurso da Servidão Voluntária, 2010, p. 62 – 64).</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A educação, mesmo tão precarizada pelo governo do PT, é uma das possibilidades na construção da práxis revolucionária que descortina os ‘tiranos’ e as ‘tiranias’, nos colocando além da servidão voluntária; mas, a opção pelo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">circo</i>, pela sociedade do espetáculo, é o que prevalece.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">E o que restará para os baianos e brasileiros depois do “grande espetáculo de 2014” – a Copa do Mundo de Futebol? Até lá um rastro de especulação, produção de monopólios e rendas diversas, e um caminho amplo para a corrupção e desvio do dinheiro público, conforme reportagem da Revista Caros Amigos (edição n° 166/2011 – Copa e Olimpíadas - o que realmente está em jogo?). Segundo o professor Carlos Vainer, as cidades brasileiras se transformarão num grande negócio, um negócio corrupto e com o aval da presidência da república, financiamento do BNDES, e, como as informações não são transferidas para a população, também com o apoio do povo. Espaços completamente privatizados pelas grandes corporações, tendo em vista que ao redor das áreas dos jogos o consumo em geral só é permitido para os que tem contrato com a FIFA. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>E o que fica depois da saída dos megaeventos, como as Copas e Olimpíadas? Ainda segunda matéria publicada na Caros Amigos: na Grécia depois da Olimpíada de 2004, o recurso destinado para construção da Vila Olímpica, com 2292 unidades, foi desperdiçado, pois o lugar hoje é deserto, não foi destinado para habitação social, entretanto é um prato cheio para especulações futuras. O mundial de futebol do ano passado na África do Sul deixou suas marcas, além do estado de exceção que vigora por exigência da FIFA nos locais dos jogos (que precisam ser ‘étnica e socialmente faxinados’), manifestações foram proibidas no mês da Copa; e trabalhadores que migraram para trabalhar nas obras centrais, hoje sofrem xenofobia. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Optamos pela educação que <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">transcenda a auto-alienação do trabalho.</span> Para poder ficar com a greve, a liberdade, a libertação, a revolução, o socialismo, o comunismo, e nunca abrir mão da Utopia.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><b>*</b> Mestre e Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. Professor do curso de Geografia da UNEB VI – Caetité-BA. Pesquisador do GPECT: Grupo de Pesquisa Estado, Capital, Trabalho e as políticas de reordenamento territorial – CNPQ. Membro do Grupo Crise – UNEB Campus VI.</span></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-84956202117490668132011-06-01T18:45:00.000-07:002011-06-01T18:52:21.871-07:00A VIOLÊNCIA NO PARÁ: OBJETIVOS DA ACUMULAÇÃO AMPLIADA DO CAPITAL NO BRASIL DO SÉCULO XXI<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>MARCELO TORREÃO SÁ<a href="file:///C:/Documents%20and%20Settings/Marcelo/Desktop/A%20VIOL%C3%8ANCIA%20NO%20PAR%C3%81.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference">*</span></a><o:p></o:p></b></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><b><br />
</b></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Na história real, como se sabe, a conquista, a subjugação, o assassínio para roubar, em suma, a violência, desempenham o principal papel (<span lang="PT">MARX, 1988, p. 340).<o:p></o:p></span></b></span></div><div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: right;"><b><br />
</b></div><div class="Corpodetexto21" style="margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 150%;">A morte de trabalhadores rurais no Pará em 2011 é fruto de mais de 500 anos de lutas pela terra no Brasil. A expansão da fronteira agrícola no norte brasileiro faz lembrar as histórias dos confrontos pela terra e os </span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 24px;">contínuos</span><span class="Apple-style-span" style="line-height: 150%;"> assassinatos dos trabalhadores rurais. No </span></span><span class="apple-style-span" style="line-height: 150%;"><span style="color: black;">relatório da Comissão Pastoral da Terra de 2010 (TABELA 01) vemos a dimensão desse conflito em pleno século XXI em terras brasileiras. <o:p></o:p></span></span></b></span></div><div style="mso-element: footnote-list;"><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><div class="MsoNormal"><span style="height: 47px; margin-left: 96px; margin-top: 12px; position: absolute; width: 409px; z-index: 0;"><a href="file:///C:/DOCUME~1/Marcelo/CONFIG~1/Temp/msoclip1/01/clip_image001.gif" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><img border="0" src="file:///C:/DOCUME~1/Marcelo/CONFIG~1/Temp/msoclip1/01/clip_image001.gif" v:shapes="_x0000_s1026" /></b></span></a></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b> </b></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b> Tabela 01 - Total da violência contra a pessoa em 2010 no Brasil<o:p></o:p></b></span></div><div align="center"><table border="1" cellpadding="0" cellspacing="0" style="border-collapse: collapse; border: none; margin-left: -11.9pt; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-top-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; mso-table-layout-alt: fixed;"><tbody>
<tr> <td rowspan="2" style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border-left: none; border-right: none; border-top: solid windowtext .5pt; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 30.45pt;" valign="top" width="41"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><br />
</b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><br />
</b></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Total<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 45.0pt;" valign="top" width="60"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>N.º de<o:p></o:p></b></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Conflitos<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 56.95pt;" valign="top" width="76"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Pessoas<o:p></o:p></b></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Envolvidas<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 54.0pt;" valign="top" width="72"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Assassinatos<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 60.05pt;" valign="top" width="80"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Tentativas de<o:p></o:p></b></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Assassinatos<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 64.0pt;" valign="top" width="85"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Mortos em<o:p></o:p></b></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Conseqüência<o:p></o:p></b></span></div></td> </tr>
<tr> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 45.0pt;" valign="top" width="60"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>1.186<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 56.95pt;" valign="top" width="76"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>559.401<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 54.0pt;" valign="top" width="72"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>34<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 60.05pt;" valign="top" width="80"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>55<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 64.0pt;" valign="top" width="85"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>19<o:p></o:p></b></span></div></td> </tr>
</tbody></table></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b> </b></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b> Continuação <o:p></o:p></b></span></div><div align="center"><table border="1" cellpadding="0" cellspacing="0" style="border-collapse: collapse; border: none; margin-left: -7.3pt; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-border-top-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; mso-table-layout-alt: fixed;"><tbody>
<tr> <td rowspan="2" style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border-left: none; border-right: none; border-top: solid windowtext .5pt; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 30.6pt;" valign="top" width="41"><div class="MsoNormal"><span style="height: 42px; margin-left: -12px; margin-top: 0px; position: absolute; width: 313px; z-index: 1;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><img src="file:///C:/DOCUME~1/Marcelo/CONFIG~1/Temp/msoclip1/01/clip_image002.gif" v:shapes="_x0000_s1027" /> </b></span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b> <o:p></o:p></b></span></div><div class="MsoNormal"><b><br />
</b></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Total</b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 61.2pt;" valign="top" width="82"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Ameaçados de<o:p></o:p></b></span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Morte<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 52.2pt;" valign="top" width="70"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Torturados<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 36.0pt;" valign="top" width="48"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Presos<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-top: solid windowtext .5pt; border: none; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 46.8pt;" valign="top" width="62"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Agredidos<o:p></o:p></b></span></div></td> </tr>
<tr style="height: 3.05pt;"> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; height: 3.05pt; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 61.2pt;" valign="top" width="82"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>125<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; height: 3.05pt; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 52.2pt;" valign="top" width="70"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>4<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; height: 3.05pt; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 36.0pt;" valign="top" width="48"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>88<o:p></o:p></b></span></div></td> <td style="border-bottom: solid windowtext .5pt; border: none; height: 3.05pt; padding: 0cm 3.5pt 0cm 3.5pt; width: 46.8pt;" valign="top" width="62"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>90<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></b></span></div></td> </tr>
</tbody></table></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b> </b></span></span></div><div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"> Fonte: <a href="http://www.cptnacional.org.br/index.php">http://www.cptnacional.org.br/index.php</a></span><o:p></o:p></b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;"><b><br />
</b></div></div><div style="text-align: justify;"><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span class="apple-style-span"><span style="color: black;">O conflito social em terras brasileira é a repetição de forma diferenciada e perversa, pois hoje temos o discurso da igualdade perante a lei, do que aconteceram tempos atrás na Europa e nas diversas terras em que o modo de produção capitalista adentrou para usurpar e estabelecer sua lógica de exploração do capital. </span></span><span lang="PT">A expansão da fronteira agrícola, no norte brasileiro, e as conseqüências dos conflitos entre capital-trabalho, são reflexos da reprodução do sistema capitalista em sua acumulação ampliada nas novas fronteiras geográficas. <o:p></o:p></span></b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span lang="PT"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Sem prescindir do apoio da história, lançamo-nos num rápido olhar sobre o passado, precisamente na Europa do século XVI, para revelar que a acumulação ampliada se desdobra no Brasil contemporâneo como forma de expansão do capital sobre novos espaços de reprodução de sua lógica.<o:p></o:p></b></span></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span lang="PT">Marx escreve, na </span>epígrafe sobre a Europa do século XVI, e relata que a acumulação primitiva ocorreu à base da expropriação, da violência e que tinham objetivos claros de obter “<span class="apple-style-span"><span style="color: black;">[...], uma posição servil da massa do povo, [e] sua transformação em trabalhadores de aluguel e a de seus meios de trabalho em capital”</span></span> (<span lang="PT">MARX, 1996, p. 345). Ou seja, a acumulação primitiva utilizou:<o:p></o:p></span></b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><br />
</b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;"></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span lang="PT">O roubo dos bens da Igreja, a fraudulenta alienação dos domínios do Estado, o furto da propriedade comunal, a transformação usurpadora e executada com terrorismo inescrupuloso da propriedade feudal e clânica em propriedade privada moderna, foram outros tantos métodos idílicos da acumulação primitiva. Eles conquistaram o campo para a agricultura capitalista, incorporaram a base fundiária ao capital e criaram para a indústria urbana a oferta necessária de um proletariado livre como os pássaros.</span> (<span lang="PT">MARX, 1996, p. 355)</span></b></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><br />
</b></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>As consequências foram:</b></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><br />
</b></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><span lang="PT"><o:p></o:p></span>Os expulsos pela dissolução dos séquitos feudais e pela intermitente e violenta expropriação da base fundiária, esse proletariado livre como os pássaros não podia ser absorvido pela manufatura nascente com a mesma velocidade com que foi posto no mundo. Por outro lado, os que foram bruscamente arrancados de seu modo costumeiro de vida não conseguiam enquadrar-se de maneira igualmente súbita na disciplina da nova condição. Eles se converteram em massas de esmoleiros, assaltantes, vagabundos, em parte por predisposição e na maioria dos casos por força das circunstâncias. (MARX, 1996, p. 356).</b></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><br />
</b></span></div></div><div style="text-align: justify;"><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>A acumulação primitiva se realizou, principalmente, a partir da expropriação da terra e dos meios de produção na Europa e se repetiu com maior intensidade e voracidade, no processo de colonização que os europeus impetram ao resto do mundo. Essa ação permitiu a acumulação de capital nas mãos da nascente burguesia européia e sua efetiva expansão marítima. Ou seja, a acumulação primitiva foi o principio para a expansão marítima Européia.<o:p></o:p></b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Portugal conseguiu estender seus domínios por diferentes partes do globo terrestre. Essa ação portuguesa, obrigou as outras nações européias, principalmente à Espanha, a empreender à corrida global por espaços geográficos e conquistar através da violência, extermínio e escravidão pontos estratégicos com o intuito de pilhar, comercializar e colonizar. Em outras palavras: a geopolítica do capitalismo nascente foi fundada no sangue e no fogo através da conquista, da violência, da escravidão mercantil e do extermínio em massa dos povos subjugados, tendo como objetivo último o imperialismo. </b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Foi desse emaranhado de articulações espaciais e perversidades sistêmicas que se forjaram novos espaços dentro da economia-mundo. Nessa questão, o Brasil foi conquistado pelos mercantilistas portugueses e seus habitantes, primeiramente, em um processo de aldeamento e depois de caça, extermínio e escravização, serviram ao propósito da demografia.</b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>O confronto pela terra surge com a colonização e a divisão de terras no Brasil colônia. As famigeradas Capitanias Hereditárias que dividiu o Brasil em imensos latifúndios com poucas famílias proprietárias. Era o capital na acumulação primitiva brasileira expropriando do trabalhador a possibilidade de serem donos dos meios de produção, a terra. Como a maioria não aceitava o trabalho assalariado, muitas terras e pouca demografia, a escravidão foi à saída. Karl Marx (1996 p. 386) já relatava esse fato: “o instinto de auto-expropriação da humanidade trabalhadora em honra do capital existe tão pouco que a escravidão [...] é o único fundamento naturalmente desenvolvido da riqueza colonial”.</b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>De início essa escravidão se deu na caça aos índios. Posteriormente, a escravidão no Brasil colônia se intensifica, com os negros expatriados da África, pela crescente necessidade de trabalhadores nas lavouras de exportação. Novack (2008. p.86) relata que a saída dos europeus para o problema da força de trabalho nas colônias saiu da combinação da produção capitalista com relações de produção não-capitalistas: “Esse modo de produção foi exportado [...] [ao] Novo Mundo como a forma mais lucrativa e viável de mão-de-obra para cultivar produtos de consumo como açúcar, tabaco [...], e para extrair metais preciosos”. E completa afirmando que: “Desde suas origens, foi uma escravidão mercantilizada e aburguesada. O tráfico de escravos foi em si mesmo uma das formas principais de empreendimento comercial” (NOVACK, 2008. p.87).</b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>Vários confrontos ocorreram devido aos embates entre os escravos, que formaram os quilombos – expressão máxima da resistência dos negros contra o processo de escravização –, e os escravocratas. Com a libertação, os escravos, foram jogados como ‘pássaros livres’, a sua própria sorte, e impulsionaram, conjuntamente com outros trabalhadores, os confrontos sociais pela posse da terra. Vários confrontos pela posse da terra aconteceram no Brasil, nesse tempo. Os trabalhadores em sua maior parte perderam, fugiram ou foram exterminados. Incentivados pelos discursos de melhoria e paz incharam as cidades tornando-se, em sua maioria, nos vagabundos, traficantes, assaltantes, desempregados, subempregados das imensas periferias. </b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>No caso do Pará nada é novo e nada irá mudar. O Estado burguês não quer resolver e não vai resolver esses confrontos. Vamos ouvir discursos como ouvimos a décadas. Infelizmente nada de concreto vai ser feito, pois desnudaria a própria lógica do capital que é concentrar renda e desapropriar o trabalhador da possibilidade de ser proprietário dos meios de produção. O Estado burguês, ao contrario, objetiva o confronto social para justificar a sua própria existência. </b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b>O confronto social foi estabelecido, entre os que têm e os que não têm, nos espaços urbanos e rurais com milhares de presos, assassinatos, movimentos de resistência e luta. Uma guerra social que não terá nuca fim – nem com UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), educação ou qualquer outra forma de reformar o irreformável sistema da desigualdade capitalista. O sistema do confronto social e da luta entre capital-trabalho.</b></span></div><div class="Corpodetexto21" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; mso-hyphenate: auto; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 35.45pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><br />
</b></span></div></div><div style="text-align: justify;"></div></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><b><a href="file:///C:/Documents%20and%20Settings/Marcelo/Desktop/A%20VIOL%C3%8ANCIA%20NO%20PAR%C3%81.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference">*</span></a>Mestre em Educação e Contemporaneidade/UNEB. Graduado em Geografia e Pedagogia. Professor da UNEB/<i>Campus</i> Serrinha e da UESB/<i>Campus</i> Conquista. E-mail: <a href="mailto:martorreao@gmail.com">martorreao@gmail.com</a> </b></span>Marcelo Torreãohttp://www.blogger.com/profile/06539600201579583277noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-58860539023728126452011-05-20T06:56:00.000-07:002011-05-20T06:57:50.441-07:00Cartaz VI Fórum e I Encontro Nacional Estado, Capital, Trabalho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFZ2CuG21lGAp62S48xh7nENoCYc2YvsDoBHJ7UhYtlTt8UEmEUwckeckPyQaukAxtfekTWpj7rJ9k917z8B-PIpYaD7wXIJOP22OZFirCzmuZI4-G-L-z8DjhhJXB38u8C4YEemn-lZf4/s1600/Cartaz+final+%2528f%25C3%25B3rum%2529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFZ2CuG21lGAp62S48xh7nENoCYc2YvsDoBHJ7UhYtlTt8UEmEUwckeckPyQaukAxtfekTWpj7rJ9k917z8B-PIpYaD7wXIJOP22OZFirCzmuZI4-G-L-z8DjhhJXB38u8C4YEemn-lZf4/s640/Cartaz+final+%2528f%25C3%25B3rum%2529.JPG" width="455" /></a></div>Wagnervalterhttp://www.blogger.com/profile/02484132741088616253noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8109233533819749810.post-52325047043125798132011-05-18T12:50:00.000-07:002011-05-19T12:48:06.519-07:00Sobre a greve docente e discente das UEBA´s<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b></b></span><br />
<div align="right" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Profº Ms. Marcelo Torreão Sá</span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b> <u1:p></u1:p> </b></span><br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Caros colegas,<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Questionar a greve é um ato revolucionário. A greve que hora está posta é patronal. Beneficia o governo fascista dos PTs (os "Porras Tontas"). Sei que tem muitos companheiros engajados, que querem melhoria para as Universidades Estaduais da Bahia (UEBA) e que estão no movimento por que acreditam. Mas venho, por meio deste texto, chamar os companheiros para uma nova forma de greve. A guerrilha de trincheira.</span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">A primeira pergunta que nos inquieta nessa greve é responder a questão: Qual é a pressão política econômica que o Governador Wagner sofre em uma greve que não atravanca o capital em seu processo de reprodução?</span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Deve-se entender, primeiramente, que vivemos em um sistema dividido entre classes em conflitos. O que faz o Estado burguês negociar com os trabalhadores é a paralisação da circulação do capital. Correto? Sendo assim, qual é nossa pressão política econômica que nós docentes exercemos no governo? Quase nenhuma, em curto prazo, em localidades esquecidas pelo desenvolvimento capitalista do interior baiano devido ao baixo quantitativo de professores (que em sua grande maioria não mora nas cidades), alunos e funcionários; quase insignificante em cidades em que a universidade não modifica sobremaneira a política econômica local, devido à própria potência do desenvolvimento capitalista. Por outro lado, e contraditoriamente, devemos pontuar que a universidade pública proporciona, sim, desenvolvimento capitalista em diferentes formas de quantidades, qualidades e modalidades se não, não existiria a necessidade de universidades no sistema capitalista.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Além de ser um aparelho ideológico da burguesia a universidade pública proporciona duas frentes no processo de desenvolvimento capitalista de uma cidade. Sendo diferente na forma, no conteúdo, no tempo e no espaço. Temos a modalidade de investimento, se assim podemos dividir, de curto prazo e de longo prazo.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Em curto prazo a universidade pública proporciona:<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">1. <span class="apple-converted-space"> </span>o consumo de bens e serviços dos estudantes, professores, funcionários e, também, nos serviços e bens necessários à manutenção das instalações do<span class="apple-converted-space"> </span><i>Campus</i><span class="apple-converted-space"> </span>universitário. Ou seja, a benfeitoria para o capital, em curto prazo, proporcionado pela universidade pública, em uma dada região, dependendo das variáveis postas na pesquisa, é centrada principalmente na atração demográfica: professores, funcionários e alunos. Sendo que os dois primeiros são remunerados pelo estado e o terceiro, poucos, recebem ajuda de permanência. Em algumas localidades da UNEB, por exemplo, de um total de 58 professores do quadro apenas 6 moram na cidade. Isso reduz ainda mais o impacto de uma paralisação docente para a cidade, haja vista que essa categoria é a mais bem remunerada.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Em longo prazo a benfeitoria para o capital está voltada, principalmente, para as seguintes variáveis:<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">1. <span class="apple-converted-space"> </span>formação dos trabalhadores para o sistema de trabalho em quantidade e qualidade que ocasiona, com isso, a baixa dos salários por superacumulação da força de trabalho em determinada área;<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">2. <span class="apple-converted-space"> </span>novas formas de ciência e tecnologia, proporcionando mais valia relativa para o capitalista;<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">3. <span class="apple-converted-space"> </span>valorização da renda da terra urbana nas proximidades do<span class="apple-converted-space"> </span><i>Campus</i><span class="apple-converted-space"> </span>universitário.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Então devemos entender que a universidade, como reprodutora da lógica capitalista é importante para a concorrência intraurbana no capitalismo em longo prazo, principalmente. Em curto prazo, devido às lógicas particulares de cada<span class="apple-converted-space"> </span><i>Campus</i><span class="apple-converted-space"> </span>pode variar em intensidades. No entanto, esse impacto não abala as estruturas das cidades. Se abalasse já haveria reclamações e pressões da burguesia local e da sociedade como um todo. O que vemos nesses 40 dias de greve é a vida continuar em sua ‘santa’ normalidade, apenas com<span class="apple-converted-space"> </span><i>ventos esporádicos</i>, em diferentes cidades com diferentes estágios no desenvolvimento capitalista, como: Jequié, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Serrinha, Salvador. </span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Devemos entender que nossa paralisação é quase despercebida pela sociedade local. A vida continua e a greve se desfaz. Quem lucra é o Estado diminuído o custeio de água, luz, material de limpeza, gasolina, telefone, manutenção. Fora o seqüestro do salário dos professores. Vamos pensar bem: quanto o governo não estará lucrando com a retenção dos salários? E com a diminuição do custeio? É o caixa dois, companheiros, é economia de campanha.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Então vem a segunda pergunta. Por que fazer uma greve pós eleição para governador e presidente?<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Acho que essa é a grande pergunta que só poderia ser respondida se houvesse traição no governo fascista do PT baiano. Sabemos, no entanto, que na política econômica do capitalismo que a volumosa voz vem da grande mídia. E que a memória do brasileiro é curta e rapidamente transformada pela mídia imperialista por copas e circos de ocasiões. Então para que serve uma greve pós eleição? </span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Se essa greve não terá repercussão na próxima eleição, como a história nos indica, nossa única arma de força, a pressão eleitoreira, vai se esvair com o tempo. E os asseclas que ora falam misérias contra o governo fascista do PT estarão panfletando com seus emblemas fascistas dentro da universidade pública, pois lá é o curral eleitoral deles.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Será que essa greve não teria o objetivo espúrio e doentio de tampar o rombo nos cofres públicos da Bahia? Lembramos que a Bahia, no ano passado - ano de eleição - era o único Estado com poder econômico, do partido dos mensaleiros. <u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Porque deflagramos greve só nesse ano, pós eleitoral? Por que? Ora porque, grande parte dos nossos, falo de todas as UEBA, sindicatos são compostos por aliados, ex-aliados, simpatizantes ou em sua maioria de gente que votou e vota no PT. </span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Vamos propor uma greve de guerrilha. Por que não instituir uma greve "branca"? Pára, volta, pára volta. Ou outras modalidades em que não se interrompa a aula por completo e, com isso, o movimento não seja desaparelhado por brigas internas e dispersão do contingente de alunos e professores com o passar dos dias? Por que não parar as BR's e BA's com as aulas em curso? Podemos utilizar os próprios aparelhos da universidade pública (ônibus, carros) para interromper o trafego. Vamos sabotar, emperrar, o capital em sua reprodução. É a única forma de sermos ouvidos e atendido em nossas reivindicações.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Porque continuar com a greve se é o que o governador quer? Ou não é esse o objetivo do governo em forçar uma greve docente. Diminuir custeio e reter salário. Forçar sim. Se percebermos bem, a clausura da mordaça foi imposta pós eleição. E o Decreto<span class="apple-converted-space"> </span>12.583<span class="apple-converted-space"> </span>no inicio do ano de 2011. Por que, o resto das reivindicações vem de tempos atrás. A luta por:</span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><ol start="1" type="1"><li class="MsoNormal" style="color: black; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b>revogação da Lei 7176/96;<u1:p></u1:p><o:p></o:p></b></span></li>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b>
<li class="MsoNormal" style="color: black; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;">política econômica de permanência estudantil nos cursos.<u1:p></u1:p><o:p></o:p></li>
<li class="MsoNormal" style="color: black; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;">progressão na carreira docente;<u1:p></u1:p><o:p></o:p></li>
<li class="MsoNormal" style="color: black; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;">concursos para docentes;<u1:p></u1:p><o:p></o:p></li>
<li class="MsoNormal" style="color: black; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;">contra a ingerência nas UEBA por parte do governo;<u1:p></u1:p><o:p></o:p></li>
<li class="MsoNormal" style="color: black; mso-list: l0 level1 lfo1; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; tab-stops: list 36.0pt; text-align: justify;">contra a contenção de gastos em equipamentos, livros, infraestrutura, etc;<u1:p></u1:p><o:p></o:p></li>
</b></span></ol><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Nunca, nenhuma dessas reivindicações foram atendidas em sua plenitude. A melhoria das condições de ensino, pesquisa e extensão dentro das UEBA sempre foram maquiadas, enganadas e utilizada, isso sim, como ganho econômico político aos dirigentes das UEBA para se canditarem a cargos eletivos ou indicativos; as elites locais; e aos governos burgueses seja ele de direita ou esquerda, azul ou vermelho. Na verdade os dois são cinzas, a cor da burguesia, a cor de nossas cidades.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black;">Entendemos, por fim, que a greve é: justa, ineficaz, fora do tempo e, porque não, coordenada por simpatizantes desse partido fascista que assaltou e assalta os cofres públicos enriquecendo seus simpatizantes e asseclas de plantão.<u1:p></u1:p></span><span style="color: black;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><br />
</b></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><b><span style="color: black; font-family: 'Times New Roman';"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><b><span style="color: black; font-family: 'Times New Roman';">Por uma outra greve. Por uma outra mobilização. Fora a greve patronal.<span class="apple-converted-space"> </span>Por uma greve de guerrilha, uma guerra de sabotagem contra o Estado Burgues.</span></b></span></div></span></b></span></div><o:p></o:p>Marcelo Torreãohttp://www.blogger.com/profile/06539600201579583277noreply@blogger.com2