Wagnervalter Dutra Junior
UNEB/PPGELS
GPECT/GEMARX
Introdução:
terra, trabalho e natureza como valores de troca
A pergunta de partida nos
remete a buscar um caminho projetivo (teleológico – o que nos difere, como piores
arquitetos, das melhores abelhas, no dizer de Marx), almejando ponderar algumas
questões que se apresentam para o campo (terra – natureza), enquanto
materialidade, enquanto substrato do nosso corpo inorgânico, a base sob a qual,
ao lado do trabalho, edificamos toda a concreticidade material da sociedade e
toda a riqueza que nos circunda. Cabe lembrar, de início, que essa riqueza nos
é subvertida duplamente: 1) como braços, nervos, músculos e cérebro, não
participamos do todo da riqueza que nós mesmos produzimos2; 2) e,
para ser jogado nessa condição de não partícipe justo da partilha/divisão da riqueza,
o capital nos expulsou, e expulsa, das nossas terras (terras de trabalho) e da
posse dos meios para trabalhá-la. O campo brasileiro e a questão da terra (a
questão agrária) não podem ser entendidos, de uma maneira geral, sem essa chave
explicativa de partida, pelo próprio papel central que a terra tem no sociometabolismo
do capital. Dominar a terra é, também, dominar o trabalho que sobre ela toma
corpo. Resta saber, como propõe o debate, de quais maneiras essa terra é
dominada contemporaneamente.
Esse
processo durou mais de uma centena de anos, também foi violento em sua
constituição, na medida em que operou a expulsão de uma grande massa de
camponeses das terras que antes significavam seu alimento; após tal processo o
camponês vaga por essas mesmas terras em situação de miserabilidade, pobreza e
mendicância; deslocados da utilidade histórica que lhes deu o feudalismo, o
mundo nascente preferia o sabor dos famélicos da terra, pois essa fome era
justamente o que passou a escravizá-lo por 16 a 18 horas de trabalho diário; e
quanto mais famintos, mais fácil encontrar quem se submeta a essas condições e
quem, do lado de fora da fábrica, com fome, espera a sua vez de vender-se a
essas mesmas 16 – 18 horas. Agora significa que outro “Chronos” nos devora. Nos
transformamos em carcaça do tempo. E o que isso também significa?
A concorrência, segundo um
economista norte-americano, determina quantas jornadas de trabalho simples
estão contidas numa jornada de trabalho complexo. Essa redução de jornadas de
trabalho complexo a jornadas de trabalho simples não supõe que se tome o trabalho
simples como medida do valor? Por outro lado, tomar apenas a quantidade de
trabalho como medida de valor, sem levar em conta a qualidade, supõe que o
trabalho simples se tornou o fulcro da indústria. Supõe que os trabalhos se
igualaram pela subordinação do homem à máquina ou pela divisão extrema do
trabalho; supõe que os homens se apagam diante do trabalho; supõe que o
movimento do pêndulo tornou -se a exata medida da atividade relativa de dois
operários, como é do mesmo modo da velocidade de duas locomotivas. Então, não
há por que dizer que uma hora de um homem equivale a uma hora de outro homem;
deve -se dizer, ao contrário, que um homem de uma hora vale tanto quanto outro
homem de uma hora. O tempo é tudo, o homem não é mais nada; quando muito, ele é
a carcaça do tempo. Não se trata mais da qualidade. A quantidade decide tudo:
hora por hora, jornada por jornada. Mas essa equalização do trabalho não é obra
da justiça eterna do sr. Proudhon; ela é, simplesmente, a maneira de ser da
indústria moderna (Marx, 2017, p. 72).
O
mundo moderno impôs a tudo que se faz o parâmetro de um tempo que deve
significar retorno em dinheiro (lucros, juro e renda – o salário é a parte que
fica fora desse retorno), como o ser humano de uma hora que vale tanto quanto
outro ser humano de uma hora; ao invés de uma hora do ser humano poder
significar uma hora do outro, pois aqui, simplesmente, o qualitativo se perde,
pela perda da necessidade qualitativa na produção de mercadorias, agora
significando a orquestra do cálculo lucrativo e do quantum da riqueza
mercantil do mundo como uma imensa coleção – acúmulo – de mercadorias, para
recordar a frase com a qual Marx (2013) abre o primeiro livro do Capital, cujo
primeiro capítulo busca esmiuçar a natureza da unidade central dessa sociedade,
que é a mercadoria. No âmbito do trabalho abstrato, uma hora de um ser humano
não é a mesma coisa do ser humano de uma hora, pois o primeiro pressupõe
qualidade, e o segundo, quantidade, e essa última é o que meramente importa no
reino das mercadorias (valor de uso – esse qualitativo – perdeu centralidade).
Os
expulsos do paraíso o foram pela “expropriação violenta e intermitente de suas
terras” conforme aponta Marx (2013); esses vagantes
livres e móveis, expulsos violentamente para a liberdade, de se vender, não
foram absorvidos pela expansão capitalista com a mesma “velocidade em que foram
trazidos ao mundo” (2013). Foram “convertidos massivamente em vagabundos,
mendigos, assaltantes, em parte por predisposição, mas na maioria dos casos por
força da circunstância” (2013); a resposta a essa situação foi a proliferação
na Europa em fins do século XV e ao longo do século XVI – à época o Brasil já
se integrava ao desenho acumulativo originário – de uma legislação sanguinária
contra a vagabundagem. Nesse momento tudo então já se colocava como mercadoria,
seja em potência, seja em ato. A própria terra e também os frutos da terra (que
são frutos do trabalho) são mercadorias, e à tais leis estão submetidos.
O alimento então deixa de
ser o veículo que mata a fome, e passa a ser objeto de lucro, e essa fratura
(metabólica) é de tal maneira que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua: Segurança Alimentar (IBGE, 2023), apontou que 12,7% dos domicílios do
campo enfrentavam insegurança alimentar moderada ou grave, nas cidades a cifra
cai para 8,9%. No lugar em que o alimento ‘nasce’ as pessoas tem menos acesso a
ele, justo por perder a sua condição de uso – alimento –, apreendido como um
veículo para fazer lucrar.
Terra, alimento - e fome - financeirizadas:
ponderações gerais
A terra e o alimento
tomados como mercadorias leva a exacerbação desse tipo de contradição que o
capital impõe ao trabalho. Esses alimentos também se transformam em comodity
(passam a serem negociados na Bolsa de Valores de Chicago). O campo brasileiro,
além de estar às voltas com todos os problemas ligados ao avanço do agronegócio
e do monocultivo (sobremodo de cana, milho e soja), inseriu nessa equação,
desde a década de 1970-1980, a financeirização dos frutos da terra e, à
posteriori, desta, que se tornou ativo de mercado (como a fome). Cabe
questionar por qual razão a fome é ainda persistente num mundo que desenvolveu
tecnologia para produzir o suficiente para eliminá-la?
Ainda é preciso ponderar
que durante o governo do ex-presidente, que atualmente está sendo julgado por
tentativa de Golpe de Estado, todo um aparato para quebrar limites para que o
capital acesse a terra e, tanto especule quanto explore o trabalhador, foi
montado. Quem se esqueceu da frase: “vamos passar a boiada”, numa nítida alusão
à necessidade de limitar o alcance da legislação ambiental, quanto às novas
possibilidades que tais mudanças abrem ao campo da exploração mercantil
capitalista.
Quem se esqueceu dos mais
de 400 tipos de agrotóxicos liberados durante o governo do fascista Bolsonaro?3
E quem aqui sabe que essa mesma sanha por aprovação de agrotóxicos não apenas
seguiu no governo Lula, como bateu novo recorde? O veneno agora não deve estar
só sobre a mesa. Inclusive, segundo reportagem publicada no site da CNN4,
o Brasil bateu recorde na liberação de agrotóxicos e “defensivos biológicos”
(ofensivos?) em 2024, que segundo o próprio Ministério da Agricultura e
Pecuária (Mapa) atingiu a cifra de 663 produtos aprovados, aumentando em 19%
quando se leva em conta 2023, que teve 555 registros aprovados5. O
governo atual não apenas bateu mais esse vergonhoso recorde, como foi
responsável por levar adiante a chamada Lei dos Agrotóxicos (14.785/2023), que
na prática impõe menor tempo para aprovação desse tipo de substância: “o
processo de registro de produtos novos deverá ser concluído em até 24 meses.
Agrotóxicos com fórmulas idênticas a outros já aprovados terão prazo reduzido
de 60 dias” (acelera-se o envenenamento das terras, águas, pastos, plantações).
(...) a área total tratada com
agrotóxicos no país cresceu 12,2% em relação a 2023, somando 2,5 bilhões de
hectares. O volume de produtos aplicados subiu 13,6%, enquanto os valores pagos
pelos produtores somaram R$ 113,4 bilhões (cerca de US$ 19,9 bilhões), uma
queda de 6,6% no comparativo anual [...] Se olharmos mais para trás, o cenário
mostra uma escalada impressionante. Entre 2003 e 2021, o Brasil aumentou em
392% o consumo de agrotóxicos, passando de 183 mil toneladas para 720 mil
toneladas por ano. Isso colocou o país no topo do ranking mundial de uso desses
produtos, ultrapassando os Estados Unidos, que consumiram 457 mil toneladas em
2021. (PensarAgro apud Freires, 2025.)
Esse é o desolador
cenário de uma terra que é envenenada para fazer lucrar o capital
mundializado-financeirizado, em detrimento da saúde de milhares de camponeses
diretamente, e milhões de brasileiros que consomem em média de 5 a 7 litros per
capita por ano. Na década de 80, em função da legislação vigente, a
liberação de uma nova molécula durava entre 10 e 15 anos6. Para
atender o tempo de giro do cálculo lucrativo do capital, ainda que a produção
destrutiva seja sua forma contemporânea de externar a objetividade mercantil, a
cada dois anos, libera-se novos venenos para que as ações das empresas que o
produzem sigam valorizando-se, ainda que o câncer – aparelho digestivo – tenha
aumentado (projeta-se a continuidade do aumento, algo em torno de 21% entre
2030 e 2040, segundo estimativa publicada pela Agência Brasil).
A potência dessa
destruição destinada a fazer dinheiro também amplificou as dificuldades dos
camponeses em suas comunidades em geral (na terra do comum, nos quilombos, nos
fundos e fecho de pasto), bem como quilombolas, indígenas, ribeirinhos, que
foram agraciados com a PL da devastação, já aprovada no Congresso (apesar dos
mais de 60 vetos de Lula); na prática dá aval para o desmatamento, poluição e
flexibiliza o licenciamento ambiental (ampliando a conversão da destruição da
terra em lucro). O site da WWF7 alerta que “entre os absurdos do
texto, destaca-se o autolicenciamento, que permite que os próprios
empreendedores atestem os impactos ambientais de suas atividades, sem a devida
análise técnica por órgãos competentes”.
Soma-se a todo esse processo a histórica e persistente concentração fundiária (bem como a estrangeirização da terra) no cenário do campo, e as coisas se complicam ainda mais. Dados do censo agropecuário do IBGE dão mostras dessa estrutura desigual e combinada, representada pelo latifúndio e pelo monocultivo no país.
Tabela:
Censo agropecuário 2006 e 2017
Censo
Agro 2006 |
||||||
Total,
agricultura familiar |
Estabelecimentos |
Área
total (ha) |
Pessoal
ocupado |
|||
Total |
5 175 636 |
100,0% |
333
680 037 |
100,0% |
16
568 205 |
100,0% |
NORMAS
VIGENTES EM 2017 |
|
|||||
Agricultura não familiar |
870 531 |
16,8% |
252 411 258 |
75,6% |
4 286 660 |
25,9% |
Agricultura familiar-LEI-11326 -2017 |
4 305 105 |
83,2% |
81 268 779 |
24,4% |
12 281 545 |
74,1% |
|
||||||
Censo
Agro 2017 |
||||||
Total,
agricultura familiar |
Estabelecimentos |
Área
(ha) |
Pessoal
ocupado |
|||
Total |
5 073 324 |
100,0% |
351
289 816 |
100,0% |
15
105 125 |
100,0% |
NORMAS
VIGENTES EM 2017 |
|
|||||
Não é agricultura familiar |
1 175 916 |
23,2% |
270 398 732 |
77,0% |
4 989 566 |
33,0% |
Agricultura familiar |
3 897 408 |
76,8% |
80 891 084 |
23,0% |
10 115 559 |
67,0% |
|
||||||
Censo
Agro: Variações de 2006 a 2017 |
||||||
Total,
agricultura familiar |
Estabelecimentos |
Área
(ha) |
Pessoal
ocupado |
|||
Total |
-102
312 |
-2,0% |
17 609 779 |
5,3% |
-1
463 080 |
-8,8% |
Não é agricultura familiar |
305 385 |
35,1% |
17 987 474 |
7,1% |
702 906 |
16,4% |
Agricultura familiar |
-407 697 |
-9,5% |
-377 695 |
-0,5% |
-2 165 986 |
-17,6% |
Fonte: IBGE apud Freires, 2025.
Os números traduzem essa
escalada que nos indica que de 2006 para 2017 a agricultura familiar camponesa
diminuiu o número de estabelecimentos que representava em 9,5%, bem como a área
ocupada em 0,5%; enquanto a agricultura não familiar (empresarial, ou integrada
ao mercado de forma mais direta) experimentou um crescimento de 35,1% de
estabelecimento e 7,1% da área. Esse quadro marca bem as contradições do campo
brasileiro, que o professor Ariovaldo Umbelino de Oliveria demonstrou em suas
pesquisas; cresce a grande propriedade e o campesinato resiste. Mas a que
custo? Envenenamento, precarização do trabalho, trabalhos paralelos ao trabalho
na terra (diária, meia, clt, etc.), falta de apoio e infraestrutura; enquanto o
agronegócio segue amplamente financiado pelo Estado – o plano safra 2025/2026
destina 516 bilhões para o agronegócio, e algo em torno de 89 bilhões para a
agricultura familiar camponesa.
Quanto aos conflitos no
campo (CPT), referindo-se à condução da questão agrária, por parte dos
diferentes governos comparados e representados nos diferentes períodos
cronológicos de comparação (2016-2022 – 2023-2024), a tônica da manutenção dos
conflitos segue, inclusive ancorada no fenômeno de terras fictícias, que tem a
ver com o processo de produção financeirizada dos comodities, que requer a
garantia da expansão da terra, como garantia da expansão da produção (ainda que
fictícia, como a terra), para garantir o valor das ações das empresas
envolvidas nessas cadeias do mercado de ações, tudo isso fez surgir
imobiliárias rurais e a terra inflacionou como ativo financeiro mais do que o
dólar, a Bovespa ou o ouro, com a primeira se valorizando em 220% num período
de 10 anos, seguidas, respectivamente, pela valorização dos demais – em período
igual –, nos seguintes percentuais:
52,70%, 38,10% e 164% (Monerato, 2022). O ouro, que vem da terra, foi quem
chegou mais perto (Dutra Jr., 2025).
Também nos leva a refletir, dado que os conflitos por terra – e trabalho –, não deram mostras de recuo, com exceção dos números de assassinatos que no período do golpe até o fim do ciclo de Bolsonaro no executivo, foram bem mais expressivos do que no governo Lula (43,6 para 13) (período geral considerado: 2016-2022 – 2023-2024); nas formas com as quais a economia e a geografia políticas nos diferentes governos efetivam-se. No primeiro, o excedente de população relativa era compreendida como algo a ser exterminado, uma resposta mais drástica às crises de excedente do capital (que são quase sempre tendencialmente drásticas – e sob o primado do cálculo econômico-lucrativo a forma mais “eficiente”); já no segundo, a população excedente relativa como crise resolve-se, em parte, no Estado (como política pública ou como uma população carcerária que cresce ano após ano) (Dutra Jr., 2025).
A terra segue sendo objeto
de monopolização e de territorialização direta do capital, como ensinou o
Professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira (USP). O segundo caso
(territorialização) remete à instalação direta de capital fixo, infraestrutura,
instalações e tecnologia na terra, o capital conforma uma estrutura direta de
exploração da terra – e do trabalho – à maneira do agronegócio nas inúmeras
regiões (e no nosso caso, mais fortemente no oeste baiano). No primeiro caso –
monopolização do território – o capital desenvolve inúmeros mecanismos para
controlar indiretamente o que se produz na terra, e o faz seja pelo controle da
distribuição e circulação de mercadorias, e consegue a partir disso expropriar
a renda da terra advinda do produto do trabalho do camponês, este último fica
com a menor parte do preço final do que veio à luz pelo suor de seu rosto.
O poder da distribuição
pode ser compreendido pelo papel da Grande Distribuição Moderna (La ditadura de
los supermercados, Castro, 2017), e sua força em captar parte significativa do
valor global produzido – e isso se impõe também às cidades menores (qual o
impacto de uma rede como Assaí na feira livre de uma cidade como Guanambi/BA ou
Caetité/BA? Isso já foi medido? É um problema para o campo?), conforme aponta
Castro:
Cuando decimos que la manufactura
de unas zapatillas Nike o de una camiseta Zara supone menos del 1% del valor
que pagamos en caja, mientras que la distribución y el marketing suponen el 50%
o más de ese valor, de lo que estamos hablando es de cómo se apropia el valor
en las diferentes fases de la cadena global. Pero ese reparto del valor, por
decirlo así, no es gratuito ni responde a las pretendidamente universales leyes
de la oferta y la demanda. La captación del valor en las cadenas de valor
globales[14] es, ante todo, una expresión de las relaciones de poder en la fase
actual del capitalismo de la globalización que nos ha tocado vivir.
Normalmente, se nos habla de este asunto fragmentariamente, atendiendo a la
preponderancia de la logística en los tiempos del capitalismo de la acumulación
flexible, o de la globalización que se expande y terceriza. Pero normalmente se
ocultan las relaciones de poder y las mutaciones del capitalismo a lo largo de
la historia que han permitido que se acumule más valor en unas fases de la
cadena que en otras (2017, 25 – 26).
A
maneira da articulação do capital nas cadeias de valor global estão cada vez
mais concentradas em todos os ramos, em função do poder estruturado pelas
grandes redes de captura do valor na distribuição8 (grandes
superfícies de comércio), que Castro (2017) sinaliza muito bem as mudanças de
estratégias para captação de novos espaços e nichos de mercado, a questão é que
a concepção da relação tem implicações práticas para o comércio local e a
reprodução do camponês, por mais distância aparente que pode guardar.
En otras palabras: en la nueva fase
del capitalismo de la globalización, las fases en las que se acumula la
ganancia son las fases de diseño, al comienzo de la cadena, y de distribución y
comercialización, al final de esa cadena; en el centro, la fase productiva
pierde relevancia. Por eso las grandes empresas multinacionales optan por
tercerizar la producción y se dedican a acumular valor en las fases de diseño y
distribución. Este orden de cosas permite que el sector distribución sea cada
vez más relevante en la economía global y que, como veíamos antes, el
distribuidor se lleve el 50% del valor que pagamos en caja por una camiseta,
mientras que los costes de producción no llegan al 1% (Castro, 2017, p. 28).
Essa forma mais violenta
e sistemática de ampliar o alcance da monopolização do território (terra) pelo
capital – capturando-o na distribuição – se dá no desenvolvimento do que
convencionou-se chamar de busca global por terras (corrida mundial por terras –
Banco Mundial em 2008), que implicou, após a crise do capital na década de
1970, passando pela imposição das políticas neoliberais (que ampliou a
capacidade de produzir capital fictício, pois diminui as barreiras e
flexibilizou o desenvolvimento das finanças e suas derivações) e a crise dos
subprime em 2008, numa fuga de capitais buscando investimentos mais tangentes e
seguros, com a terra – e sua capacidade de produzir comodity – tomando um papel
central nessa escalada de resposta que os capitais voláteis impõem nos momentos
de crise e ameaça de ampliação dos estragos da bolha especulativa.
Aqui, acredita-se que a tendência
do que se apresenta para o campo brasileiro mostra sua configuração real. O
passo foi dado no contexto do golpe de 2016, levando ao poder um projeto
ultraliberal de governo (desde Temer), que, na batuta da divisão internacional
do trabalho, imposto pelo jogo da dependência, da dívida e da financeirização,
logrou derrubar limites para que a terra nacional fique sob controle
estrangeiro (em que a quebra de limite de compra de terras por estrangeiros
supracitada, representou apenas o primeiro passo).
O poder da distribuição
nessa cadeia de produção e repartição do valor mostra-se em sua inteireza. Mas
quais as decorrências dessa relação da distribuição na cadeia global de valor
(e de mercadorias), aliada à sua íntima relação com a estrutura corporativa em
ações (diretamente vinculados ao mercado financeiro), para o alimento e a
terra? (se desde a sua produção passando pela sua distribuição a cadeia de
comando está fora de sua própria terra, quiçá na Bolsa de valores de Londres ou
Chicago?).
Parte da fome que assolou
a China e a Índia no século XIX tem a ver com a especulação no preço dos grãos
na bolsa de Londres, como bem nos lembrou Mike Davis em Holocaustos
coloniais. Nada dessa relação coloca-se fora da órbita da valorização do
valor e a terra como ativo financeiro é observada também por Sassen, no seu
livro Expulsões.
A aquisição de terra estrangeira
não é um acontecimento solitário. Ela requer, e por sua vez estimula, a criação
de um vasto mercado global de terras. Implica o desenvolvimento de uma
infraestrutura de serviços igualmente vasta para permitir vendas e aquisições,
obter a posse ou os direitos de arrendamento, desenvolver instrumentos legais
apropriados e até pressionar pela criação de novas leis que acomodem essas
compras em um país soberano. Essa infraestrutura vai muito além de apoiar o
mero ato da compra. Não apenas facilita, como também estimula novas aquisições
de terra por parte de estrangeiros. Esse setor de serviços especializados cada
vez mais sofisticado inventa novos tipos de contrato e formas de propriedade e
cria instrumentos inovadores de contabilidade, legislação e de seguros. À
medida que se desenvolve, ele depende, por sua vez, de novas aquisições de
terra estrangeira como fonte de lucros. Vemos o começo de uma mercantilização
em grande escala, o que pode levar à financeirização da mercadoria que
continuamos a chamar simplesmente de terra (2016, p. 97).
Sassen prossegue em seu
argumento:
A escala das aquisições de terra
deixa uma enorme marca no mundo, caracterizada por um grande número de
microexpulsões de pequenos agricultores e de cidades inteiras, e por níveis
crescentes de toxicidade na terra e na água ao redor das plantações instaladas
nas terras adquiridas. Há números cada vez mais altos de pessoas desalojadas,
de migrantes rurais que se mudam para favelas nas cidades, de cidades e de
economias de subsistência destruídas, e, a longo prazo, muita terra morta. O
que realmente acontece quando um novo proprietário/arrendatário, nacional ou
estrangeiro, adquire 2,8 milhões de hectares de terra para plantar palmeiras
para produzir biocombustível? Dezenas de povoados, distritos de agricultura de
subsistência e instalações de produção são expulsos da terra nessas regiões
rurais. Alguns podem receber uma compensação e outros podem ser reassentados em
terra equivalente. No entanto, de forma geral, as perdas são muito maiores do
que as compensações. Por último, a flora e a fauna são expulsas para dar lugar
a monoculturas. Tudo isso traz degradação para o terreno e para a terra em si,
por meio da perda da diversidade dos nutrientes e de insetos. Depois de algumas
décadas, a terra vai estar exaurida, morta do ponto de vista clínico, como
vimos em outras zonas de plantação na América Central, no Caribe e em partes da
África. A muito longo prazo, a terra pode se recuperar (2016 p. 97 - 98).
Cabe
questionar: no tempo do capital essa terra se recupera? Em coadunância com a
tendência global exposta por Sassen (2016), que ainda expressa tal trajetória
que se tornou norma, mesmo não importando quem está comprando terra e onde
(será mesmo que não importa ou o autor fala isso para expressar a
processualidade da tendência?); promovida pelo Banco Mundial desde o avanço do
neoliberalismo nas décadas de 1990 e 2000, o que também remete ao caso do
Brasil retratado por Sassen.
Milhões de pequenos proprietários
brasileiros têm sido expulsos de suas terras, que foram absorvidas por vastas
plantações de soja para exportação. Os empreendedores podem ser indivíduos e
corporações nacionais ou estrangeiras. Uma consequência disso é a fome em áreas
onde antes havia pouca ou nenhuma, ainda que os habitantes fossem pobres: a
soja substituiu o feijão, fonte de renda e de alimento para agricultores
pobres. E muitos deles não tiveram outra opção além de migrar para os bairros
pobres de cidades maiores. A nova fome se agrava ainda mais pela toxicidade que
as grandes plantações trazem para a área em seu entorno, o que dificulta que as
famílias dos trabalhadores das plantações cultivem os próprios alimentos em
seus quinhões de terra (2016, p. 98).
A
expansão vincula-se meramente ao desejo de realização mercantil, seja no grão
de soja9 (já negociado em bolsa de futuros sem nem existir), seja no
minério de ferro, em terras raras (e minerais raros e estratégicos) – ou vocês
acham que as medidas de Trump destinam-se a “soltar” Bolsonaro? É mero jogo
comercial e de disputa por hegemonia no âmbito do capital-imperialista –, ou
seja em relação à própria terra que perdeu sua substancialidade significativa
do uso, e converteu-se em ativo financeiro, mero valor de troca; que muitas
vezes desobriga a terra de produzir, e impõe a esta, a lógica meramente
especulativa, típica das finanças globais. Porém a pressão sobre a terra que as
finanças exercem equivale ao controle indireto – monopólio que se acentua com
as finanças – da terra, que por existir fisicamente é a garantia da produção
negociada para o ano de 2030 – 2040 ou mais adiante. A sede da ganância
especulativa e suas tendências reverbera, por exemplo, junto ao MATOPIBA (área
de expansão da fronteira agrícola), conforme relatório publicado pela Rede
Social de Justiça e Direitos Humanos:
A evolução do desmatamento nas
últimas décadas esteve bastante conectada à emergência da economia do
agronegócio da commodity soja e, portanto, se acelerou pari passu com
esta, ao ponto de ter sido maior nos últimos 20 anos (cerca de 13 milhões de
hectares) do que nos 500 anos anteriores, desde a invasão colonial
(aproximadamente 11 milhões de hectares). Em 2020, a superfície desmatada de
Cerrado no MATOPIBA já correspondia a 23,47 milhões de hectares, ou 35,28% da
área total de Cerrado na região. Cerca de 17% dessa área devastada (4 milhões
de hectares) estava destinada a monocultivos de soja em 2018 (ver Mapa 04 “Área
plantada de soja”); 14,6 milhões de hectares destinados para pastagens (em
2020), com um aumento de 258% desde 1985. Juntos, criação de gado e monocultivo
de soja correspondem a praticamente 80% da área de desmatamento acumulado até
2020 no Cerrado do MATOPIBA.
A
soja cresce em área, enquanto diminuem os espaços para a produção de alimentos
que estão na base da dieta do brasileiro (o que leva também ao encarecimento do
feijão com arroz e a carne do dia a dia). Na pesquisa em construção no âmbito
do PPGEO/UFS (qualificação), Freires (2025) analisando a fome como ativo
financeiro, apresenta alguns dados dessa diminuição na produção do alimento em
razão da produção de comodity (soja, milho e cana) – com base em dados oficiais
e censo do IBGE. Os dados do censo, considerados o intervalo de 2006 a 2017,
mostram – tabela acima – a diminuição de 17,6% no quantitativo de produtores no
campo. Além disso aumentou o número de estabelecimentos em que o produtor busca
trabalho fora diminuindo a mão de obra da família e a média de pessoas
ocupadas.
o cultivo de produtos como arroz,
feijão e mandioca ocupa áreas inferiores a 5 milhões de hectares, sendo
significativamente menor em comparação à área destinada ao cultivo da
cana-de-açúcar, do milho e da soja — uma diferença de aproximadamente 40 milhões
de hectares. O crescimento mais expressivo ocorreu na produção do milho, cuja
área plantada passou de aproximadamente 14 milhões de hectares em 2011 para 23
milhões de hectares em 2025, e da soja, que saltou de 24 milhões de hectares em
2011 para 44 milhões de hectares em 2025 (Freires, 2025, p. 55).
Tendencialmente as áreas controladas
e monopolizadas indiretamente por corporações transnacionais financeirizadas
leva à pressão sobre as áreas que produzem o alimento, como valor de uso em sua
forma mercantil simples, mas cujo canto da sereia não se pode escapar, na
medida em que o circuito da distribuição insere – ou expulsa – diretamente – ou
indiretamente – dos circuitos mais amplos da reprodução da mercadoria.
Entre a dimensão das
culturas especulativas e as culturas para o alimento (terra de trabalho) os
dados elencados por Freires (2025) confirmam a tendência que o texto aponta.
Quanto ao que se destina às comodities observa-se,
que a produção de cana de açúcar é
majoritária em relação aos principais monocultivos alimentares, à medida que
passou de aproximadamente 734 milhões de toneladas de cana em 2011 para 783
milhões de toneladas em 2023. Em relação a soja e o milho houve também um
significativo crescimento de suas produções, sendo a soja acrescida de 75
milhões de toneladas em 2011 para 152 milhões de toneladas em 2023 (um aumento
maior que 100%), e o milho saltando de 56 milhões de toneladas em 2011 para 132
milhões em 2023 aproximadamente (um aumento também superior a 100%), ao mesmo
tempo que com números bem inferiores, em 2023
(ver gráfico 03), a produção de arroz, de feijão e de mandioca foi
aglomerada em torno de 3 a 18 milhões de toneladas de grãos (p. 57).
E em
relação ao cultivo de alimentos temos o seguinte quadro:
a produção de arroz e mandioca
sofreram uma queda expressiva de 2011 para 2023 sendo que o feijão manteve sua
produção em torno de aproximadamente 3 milhões de toneladas. A produção de
arroz passou de 13 milhões de toneladas aproximadamente em 2011 para 10 milhões
de toneladas em 2023, evidenciando uma queda significativa na produção de
alimentos básicos da população, além disso, a mandioca caiu de 25 milhões de
toneladas em 2011 para 18 milhões de toneladas em 2023. Em vista disso, os
dados mostram mais uma vez, a expansão do agronegócio exportador em
contraposição a produção camponesa (p. 59).
A
terra e seus frutos tornam-se completamente refém das finanças estranhadas e
alheias a quaisquer das dimensões subjetivas da existência no/do território,
pois objetivam o mesmo como mero ganho, no jogo do cassino mundial capitalista.
A terra, como o capital, torna-se fictício, mesmo sendo concreto e real.
Para não concluir: algumas tendências
observadas
Caminhando
para o final da argumentação gostaria de colocar mais duas tendências
predominantes nas lógicas de reprodução da terra – do alimento e do trabalho –
que demonstram o entranhamento dessa lógica financeira para a terra. A primeira
remete ao que sinaliza o professor Manoel Fernandes de Sousa Neto (2024) no seu
texto Com que números eu vou? Onde o autor estabelece uma crítica à
lógica quantitativa que tomou de assalto a ciência e o que ela produz,
sobremaneira vinculada à dimensão do: “a quem serve esses números e essa
ciência”?
No
exemplo inicial do texto, Sousa Neto (2024) remete a uma fala do Professor
Ildeu de Castro Moreira, do Instituto de Física da UFRJ, ex-presidente da SBPC,
que quando precisava defender o investimento público em ciência (como na
comissão de ciência e tecnologia), utilizava uma razão numérica que figurava em
um relatório da Embrapa, cuja informação registrava um retorno de 12 reais a
cada real investido em pesquisa no campo da Agricultura Tropical. Todavia, como
aponta Sousa Neto (2024) - numa citação que mesmo extensa, faz-se imprescindível -, cabe a pergunta: a quem esses números servem?
O agronegócio e a ciência pensam na
língua franca e em razões financeiras desde que ciência e grãos se tornaram commodities.
Por isso podemos dizer que os números talvez não mintam, mas ao certo eles
contam apenas uma versão da história [...] Podemos dizer, por outro lado, que
cada real investido no agronegócio produziu números relativos a milhares de
hectares grilados de indígenas, milhões de mortos por veneno, inúmeras espécies
vegetais e animais em extinção, multidões de famintos. Cada real investido na
ciência para o agronegócio pode ter representado perdas irrecuperáveis,
incalculáveis e inumeráveis para o planeta e a humanidade que ainda o habita. O
que nos mata, portanto é o raciocínio matemático em si e que traz embutido o
seguinte argumento: apliquei 1 e ganhei 12, mais que decupliquei o dinheiro
investido e os lucros obtidos foram incríveis. Aqui as questões poderiam ser várias:
aquele mágico real saiu do bolso de quem? Se foi dinheiro público, com certeza
foi do Estado e se foi do Estado é dinheiro que pertence a todo mundo que
habita o território, inclusive os indígenas que tiveram terras griladas. Depois
podemos perguntar onde foram para os doze reais? E é muito provável que não
tenham retornado ao Estado, porque dentre outras coisas, o agronegócio é
bafejado por múltiplas isenções fiscais e quase não recolhe impostos. Vendo bem
os números, parece que todo mundo, via Estado, financia pesquisas científicas
em instituições públicas, com dinheiro do erário para transferir dólares para
grandes empresas como Bunge e Cargil, que destroem o planeta e disseminam a
barbárie para toda humanidade [...] Alguma coisa deve estar errada em um raciocínio
matemático em que cinco grandes grupos e seus asseclas se beneficiam lucrando
barbaramente, enquanto outros noventa e nove por cento da humanidade tem que
pagar a conta com a própria existência presente e futura (p. 5 – 6).
A
ciência que se preocupa com a humanidade não pode ser feita em razão desse tipo
de especificidade numérica, pois o cálculo lucrativo despreza a vida, mesmo que
essa vida seja o que lhe dê corpo; daí a violência imanente do capital.
A
segunda tendência põe em relevo a condição da terra fictícia apontada acima. Monerato
(2022) aponta que a partir do momento em que a terra funciona como ativo
financeiro, desloca-se dela sua função produtiva e a ela se impõe a lógica e a
função especulativa, o que significa que no jogo do mercado financeiro a terra
nem precisa produzir para dar lucro (renda e juros). Na prática, segue
apontado, houve um deslocamento entre o preço do commodity e o preço da terra
(renda capitalizada) e a terra continuou seu processo de valorização
independente das comodities (mesmo quando as comodities se desvalorizaram a
terra continuou se valorizando – conforme apontado anteriormente a terra atingiu
220% de valorização, mesmo e independente da desvalorização das comodities).
Hoje fundos de pensão de professores da universidade de Harvard compra grandes
extensões de terra, e outros fundos de pensão como o TIAA-CREF, norte
americano, é responsável por fusões e aquisições no ramo da terra no Brasil.
Voltando
a pergunta sobre o que se apresenta para o campo brasileiro (?), cabe outra
questão: como o campo brasileiro pode sobreviver à tais tendências? Nesse
sentido reforço o papel que as ciências humanas e sociais têm de dirimir a
espessa nuvem que nos oblitera a visão da realidade concreta, pois a alienação
serve muito bem tanto ao trabalho expropriado quanto ao capital e à terra
tornados fictícios (pois não comemos nem ações, nem dinheiro).
Notas
1. Texto apresentado na Jornada Universitária
em Defesa da Reforma Agrária – JURA, realizada no dia 06/09/2025 no auditório
da Universidade do Estado da Bahia – UNEB (Campus XII – Guanambi/BA).
2. Recentemente o historiador e político
Jones Manoel deu um bom exemplo da especificidade desse aspecto da produção
material no sistema capitalista, com a seguinte pergunta: se o bilionário dono
de uma fábrica morrer, no outro dia a fábrica abre e continua sua produção; mas
o que acontece se, hipoteticamente, todos os trabalhadores daquela fábrica
morrerem ela não abre no dia seguinte.
3. "As vendas mundiais de agrotóxicos
cresceram de forma significativa nos últimos anos. Se em 2017 foram
comercializados internacionalmente em torno de 44 bilhões de dólares, em
2020 esse montante subiu para 56 bilhões de dólares.14 Paralelamente, o volume
de vendas das doze maiores empresas produtoras de agrotóxicos cresceu 27% entre
2017 e 2020. A Syngenta — companhia suíça adquirida pela ChemChina em 2017 —
desponta como a maior exportadora de agrotóxicos no período, passando de 9
bilhões de dólares em 2017 para mais de 11 bilhões em 2020. Em seguida,
aparecem as alemãs Bayer e Basf e a estadunidense Corteva, que em 2020
arrecadaram, respectivamente, 10 bilhões, 7 bilhões e 6 bilhões de dólares em
exportações. Essas quatro companhias, junto com a indiana UPL e a estadunidense
FMC, detêm cerca de 80% do valor total da comercialização de agrotóxicos no
planeta e venderam em 2020, juntas, mais de 43 bilhões de dólares desses
produtos. As mesmas empresas figuram ainda entre as maiores produtoras e
exportadoras mundiais de sementes: Bayer, Corteva e Syngenta controlam mais de
80% desse mercado, arrecadando 8 bilhões, 7 bilhões e 2,6 bilhões de dólares em
2020, respectivamente. Organizando-se de forma oligopolista, portanto, as
corporações provenientes da Europa, dos Estados Unidos e da China subordinam a
agricultura em escala mundial em todas as suas fases: desde o preparo da terra
para o plantio até a “pós-colheita”. Nesse contexto de notória assimetria entre
o Norte e o Sul globais, a América Latina tem repetido e aprofundado a sina
histórica e violenta instaurada pelos europeus durante a colonização, entre os
séculos XVI e XIX. Nas palavras do economista equatoriano Alberto Acosta, os
países do continente, “amaldiçoados pela abundância”, tornaram-se “exportadores
de natureza”, assumindo um papel desfavorável na ordem econômica
internacional.15 Por isso, o pensador uruguaio Eduardo Galeano define a América
Latina como uma região que 'se especializou em perder'” (Bombardi – Agrotóxicos
colonialismo químico).
4. https://www.cnnbrasil.com.br/politica/liberacao-de-agrotoxicos-bate-recorde-em-2024/.
6. https://plantiodireto.org.br/o-que-o-brasil-ganha-ou-perde-com-a-nova-lei-dos-pesticidas.
8. “Pero sí debemos entender que el modelo de
la gran distribución moderna y la relevancia cada vez mayor del sector
distribución en la economía global implican una nueva forma de articulación en
la forma de captación del valor, que es característica de lo que Arrighi llamó
régimen de acumulación flexible del capital. Y, como decíamos, estas mutaciones
tienen claros ganadores y perdedores: ganan las empresas multinacionales, el
sector distribución y el capital financiero; pierden los pequeños y medianos
comerciantes, los obreros que se encargan del proceso productivo y los
campesinos del Sur global” (Castro, 2017, p. 27).
9. Reafirmando a lógica
especulativo-concentracionista o relatório da Rede Social de Justiça e Direitos
Humanos aponta: “Recente relatório de AidEnvironement sobre os negócios da
Bunge no Piauí demonstra seu controle de aproximadamente 80% da produção de
soja no estado. O estudo revela que a Bunge domina a comercialização e o
armazenamento da soja, com capacidade para armazenar 694,158 toneladas e com
planos de expansão dessa estrutura em uma região que inclui os municípios de
Uruçuí, Bom Jesus, Baixa Grande do Ribeiro, Currais e Santa Filomena”.
Referências
BOMBARDI, L. M. Agrotóxicos e
colonialismo químico. São Paulo: Elefante, 2023.
CASTRO, N. La dictadura de los
supermercados: cómo los grandes distribuidores deciden lo que consumimos.
Madrid – España: Ediciones Akal, 2017.
DAVIS, M. Holocaustos coloniais: a criação
do terceiro mundo. São Paulo: Veneta, 2022.
DUTRA JR, W. Reflexões sobre o "salto mortal" do universal e os limites de sua geografia das "coerções mudas". Texto apresentado na mesa de abertura do X Encontro Baiano de Geografia - com o tema: Rumos da Geografia Baiana frente ao avanço do capital: rupturas e esperanças - e XI Semana de Geografia da UNEB (Caetité/BA), realizada no dia 23/07/2025, no auditório do Departamento de Ciências Humanas - DCH VI, UNEB campus Caetité/BA [texto ainda inédito], 2025.
FREIRES, T. C. A fome como ativo de
mercado. Texto de qualificação de doutorado (Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal de Sergipe - PPGEO/UFS). São Cristóvão, 2025.
MARX, K. O capital: crítica da
economia política. Livro 1. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX, K. A miséria da filosofia.
São Paulo: Boitempo, 2017.
MONERATO, L. R. Terra fictícia:
capital financeiro e renda fundiária. Marília/SP: Lutas Anticapital, 2022.
NETO, M.
F. de S. (2024). Com que números eu vou?. Revista Da ANPEGE, 20(43).
https://doi.org/10.5418/ra2024.v20i43.19349.
REDE
SOCIAL DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS E ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS DE TRABALHADORES
RURAIS, GRAIN. Relatório: INCRA e Poder Judiciário reconhecem fraudes na aquisição
de terras no Brasil por fundos de pensão de TIAA-CREF/ COSAN e Universidade de
Harvard. Dezembro de 2020. Disponível
em: https://www.social.org.br/revistas/revistas-portugues.
Acesso em 10. Agosto de 2025.
REDE SOCIAL DE JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS.
Desmatamento, grilagem de terras e financeirização: Impactos da expansão
do monocultivo da soja no Brasil. Texto: Fábio Pitta, Maria Luisa Mendonça e
Daniela Stefano Pesquisa: Bruno Spadotto, Daniela Stefano, Fábio Pitta e Maria Luisa Mendonça. ISBN:
978-85-99022-08-5. Maio de 2022. Disponível em: https://www.social.org.br/revistas/revistas-portugues.
Acesso em 10. Agosto de 2025.