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Élysée Reclus

terça-feira, 9 de setembro de 2025

O que se apresenta para o campo brasileiro?1

Wagnervalter Dutra Junior

UNEB/PPGELS

GPECT/GEMARX 

           

Introdução: terra, trabalho e natureza como valores de troca

A pergunta de partida nos remete a buscar um caminho projetivo (teleológico – o que nos difere, como piores arquitetos, das melhores abelhas, no dizer de Marx), almejando ponderar algumas questões que se apresentam para o campo (terra – natureza), enquanto materialidade, enquanto substrato do nosso corpo inorgânico, a base sob a qual, ao lado do trabalho, edificamos toda a concreticidade material da sociedade e toda a riqueza que nos circunda. Cabe lembrar, de início, que essa riqueza nos é subvertida duplamente: 1) como braços, nervos, músculos e cérebro, não participamos do todo da riqueza que nós mesmos produzimos2; 2) e, para ser jogado nessa condição de não partícipe justo da partilha/divisão da riqueza, o capital nos expulsou, e expulsa, das nossas terras (terras de trabalho) e da posse dos meios para trabalhá-la. O campo brasileiro e a questão da terra (a questão agrária) não podem ser entendidos, de uma maneira geral, sem essa chave explicativa de partida, pelo próprio papel central que a terra tem no sociometabolismo do capital. Dominar a terra é, também, dominar o trabalho que sobre ela toma corpo. Resta saber, como propõe o debate, de quais maneiras essa terra é dominada contemporaneamente.

            Esse processo durou mais de uma centena de anos, também foi violento em sua constituição, na medida em que operou a expulsão de uma grande massa de camponeses das terras que antes significavam seu alimento; após tal processo o camponês vaga por essas mesmas terras em situação de miserabilidade, pobreza e mendicância; deslocados da utilidade histórica que lhes deu o feudalismo, o mundo nascente preferia o sabor dos famélicos da terra, pois essa fome era justamente o que passou a escravizá-lo por 16 a 18 horas de trabalho diário; e quanto mais famintos, mais fácil encontrar quem se submeta a essas condições e quem, do lado de fora da fábrica, com fome, espera a sua vez de vender-se a essas mesmas 16 – 18 horas. Agora significa que outro “Chronos” nos devora. Nos transformamos em carcaça do tempo. E o que isso também significa?

 

A concorrência, segundo um economista norte-americano, determina quantas jornadas de trabalho simples estão contidas numa jornada de trabalho complexo. Essa redução de jornadas de trabalho complexo a jornadas de trabalho simples não supõe que se tome o trabalho simples como medida do valor? Por outro lado, tomar apenas a quantidade de trabalho como medida de valor, sem levar em conta a qualidade, supõe que o trabalho simples se tornou o fulcro da indústria. Supõe que os trabalhos se igualaram pela subordinação do homem à máquina ou pela divisão extrema do trabalho; supõe que os homens se apagam diante do trabalho; supõe que o movimento do pêndulo tornou -se a exata medida da atividade relativa de dois operários, como é do mesmo modo da velocidade de duas locomotivas. Então, não há por que dizer que uma hora de um homem equivale a uma hora de outro homem; deve -se dizer, ao contrário, que um homem de uma hora vale tanto quanto outro homem de uma hora. O tempo é tudo, o homem não é mais nada; quando muito, ele é a carcaça do tempo. Não se trata mais da qualidade. A quantidade decide tudo: hora por hora, jornada por jornada. Mas essa equalização do trabalho não é obra da justiça eterna do sr. Proudhon; ela é, simplesmente, a maneira de ser da indústria moderna (Marx, 2017, p. 72).

 

            O mundo moderno impôs a tudo que se faz o parâmetro de um tempo que deve significar retorno em dinheiro (lucros, juro e renda – o salário é a parte que fica fora desse retorno), como o ser humano de uma hora que vale tanto quanto outro ser humano de uma hora; ao invés de uma hora do ser humano poder significar uma hora do outro, pois aqui, simplesmente, o qualitativo se perde, pela perda da necessidade qualitativa na produção de mercadorias, agora significando a orquestra do cálculo lucrativo e do quantum da riqueza mercantil do mundo como uma imensa coleção – acúmulo – de mercadorias, para recordar a frase com a qual Marx (2013) abre o primeiro livro do Capital, cujo primeiro capítulo busca esmiuçar a natureza da unidade central dessa sociedade, que é a mercadoria. No âmbito do trabalho abstrato, uma hora de um ser humano não é a mesma coisa do ser humano de uma hora, pois o primeiro pressupõe qualidade, e o segundo, quantidade, e essa última é o que meramente importa no reino das mercadorias (valor de uso – esse qualitativo – perdeu centralidade).

            Os expulsos do paraíso o foram pela “expropriação violenta e intermitente de suas terras” conforme aponta Marx (2013); esses vagantes livres e móveis, expulsos violentamente para a liberdade, de se vender, não foram absorvidos pela expansão capitalista com a mesma “velocidade em que foram trazidos ao mundo” (2013). Foram “convertidos massivamente em vagabundos, mendigos, assaltantes, em parte por predisposição, mas na maioria dos casos por força da circunstância” (2013); a resposta a essa situação foi a proliferação na Europa em fins do século XV e ao longo do século XVI – à época o Brasil já se integrava ao desenho acumulativo originário – de uma legislação sanguinária contra a vagabundagem. Nesse momento tudo então já se colocava como mercadoria, seja em potência, seja em ato. A própria terra e também os frutos da terra (que são frutos do trabalho) são mercadorias, e à tais leis estão submetidos.

O alimento então deixa de ser o veículo que mata a fome, e passa a ser objeto de lucro, e essa fratura (metabólica) é de tal maneira que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Segurança Alimentar (IBGE, 2023), apontou que 12,7% dos domicílios do campo enfrentavam insegurança alimentar moderada ou grave, nas cidades a cifra cai para 8,9%. No lugar em que o alimento ‘nasce’ as pessoas tem menos acesso a ele, justo por perder a sua condição de uso – alimento –, apreendido como um veículo para fazer lucrar.

 

Terra, alimento - e fome - financeirizadas: ponderações gerais

A terra e o alimento tomados como mercadorias leva a exacerbação desse tipo de contradição que o capital impõe ao trabalho. Esses alimentos também se transformam em comodity (passam a serem negociados na Bolsa de Valores de Chicago). O campo brasileiro, além de estar às voltas com todos os problemas ligados ao avanço do agronegócio e do monocultivo (sobremodo de cana, milho e soja), inseriu nessa equação, desde a década de 1970-1980, a financeirização dos frutos da terra e, à posteriori, desta, que se tornou ativo de mercado (como a fome). Cabe questionar por qual razão a fome é ainda persistente num mundo que desenvolveu tecnologia para produzir o suficiente para eliminá-la?

Ainda é preciso ponderar que durante o governo do ex-presidente, que atualmente está sendo julgado por tentativa de Golpe de Estado, todo um aparato para quebrar limites para que o capital acesse a terra e, tanto especule quanto explore o trabalhador, foi montado. Quem se esqueceu da frase: “vamos passar a boiada”, numa nítida alusão à necessidade de limitar o alcance da legislação ambiental, quanto às novas possibilidades que tais mudanças abrem ao campo da exploração mercantil capitalista.

Quem se esqueceu dos mais de 400 tipos de agrotóxicos liberados durante o governo do fascista Bolsonaro?3 E quem aqui sabe que essa mesma sanha por aprovação de agrotóxicos não apenas seguiu no governo Lula, como bateu novo recorde? O veneno agora não deve estar só sobre a mesa. Inclusive, segundo reportagem publicada no site da CNN4, o Brasil bateu recorde na liberação de agrotóxicos e “defensivos biológicos” (ofensivos?) em 2024, que segundo o próprio Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) atingiu a cifra de 663 produtos aprovados, aumentando em 19% quando se leva em conta 2023, que teve 555 registros aprovados5. O governo atual não apenas bateu mais esse vergonhoso recorde, como foi responsável por levar adiante a chamada Lei dos Agrotóxicos (14.785/2023), que na prática impõe menor tempo para aprovação desse tipo de substância: “o processo de registro de produtos novos deverá ser concluído em até 24 meses. Agrotóxicos com fórmulas idênticas a outros já aprovados terão prazo reduzido de 60 dias” (acelera-se o envenenamento das terras, águas, pastos, plantações).

 

(...) a área total tratada com agrotóxicos no país cresceu 12,2% em relação a 2023, somando 2,5 bilhões de hectares. O volume de produtos aplicados subiu 13,6%, enquanto os valores pagos pelos produtores somaram R$ 113,4 bilhões (cerca de US$ 19,9 bilhões), uma queda de 6,6% no comparativo anual [...] Se olharmos mais para trás, o cenário mostra uma escalada impressionante. Entre 2003 e 2021, o Brasil aumentou em 392% o consumo de agrotóxicos, passando de 183 mil toneladas para 720 mil toneladas por ano. Isso colocou o país no topo do ranking mundial de uso desses produtos, ultrapassando os Estados Unidos, que consumiram 457 mil toneladas em 2021. (PensarAgro apud Freires, 2025.)

 

Esse é o desolador cenário de uma terra que é envenenada para fazer lucrar o capital mundializado-financeirizado, em detrimento da saúde de milhares de camponeses diretamente, e milhões de brasileiros que consomem em média de 5 a 7 litros per capita por ano. Na década de 80, em função da legislação vigente, a liberação de uma nova molécula durava entre 10 e 15 anos6. Para atender o tempo de giro do cálculo lucrativo do capital, ainda que a produção destrutiva seja sua forma contemporânea de externar a objetividade mercantil, a cada dois anos, libera-se novos venenos para que as ações das empresas que o produzem sigam valorizando-se, ainda que o câncer – aparelho digestivo – tenha aumentado (projeta-se a continuidade do aumento, algo em torno de 21% entre 2030 e 2040, segundo estimativa publicada pela Agência Brasil).

A potência dessa destruição destinada a fazer dinheiro também amplificou as dificuldades dos camponeses em suas comunidades em geral (na terra do comum, nos quilombos, nos fundos e fecho de pasto), bem como quilombolas, indígenas, ribeirinhos, que foram agraciados com a PL da devastação, já aprovada no Congresso (apesar dos mais de 60 vetos de Lula); na prática dá aval para o desmatamento, poluição e flexibiliza o licenciamento ambiental (ampliando a conversão da destruição da terra em lucro). O site da WWF7 alerta que “entre os absurdos do texto, destaca-se o autolicenciamento, que permite que os próprios empreendedores atestem os impactos ambientais de suas atividades, sem a devida análise técnica por órgãos competentes”.

Soma-se a todo esse processo a histórica e persistente concentração fundiária (bem como a estrangeirização da terra) no cenário do campo, e as coisas se complicam ainda mais. Dados do censo agropecuário do IBGE dão mostras dessa estrutura desigual e combinada, representada pelo latifúndio e pelo monocultivo no país.

 

Tabela: Censo agropecuário 2006 e 2017

Censo Agro 2006      

Total, agricultura familiar

Estabelecimentos 

Área total (ha) 

Pessoal ocupado 

Total

  5 175 636

100,0%

333 680 037

100,0%

16 568 205

100,0%

NORMAS VIGENTES EM 2017

      

Agricultura não familiar

   870 531

16,8%

252 411 258

75,6%

 4 286 660

25,9%

Agricultura familiar-LEI-11326 -2017

  4 305 105

83,2%

  81 268 779

24,4%

 12 281 545

74,1%

       

Censo Agro 2017      

Total, agricultura familiar

Estabelecimentos 

Área (ha) 

Pessoal ocupado 

Total

  5 073 324

100,0%

351 289 816

100,0%

 15 105 125

100,0%

NORMAS VIGENTES EM 2017

      

Não é agricultura familiar

  1 175 916

23,2%

270 398 732

77,0%

4 989 566

33,0%

Agricultura familiar

  3 897 408

76,8%

80 891 084

23,0%

10 115 559

67,0%

       

Censo Agro: Variações de 2006 a 2017     

Total, agricultura familiar

Estabelecimentos 

Área (ha) 

Pessoal ocupado 

Total

-102 312

-2,0%

  17 609 779

5,3%

-1 463 080

             -8,8%

Não é agricultura familiar

   305 385

35,1%

  17 987 474

7,1%

   702 906

16,4%

Agricultura familiar

-407 697

-9,5%

-377 695

-0,5%

-2 165 986

-17,6%

Fonte: IBGE apud Freires, 2025.

           

Os números traduzem essa escalada que nos indica que de 2006 para 2017 a agricultura familiar camponesa diminuiu o número de estabelecimentos que representava em 9,5%, bem como a área ocupada em 0,5%; enquanto a agricultura não familiar (empresarial, ou integrada ao mercado de forma mais direta) experimentou um crescimento de 35,1% de estabelecimento e 7,1% da área. Esse quadro marca bem as contradições do campo brasileiro, que o professor Ariovaldo Umbelino de Oliveria demonstrou em suas pesquisas; cresce a grande propriedade e o campesinato resiste. Mas a que custo? Envenenamento, precarização do trabalho, trabalhos paralelos ao trabalho na terra (diária, meia, clt, etc.), falta de apoio e infraestrutura; enquanto o agronegócio segue amplamente financiado pelo Estado – o plano safra 2025/2026 destina 516 bilhões para o agronegócio, e algo em torno de 89 bilhões para a agricultura familiar camponesa.

Quanto aos conflitos no campo (CPT), referindo-se à condução da questão agrária, por parte dos diferentes governos comparados e representados nos diferentes períodos cronológicos de comparação (2016-2022 – 2023-2024), a tônica da manutenção dos conflitos segue, inclusive ancorada no fenômeno de terras fictícias, que tem a ver com o processo de produção financeirizada dos comodities, que requer a garantia da expansão da terra, como garantia da expansão da produção (ainda que fictícia, como a terra), para garantir o valor das ações das empresas envolvidas nessas cadeias do mercado de ações, tudo isso fez surgir imobiliárias rurais e a terra inflacionou como ativo financeiro mais do que o dólar, a Bovespa ou o ouro, com a primeira se valorizando em 220% num período de 10 anos, seguidas, respectivamente, pela valorização dos demais – em período igual –,  nos seguintes percentuais: 52,70%, 38,10% e 164% (Monerato, 2022). O ouro, que vem da terra, foi quem chegou mais perto (Dutra Jr., 2025).

Também nos leva a refletir, dado que os conflitos por terra – e trabalho –, não deram mostras de recuo, com exceção dos números de assassinatos que no período do golpe até o fim do ciclo de Bolsonaro no executivo, foram bem mais expressivos do que no governo Lula (43,6 para 13) (período geral considerado: 2016-2022 – 2023-2024); nas formas com as quais a economia e a geografia políticas nos diferentes governos efetivam-se. No primeiro, o excedente de população relativa era compreendida como algo a ser exterminado, uma resposta mais drástica às crises de excedente do capital (que são quase sempre tendencialmente drásticas – e sob o primado do cálculo econômico-lucrativo a forma mais “eficiente”); já no segundo, a população excedente relativa como crise resolve-se, em parte, no Estado (como política pública ou como uma população carcerária que cresce ano após ano) (Dutra Jr., 2025).

A terra segue sendo objeto de monopolização e de territorialização direta do capital, como ensinou o Professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira (USP). O segundo caso (territorialização) remete à instalação direta de capital fixo, infraestrutura, instalações e tecnologia na terra, o capital conforma uma estrutura direta de exploração da terra – e do trabalho – à maneira do agronegócio nas inúmeras regiões (e no nosso caso, mais fortemente no oeste baiano). No primeiro caso – monopolização do território – o capital desenvolve inúmeros mecanismos para controlar indiretamente o que se produz na terra, e o faz seja pelo controle da distribuição e circulação de mercadorias, e consegue a partir disso expropriar a renda da terra advinda do produto do trabalho do camponês, este último fica com a menor parte do preço final do que veio à luz pelo suor de seu rosto.

O poder da distribuição pode ser compreendido pelo papel da Grande Distribuição Moderna (La ditadura de los supermercados, Castro, 2017), e sua força em captar parte significativa do valor global produzido – e isso se impõe também às cidades menores (qual o impacto de uma rede como Assaí na feira livre de uma cidade como Guanambi/BA ou Caetité/BA? Isso já foi medido? É um problema para o campo?), conforme aponta Castro:

 

Cuando decimos que la manufactura de unas zapatillas Nike o de una camiseta Zara supone menos del 1% del valor que pagamos en caja, mientras que la distribución y el marketing suponen el 50% o más de ese valor, de lo que estamos hablando es de cómo se apropia el valor en las diferentes fases de la cadena global. Pero ese reparto del valor, por decirlo así, no es gratuito ni responde a las pretendidamente universales leyes de la oferta y la demanda. La captación del valor en las cadenas de valor globales[14] es, ante todo, una expresión de las relaciones de poder en la fase actual del capitalismo de la globalización que nos ha tocado vivir. Normalmente, se nos habla de este asunto fragmentariamente, atendiendo a la preponderancia de la logística en los tiempos del capitalismo de la acumulación flexible, o de la globalización que se expande y terceriza. Pero normalmente se ocultan las relaciones de poder y las mutaciones del capitalismo a lo largo de la historia que han permitido que se acumule más valor en unas fases de la cadena que en otras (2017, 25 – 26).

 

            A maneira da articulação do capital nas cadeias de valor global estão cada vez mais concentradas em todos os ramos, em função do poder estruturado pelas grandes redes de captura do valor na distribuição8 (grandes superfícies de comércio), que Castro (2017) sinaliza muito bem as mudanças de estratégias para captação de novos espaços e nichos de mercado, a questão é que a concepção da relação tem implicações práticas para o comércio local e a reprodução do camponês, por mais distância aparente que pode guardar.

 

En otras palabras: en la nueva fase del capitalismo de la globalización, las fases en las que se acumula la ganancia son las fases de diseño, al comienzo de la cadena, y de distribución y comercialización, al final de esa cadena; en el centro, la fase productiva pierde relevancia. Por eso las grandes empresas multinacionales optan por tercerizar la producción y se dedican a acumular valor en las fases de diseño y distribución. Este orden de cosas permite que el sector distribución sea cada vez más relevante en la economía global y que, como veíamos antes, el distribuidor se lleve el 50% del valor que pagamos en caja por una camiseta, mientras que los costes de producción no llegan al 1% (Castro, 2017, p. 28).

 

Essa forma mais violenta e sistemática de ampliar o alcance da monopolização do território (terra) pelo capital – capturando-o na distribuição – se dá no desenvolvimento do que convencionou-se chamar de busca global por terras (corrida mundial por terras – Banco Mundial em 2008), que implicou, após a crise do capital na década de 1970, passando pela imposição das políticas neoliberais (que ampliou a capacidade de produzir capital fictício, pois diminui as barreiras e flexibilizou o desenvolvimento das finanças e suas derivações) e a crise dos subprime em 2008, numa fuga de capitais buscando investimentos mais tangentes e seguros, com a terra – e sua capacidade de produzir comodity – tomando um papel central nessa escalada de resposta que os capitais voláteis impõem nos momentos de crise e ameaça de ampliação dos estragos da bolha especulativa.

Aqui, acredita-se que a tendência do que se apresenta para o campo brasileiro mostra sua configuração real. O passo foi dado no contexto do golpe de 2016, levando ao poder um projeto ultraliberal de governo (desde Temer), que, na batuta da divisão internacional do trabalho, imposto pelo jogo da dependência, da dívida e da financeirização, logrou derrubar limites para que a terra nacional fique sob controle estrangeiro (em que a quebra de limite de compra de terras por estrangeiros supracitada, representou apenas o primeiro passo).

O poder da distribuição nessa cadeia de produção e repartição do valor mostra-se em sua inteireza. Mas quais as decorrências dessa relação da distribuição na cadeia global de valor (e de mercadorias), aliada à sua íntima relação com a estrutura corporativa em ações (diretamente vinculados ao mercado financeiro), para o alimento e a terra? (se desde a sua produção passando pela sua distribuição a cadeia de comando está fora de sua própria terra, quiçá na Bolsa de valores de Londres ou Chicago?).

Parte da fome que assolou a China e a Índia no século XIX tem a ver com a especulação no preço dos grãos na bolsa de Londres, como bem nos lembrou Mike Davis em Holocaustos coloniais. Nada dessa relação coloca-se fora da órbita da valorização do valor e a terra como ativo financeiro é observada também por Sassen, no seu livro Expulsões.

 

A aquisição de terra estrangeira não é um acontecimento solitário. Ela requer, e por sua vez estimula, a criação de um vasto mercado global de terras. Implica o desenvolvimento de uma infraestrutura de serviços igualmente vasta para permitir vendas e aquisições, obter a posse ou os direitos de arrendamento, desenvolver instrumentos legais apropriados e até pressionar pela criação de novas leis que acomodem essas compras em um país soberano. Essa infraestrutura vai muito além de apoiar o mero ato da compra. Não apenas facilita, como também estimula novas aquisições de terra por parte de estrangeiros. Esse setor de serviços especializados cada vez mais sofisticado inventa novos tipos de contrato e formas de propriedade e cria instrumentos inovadores de contabilidade, legislação e de seguros. À medida que se desenvolve, ele depende, por sua vez, de novas aquisições de terra estrangeira como fonte de lucros. Vemos o começo de uma mercantilização em grande escala, o que pode levar à financeirização da mercadoria que continuamos a chamar simplesmente de terra (2016, p. 97).

 

Sassen prossegue em seu argumento:

 

A escala das aquisições de terra deixa uma enorme marca no mundo, caracterizada por um grande número de microexpulsões de pequenos agricultores e de cidades inteiras, e por níveis crescentes de toxicidade na terra e na água ao redor das plantações instaladas nas terras adquiridas. Há números cada vez mais altos de pessoas desalojadas, de migrantes rurais que se mudam para favelas nas cidades, de cidades e de economias de subsistência destruídas, e, a longo prazo, muita terra morta. O que realmente acontece quando um novo proprietário/arrendatário, nacional ou estrangeiro, adquire 2,8 milhões de hectares de terra para plantar palmeiras para produzir biocombustível? Dezenas de povoados, distritos de agricultura de subsistência e instalações de produção são expulsos da terra nessas regiões rurais. Alguns podem receber uma compensação e outros podem ser reassentados em terra equivalente. No entanto, de forma geral, as perdas são muito maiores do que as compensações. Por último, a flora e a fauna são expulsas para dar lugar a monoculturas. Tudo isso traz degradação para o terreno e para a terra em si, por meio da perda da diversidade dos nutrientes e de insetos. Depois de algumas décadas, a terra vai estar exaurida, morta do ponto de vista clínico, como vimos em outras zonas de plantação na América Central, no Caribe e em partes da África. A muito longo prazo, a terra pode se recuperar (2016 p. 97 - 98).

 

            Cabe questionar: no tempo do capital essa terra se recupera? Em coadunância com a tendência global exposta por Sassen (2016), que ainda expressa tal trajetória que se tornou norma, mesmo não importando quem está comprando terra e onde (será mesmo que não importa ou o autor fala isso para expressar a processualidade da tendência?); promovida pelo Banco Mundial desde o avanço do neoliberalismo nas décadas de 1990 e 2000, o que também remete ao caso do Brasil retratado por Sassen.

 

Milhões de pequenos proprietários brasileiros têm sido expulsos de suas terras, que foram absorvidas por vastas plantações de soja para exportação. Os empreendedores podem ser indivíduos e corporações nacionais ou estrangeiras. Uma consequência disso é a fome em áreas onde antes havia pouca ou nenhuma, ainda que os habitantes fossem pobres: a soja substituiu o feijão, fonte de renda e de alimento para agricultores pobres. E muitos deles não tiveram outra opção além de migrar para os bairros pobres de cidades maiores. A nova fome se agrava ainda mais pela toxicidade que as grandes plantações trazem para a área em seu entorno, o que dificulta que as famílias dos trabalhadores das plantações cultivem os próprios alimentos em seus quinhões de terra (2016, p. 98).

 

            A expansão vincula-se meramente ao desejo de realização mercantil, seja no grão de soja9 (já negociado em bolsa de futuros sem nem existir), seja no minério de ferro, em terras raras (e minerais raros e estratégicos) – ou vocês acham que as medidas de Trump destinam-se a “soltar” Bolsonaro? É mero jogo comercial e de disputa por hegemonia no âmbito do capital-imperialista –, ou seja em relação à própria terra que perdeu sua substancialidade significativa do uso, e converteu-se em ativo financeiro, mero valor de troca; que muitas vezes desobriga a terra de produzir, e impõe a esta, a lógica meramente especulativa, típica das finanças globais. Porém a pressão sobre a terra que as finanças exercem equivale ao controle indireto – monopólio que se acentua com as finanças – da terra, que por existir fisicamente é a garantia da produção negociada para o ano de 2030 – 2040 ou mais adiante. A sede da ganância especulativa e suas tendências reverbera, por exemplo, junto ao MATOPIBA (área de expansão da fronteira agrícola), conforme relatório publicado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos:

 

A evolução do desmatamento nas últimas décadas esteve bastante conectada à emergência da economia do agronegócio da commodity soja e, portanto, se acelerou pari passu com esta, ao ponto de ter sido maior nos últimos 20 anos (cerca de 13 milhões de hectares) do que nos 500 anos anteriores, desde a invasão colonial (aproximadamente 11 milhões de hectares). Em 2020, a superfície desmatada de Cerrado no MATOPIBA já correspondia a 23,47 milhões de hectares, ou 35,28% da área total de Cerrado na região. Cerca de 17% dessa área devastada (4 milhões de hectares) estava destinada a monocultivos de soja em 2018 (ver Mapa 04 “Área plantada de soja”); 14,6 milhões de hectares destinados para pastagens (em 2020), com um aumento de 258% desde 1985. Juntos, criação de gado e monocultivo de soja correspondem a praticamente 80% da área de desmatamento acumulado até 2020 no Cerrado do MATOPIBA.

 

            A soja cresce em área, enquanto diminuem os espaços para a produção de alimentos que estão na base da dieta do brasileiro (o que leva também ao encarecimento do feijão com arroz e a carne do dia a dia). Na pesquisa em construção no âmbito do PPGEO/UFS (qualificação), Freires (2025) analisando a fome como ativo financeiro, apresenta alguns dados dessa diminuição na produção do alimento em razão da produção de comodity (soja, milho e cana) – com base em dados oficiais e censo do IBGE. Os dados do censo, considerados o intervalo de 2006 a 2017, mostram – tabela acima – a diminuição de 17,6% no quantitativo de produtores no campo. Além disso aumentou o número de estabelecimentos em que o produtor busca trabalho fora diminuindo a mão de obra da família e a média de pessoas ocupadas.

 

o cultivo de produtos como arroz, feijão e mandioca ocupa áreas inferiores a 5 milhões de hectares, sendo significativamente menor em comparação à área destinada ao cultivo da cana-de-açúcar, do milho e da soja — uma diferença de aproximadamente 40 milhões de hectares. O crescimento mais expressivo ocorreu na produção do milho, cuja área plantada passou de aproximadamente 14 milhões de hectares em 2011 para 23 milhões de hectares em 2025, e da soja, que saltou de 24 milhões de hectares em 2011 para 44 milhões de hectares em 2025 (Freires, 2025, p. 55).

           

            Tendencialmente as áreas controladas e monopolizadas indiretamente por corporações transnacionais financeirizadas leva à pressão sobre as áreas que produzem o alimento, como valor de uso em sua forma mercantil simples, mas cujo canto da sereia não se pode escapar, na medida em que o circuito da distribuição insere – ou expulsa – diretamente – ou indiretamente – dos circuitos mais amplos da reprodução da mercadoria.

Entre a dimensão das culturas especulativas e as culturas para o alimento (terra de trabalho) os dados elencados por Freires (2025) confirmam a tendência que o texto aponta. Quanto ao que se destina às comodities observa-se,

 

que a produção de cana de açúcar é majoritária em relação aos principais monocultivos alimentares, à medida que passou de aproximadamente 734 milhões de toneladas de cana em 2011 para 783 milhões de toneladas em 2023. Em relação a soja e o milho houve também um significativo crescimento de suas produções, sendo a soja acrescida de 75 milhões de toneladas em 2011 para 152 milhões de toneladas em 2023 (um aumento maior que 100%), e o milho saltando de 56 milhões de toneladas em 2011 para 132 milhões em 2023 aproximadamente (um aumento também superior a 100%), ao mesmo tempo que com números bem inferiores, em 2023  (ver gráfico 03), a produção de arroz, de feijão e de mandioca foi aglomerada em torno de 3 a 18 milhões de toneladas de grãos (p. 57).

 

            E em relação ao cultivo de alimentos temos o seguinte quadro:

 

a produção de arroz e mandioca sofreram uma queda expressiva de 2011 para 2023 sendo que o feijão manteve sua produção em torno de aproximadamente 3 milhões de toneladas. A produção de arroz passou de 13 milhões de toneladas aproximadamente em 2011 para 10 milhões de toneladas em 2023, evidenciando uma queda significativa na produção de alimentos básicos da população, além disso, a mandioca caiu de 25 milhões de toneladas em 2011 para 18 milhões de toneladas em 2023. Em vista disso, os dados mostram mais uma vez, a expansão do agronegócio exportador em contraposição a produção camponesa (p. 59).

 

            A terra e seus frutos tornam-se completamente refém das finanças estranhadas e alheias a quaisquer das dimensões subjetivas da existência no/do território, pois objetivam o mesmo como mero ganho, no jogo do cassino mundial capitalista. A terra, como o capital, torna-se fictício, mesmo sendo concreto e real.

 

Para não concluir: algumas tendências observadas

            Caminhando para o final da argumentação gostaria de colocar mais duas tendências predominantes nas lógicas de reprodução da terra – do alimento e do trabalho – que demonstram o entranhamento dessa lógica financeira para a terra. A primeira remete ao que sinaliza o professor Manoel Fernandes de Sousa Neto (2024) no seu texto Com que números eu vou? Onde o autor estabelece uma crítica à lógica quantitativa que tomou de assalto a ciência e o que ela produz, sobremaneira vinculada à dimensão do: “a quem serve esses números e essa ciência”?

            No exemplo inicial do texto, Sousa Neto (2024) remete a uma fala do Professor Ildeu de Castro Moreira, do Instituto de Física da UFRJ, ex-presidente da SBPC, que quando precisava defender o investimento público em ciência (como na comissão de ciência e tecnologia), utilizava uma razão numérica que figurava em um relatório da Embrapa, cuja informação registrava um retorno de 12 reais a cada real investido em pesquisa no campo da Agricultura Tropical. Todavia, como aponta Sousa Neto (2024) - numa citação que mesmo extensa, faz-se imprescindível -, cabe a pergunta: a quem esses números servem?

 

O agronegócio e a ciência pensam na língua franca e em razões financeiras desde que ciência e grãos se tornaram commodities. Por isso podemos dizer que os números talvez não mintam, mas ao certo eles contam apenas uma versão da história [...] Podemos dizer, por outro lado, que cada real investido no agronegócio produziu números relativos a milhares de hectares grilados de indígenas, milhões de mortos por veneno, inúmeras espécies vegetais e animais em extinção, multidões de famintos. Cada real investido na ciência para o agronegócio pode ter representado perdas irrecuperáveis, incalculáveis e inumeráveis para o planeta e a humanidade que ainda o habita. O que nos mata, portanto é o raciocínio matemático em si e que traz embutido o seguinte argumento: apliquei 1 e ganhei 12, mais que decupliquei o dinheiro investido e os lucros obtidos foram incríveis. Aqui as questões poderiam ser várias: aquele mágico real saiu do bolso de quem? Se foi dinheiro público, com certeza foi do Estado e se foi do Estado é dinheiro que pertence a todo mundo que habita o território, inclusive os indígenas que tiveram terras griladas. Depois podemos perguntar onde foram para os doze reais? E é muito provável que não tenham retornado ao Estado, porque dentre outras coisas, o agronegócio é bafejado por múltiplas isenções fiscais e quase não recolhe impostos. Vendo bem os números, parece que todo mundo, via Estado, financia pesquisas científicas em instituições públicas, com dinheiro do erário para transferir dólares para grandes empresas como Bunge e Cargil, que destroem o planeta e disseminam a barbárie para toda humanidade [...] Alguma coisa deve estar errada em um raciocínio matemático em que cinco grandes grupos e seus asseclas se beneficiam lucrando barbaramente, enquanto outros noventa e nove por cento da humanidade tem que pagar a conta com a própria existência presente e futura (p. 5 – 6).

 

            A ciência que se preocupa com a humanidade não pode ser feita em razão desse tipo de especificidade numérica, pois o cálculo lucrativo despreza a vida, mesmo que essa vida seja o que lhe dê corpo; daí a violência imanente do capital.

            A segunda tendência põe em relevo a condição da terra fictícia apontada acima. Monerato (2022) aponta que a partir do momento em que a terra funciona como ativo financeiro, desloca-se dela sua função produtiva e a ela se impõe a lógica e a função especulativa, o que significa que no jogo do mercado financeiro a terra nem precisa produzir para dar lucro (renda e juros). Na prática, segue apontado, houve um deslocamento entre o preço do commodity e o preço da terra (renda capitalizada) e a terra continuou seu processo de valorização independente das comodities (mesmo quando as comodities se desvalorizaram a terra continuou se valorizando – conforme apontado anteriormente a terra atingiu 220% de valorização, mesmo e independente da desvalorização das comodities). Hoje fundos de pensão de professores da universidade de Harvard compra grandes extensões de terra, e outros fundos de pensão como o TIAA-CREF, norte americano, é responsável por fusões e aquisições no ramo da terra no Brasil.

            Voltando a pergunta sobre o que se apresenta para o campo brasileiro (?), cabe outra questão: como o campo brasileiro pode sobreviver à tais tendências? Nesse sentido reforço o papel que as ciências humanas e sociais têm de dirimir a espessa nuvem que nos oblitera a visão da realidade concreta, pois a alienação serve muito bem tanto ao trabalho expropriado quanto ao capital e à terra tornados fictícios (pois não comemos nem ações, nem dinheiro).

 

Notas

1. Texto apresentado na Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária – JURA, realizada no dia 06/09/2025 no auditório da Universidade do Estado da Bahia – UNEB (Campus XII – Guanambi/BA).

 

2. Recentemente o historiador e político Jones Manoel deu um bom exemplo da especificidade desse aspecto da produção material no sistema capitalista, com a seguinte pergunta: se o bilionário dono de uma fábrica morrer, no outro dia a fábrica abre e continua sua produção; mas o que acontece se, hipoteticamente, todos os trabalhadores daquela fábrica morrerem ela não abre no dia seguinte.

 

3. "As vendas mundiais de agrotóxicos cresceram de forma significativa nos últimos anos. Se em 2017 foram comercializados internacionalmente em torno de 44 bilhões de dólares, em 2020 esse montante subiu para 56 bilhões de dólares.14 Paralelamente, o volume de vendas das doze maiores empresas produtoras de agrotóxicos cresceu 27% entre 2017 e 2020. A Syngenta — companhia suíça adquirida pela ChemChina em 2017 — desponta como a maior exportadora de agrotóxicos no período, passando de 9 bilhões de dólares em 2017 para mais de 11 bilhões em 2020. Em seguida, aparecem as alemãs Bayer e Basf e a estadunidense Corteva, que em 2020 arrecadaram, respectivamente, 10 bilhões, 7 bilhões e 6 bilhões de dólares em exportações. Essas quatro companhias, junto com a indiana UPL e a estadunidense FMC, detêm cerca de 80% do valor total da comercialização de agrotóxicos no planeta e venderam em 2020, juntas, mais de 43 bilhões de dólares desses produtos. As mesmas empresas figuram ainda entre as maiores produtoras e exportadoras mundiais de sementes: Bayer, Corteva e Syngenta controlam mais de 80% desse mercado, arrecadando 8 bilhões, 7 bilhões e 2,6 bilhões de dólares em 2020, respectivamente. Organizando-se de forma oligopolista, portanto, as corporações provenientes da Europa, dos Estados Unidos e da China subordinam a agricultura em escala mundial em todas as suas fases: desde o preparo da terra para o plantio até a “pós-colheita”. Nesse contexto de notória assimetria entre o Norte e o Sul globais, a América Latina tem repetido e aprofundado a sina histórica e violenta instaurada pelos europeus durante a colonização, entre os séculos XVI e XIX. Nas palavras do economista equatoriano Alberto Acosta, os países do continente, “amaldiçoados pela abundância”, tornaram-se “exportadores de natureza”, assumindo um papel desfavorável na ordem econômica internacional.15 Por isso, o pensador uruguaio Eduardo Galeano define a América Latina como uma região que 'se especializou em perder'” (Bombardi – Agrotóxicos colonialismo químico).

 

4. https://www.cnnbrasil.com.br/politica/liberacao-de-agrotoxicos-bate-recorde-em-2024/.

 

5. https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/12/28/lula-sanciona-com-vetos-lei-que-acelera-registro-de-agrotoxicos-no-brasil.ghtml.

 

6. https://plantiodireto.org.br/o-que-o-brasil-ganha-ou-perde-com-a-nova-lei-dos-pesticidas.

 

7. https://www.wwf.org.br/?92183/Congresso-aprova-PL-da-Devastacao-e-abre-caminho-para-destruicao-ambiental-sem-precedentes.

 

8. “Pero sí debemos entender que el modelo de la gran distribución moderna y la relevancia cada vez mayor del sector distribución en la economía global implican una nueva forma de articulación en la forma de captación del valor, que es característica de lo que Arrighi llamó régimen de acumulación flexible del capital. Y, como decíamos, estas mutaciones tienen claros ganadores y perdedores: ganan las empresas multinacionales, el sector distribución y el capital financiero; pierden los pequeños y medianos comerciantes, los obreros que se encargan del proceso productivo y los campesinos del Sur global” (Castro, 2017, p. 27).

9. Reafirmando a lógica especulativo-concentracionista o relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos aponta: “Recente relatório de AidEnvironement sobre os negócios da Bunge no Piauí demonstra seu controle de aproximadamente 80% da produção de soja no estado. O estudo revela que a Bunge domina a comercialização e o armazenamento da soja, com capacidade para armazenar 694,158 toneladas e com planos de expansão dessa estrutura em uma região que inclui os municípios de Uruçuí, Bom Jesus, Baixa Grande do Ribeiro, Currais e Santa Filomena”.

 

Referências

 

BOMBARDI, L. M. Agrotóxicos e colonialismo químico. São Paulo: Elefante, 2023.

 

CASTRO, N. La dictadura de los supermercados: cómo los grandes distribuidores deciden lo que consumimos. Madrid – España: Ediciones Akal, 2017.

 

DAVIS, M. Holocaustos coloniais: a criação do terceiro mundo. São Paulo: Veneta, 2022.


DUTRA JR, W. Reflexões sobre o "salto mortal" do universal e os limites de sua geografia das "coerções mudas". Texto apresentado na mesa de abertura do X Encontro Baiano de Geografia - com o tema: Rumos da Geografia Baiana frente ao avanço do capital: rupturas e esperanças - e XI Semana de Geografia da UNEB (Caetité/BA), realizada no dia 23/07/2025, no auditório do Departamento de Ciências Humanas - DCH VI, UNEB campus Caetité/BA [texto ainda inédito], 2025.

 

FREIRES, T. C. A fome como ativo de mercado. Texto de qualificação de doutorado (Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe - PPGEO/UFS). São Cristóvão, 2025.

 

MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro 1. São Paulo: Boitempo, 2013.

 

MARX, K. A miséria da filosofia. São Paulo: Boitempo, 2017.

 

MONERATO, L. R. Terra fictícia: capital financeiro e renda fundiária. Marília/SP: Lutas Anticapital, 2022.

 

NETO, M. F. de S. (2024). Com que números eu vou?Revista Da ANPEGE20(43). https://doi.org/10.5418/ra2024.v20i43.19349.

 

REDE SOCIAL DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS E ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS DE TRABALHADORES RURAIS, GRAIN. Relatório: INCRA e Poder Judiciário reconhecem fraudes na aquisição de terras no Brasil por fundos de pensão de TIAA-CREF/ COSAN e Universidade de Harvard. Dezembro de 2020. Disponível em: https://www.social.org.br/revistas/revistas-portugues. Acesso em 10. Agosto de 2025.

 

REDE SOCIAL DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS. Desmatamento, grilagem de terras e financeirização: Impactos da expansão do monocultivo da soja no Brasil. Texto: Fábio Pitta, Maria Luisa Mendonça e Daniela Stefano Pesquisa: Bruno Spadotto, Daniela Stefano, Fábio Pitta e Maria Luisa Mendonça. ISBN: 978-85-99022-08-5. Maio de 2022. Disponível em: https://www.social.org.br/revistas/revistas-portugues. Acesso em 10. Agosto de 2025.

 

SASSEN, S. Expulsões: brutalidade e complexidade na economia global. São Paulo: Paz & Terra, 2016.